Leio de tudo. Dos clássicos e acadêmicos até almanaques populares e bulas de remédio. Excluindo revistas em quadrinhos, devoro qualquer tipo de literatura, mesmo aquela vista como dejeto cultural. Certamente já li e escrevi muita coisa, traduzi outras tantas, e meus arquivos estão cheios de traças que vieram das alturas do Himalaia. Este blog, então, vai ser o canal de saberes fragmentados, oficiais e oficiosos, que os Mestres do Imaginário oferecem a nossa indiscrição.
A Verdade
"O místico é literalmente aquele que se cala, que sabe alguma coisa que os outros não sabem. Nós acreditaríamos nele, de resto, mesmo que ele nada tivesse de orfismo ou de eleusianismo: nem toda verdade é boa de se dizer; não se responde a todas as perguntas. Ao menos, não se diz não importa o quê a não importa quem. Há verdades que é preciso manejar com precauções infinitas, através de toda espécie de eufemismos, de astúcias e perífrases. O espírito não se coloca sobre elas, senão que as descrevendo em grandes círculos, como um pássaro. Mas isso é ainda dizer pouco: há um tempo para cada verdade, uma lei de oportunidade que está no princípio da iniciação. Antes é muito cedo; depois é tarde demais. É a verdade que se insere nesta história? Ou a consciência que se desenvolve segundo a duração? Pouco importa nesse instante: o certo é que há toda uma deontologia do verdadeiro que repousa sobre o sentido irracional da ocasião, ou, como nós diríamos de boa vontade, da conjuntura. Não é tudo dizer a verdade, 'toda a verdade', não importa quando, como um bruto: a verdade quer ser graduada; administra-se-a como um elixir poderoso e que pode ser mortal, aumentando a dose a cada dia, para deixar ao espírito tempo de habituar-se."
JANKÉLÉVITCH, V, L'ironie. Paris: Alcan, 1936, p. 40-41, tradução minha.
Maria, Femininos, Imaginário
Santo Expedito
Santo Expedito. Ele, que brilha no escuro à luz de poucas velas hoje, ao me aparecer em meio a essa aura sutil no velário da Igreja do Rosário. Os crentes lá colocam suas velas e saem, vão ter consigo, ou com seus compromissos, seus afazeres. E as velas ficam por lá, em meio a outras velas, orando por eles, lançando por toda a parte suas intermitências douradas que a objetiva captura.
A Mulher de Ló
Quando passei pelo vaso de cimento e seus caprichosos relevos, meio perdido no Parque da Redenção, posicionei a câmera de sorte a capturar o perfil. E na mesma hora ocorreu-me que a imagem poderia muito bem corresponder ao castigo que foi infligido à mulher de Ló, transformada em estátua de sal por ter desafiado as ordem divinas, olhando para trás, curiosa por saber o que acontecera às cidades de Sodoma e Gomorra.
Pelas ruas da cidade eu vi
Pelas ruas da cidade, desdobram-se esses flagrantes de uma espiritualidade que se oferece como produto, no pavimento das calçadas, no meio do caminho de quem tem pressa. E no entanto, nesse ir e vir, a pauta sugere uma interrupção, passos cortados, uma pergunta sem resposta. Pode-se parar e consultar o além que aparece logo ali, e que promete respostas a perguntas das quais tudo depende, ou independe. Quem sabe? Pelas ruas da cidade o mito e a verdade se confundem na ficção que é, afinal, a raiz de toda a realidade. Pelas ruas da cidade, gente perdida que se desencontra, buscadores da verdade que podem encontrá-la numa resposta mágica, mítica, simbólica, cuja realeza se assenta num trono de gesso assentado sobre veludo preto que se ostenta, como pode, no chão da rua. Pelas ruas da cidade, a verdade se oferece à oferta e à procura, despudoradamente, pelas ruas da cidade, assim, nua, crua.
Parapsicologia
Fenômenos psíquicos que parecem escapar às leis conhecidas da
natureza e do comportamento humano, estudados até época recente apenas por
correntes religiosas, metafísicas ou ocultistas, tornaram-se, nos tempos
modernos, objeto de um sistema teórico estruturado.
Parapsicologia é a disciplina que se propõe estudar fenômenos
alheios à normalidade conhecida, ou paranormais. Como seu objeto não pode ser
submetido aos métodos científicos, a parapsicologia é ou tende a se constituir
como um ramo da psicologia. Sua primeira tarefa consiste em demonstrar a
existência de seu objeto e em delimitá-lo rigorosamente. Faz a crítica dos
falsos fenômenos e comprova a autenticidade de outros que, apesar de
apresentarem características perturbadoras, excepcionais ou aberrantes, são
explicáveis por uma função psicológica conhecida. Esses fenômenos são, assim,
incorporados ao âmbito da psicologia geral, como há muito sucedeu com a
hipnose. Outros fenômenos há que se consideram suscetíveis de vir a ser
integrados na psicologia clássica, enquanto relacionados com uma função
psicológica nova ou ainda não conhecida. Num segundo momento, cabe à
parapsicologia destacar as funções psíquicas ligadas a esses fenômenos e
estudá-las experimentalmente, com o objetivo de integrá-las ao sistema da
psicologia científica. Tende, assim, a unir-se à psicologia numa síntese que
seria a futura psicologia completa.
De acordo com a divisão e simbologia consagradas no I Colóquio
Internacional de Parapsicologia, os fenômenos que constituem objeto da
parapsicologia, são: (1) fenômenos que correspondem à percepção
extra-sensorial, PES, ou em inglês, extra-sensory perception,(ESP); e (2)
fenômenos que correspondem à psicocinese, ou função PK. A primeira dessas novas
funções psicológicas, a percepção extra-sensorial, abrange fenômenos de
telepatia, de coincidência entre comportamentos ou estados psicológicos de dois
indivíduos, inexplicável pelo acaso, por uma percepção sensorial ou por um
raciocínio consciente ou inconsciente; e de clarividência, coincidência entre o
estado psicofisiológico de um indivíduo ou seu comportamento e um acontecimento
objetivo, inexplicável pelo acaso, por uma percepção sensorial ou por um
raciocínio consciente ou inconsciente. A segunda função, a da influência
paranormal do psiquismo sobre a matéria, refere-se sobretudo à psicocinese,
coincidência entre o desejo e o pensamento de um indivíduo e um acontecimento
objetivo, inexplicável pelo acaso ou por uma ação mecânica. Essa segunda
função, muito menos estudada que a primeira, é rejeitada por muitos
parapsicólogos.
Métodos. No estudo dos fatos paranormais, a seleção de relatos,
documentos e testemunhos relativos a estes é submetida a rigorosa crítica.
Quanto à experimentação parapsicológica, feita segundo as regras do método
experimental comum a todas as ciências, não pôde ainda ir além da observação
destinada a comprovar uma hipótese. Não foi possível a experimentação entendida
como produção artificial e voluntária do fenômeno, o que, segundo alguns, é suficiente
para que a parapsicologia não possa ser considerada como ciência.
Os métodos usados na evidenciação dos fenômenos paranormais têm
sido o qualitativo e o quantitativo. O primeiro tem base no critério de unidade
e especificidade, e pode ser sintetizado na concepção de Henri Bergson, segundo
a qual a comprovação de um só caso de informação extra-sensorial seria bastante
para demonstrar a existência desse tipo de conhecimento, fosse qual fosse o
número de ilusões e fraudes verificadas desde as origens da humanidade; o
segundo método, quantitativo, estatístico, marca o advento da parapsicologia
moderna.
Existem várias categorias de testes parapsicológicos. Os testes de
Rhine, utilizados na investigação da percepção extra-sensorial, constam
principalmente de maços de 25 cartas com cinco séries de cinco símbolos: cruz,
estrela, quadrado, ondas, círculo (baralho de Zener). Foram depois propostas as
cartas-relógio (clock-cards), que representam um mostrador e um ponteiro que
indica a hora. Esses testes podem ainda ser adaptados ao estudo da precognição
e às experiências de psicocinese, ou ação do espírito sobre a matéria.
História. O interesse pelos fenômenos paranormais é muito antigo,
embora seu estudo, que só foi sistematizado nos tempos modernos, tenha enfrentado
o ceticismo dos meios científicos. Francis Bacon defendia o recurso à pesquisa
experimental na análise dos fenômenos parapsíquicos. No século XVIII, o
racionalismo iluminista relegou ao domínio do ocultismo e da superstição todo
interesse por esses fatos inexplicáveis. Por essa época, Emanuel Swedenborg,
que se pretendia dotado de clarividência, e Franz Anton Mesmer, médico vienense
que formulou a teoria do magnetismo animal devido a um "fluido"
universal e à existência de um sentido "interior", despertaram
importantes movimentos de adesão. Filósofos como Schelling e Schopenhauer
manifestaram sua crença na existência de "faculdades mágicas". No
século XIX, o desenvolvimento das ciências físicas lançou mais uma vez o
descrédito sobre esse tipo de fenômenos invulgares mas, por outro lado, impôs a
pesquisa aprofundada nesse campo.
No decorrer do século XIX e no século XX surgiram várias
sociedades de pesquisa psíquica. Em 1882 foi fundada em Londres a Sociedade de
Pesquisa Psíquica. Em 1919 surgiu na França o Instituto Metapsíquico
Internacional, impulsionado principalmente por Charles Robert Richet, que
estudou um caso célebre nos anais da parapsicologia, a médium Eusapia Paladino.
Nos Países Baixos, realizaram-se em 1920 experiências de telepatia no Instituto
de Psicologia da Universidade de Groningen. A partir da década de 1930 tiveram
início na Duke University, nos Estados Unidos, os trabalhos do laboratório de
parapsicologia de Joseph Banks Rhine. Surgiram outros importantes centros de
pesquisa parapsicológica, como o instituto fundado em 1954 em Friburgo,
Alemanha, e a Associação de Parapsicologia de Nova York.
As teorias interpretativas formuladas para tentar explicar os
fenômenos parapsíquicos não puderam ainda ser demonstradas. A clarividência, a
precognição e outros fenômenos parapsicológicos, embora comprovados com fatos,
continuam a ser totalmente inexplicáveis, sem que se torne possível incluí-los
no quadro geral de uma teoria científica. Não se exclui a hipótese, entretanto,
de que esses fenômenos invulgares venham a ser incorporados ao âmbito do normal
e do natural, desde que para eles se elabore uma teoria explicativa
satisfatória. É inegável no entanto, qualquer que seja a causa dos fatos
paranormais, que eles fazem parte da experiência direta ou indireta de grande
número de pessoas.
Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
Apolo
Sim, é Jesus Menino, só que com gestos de Apolo, identificando-o com o deus pagão. A pregação do cristianismo aos gentios deu-se muito por meios assim. Da mesma sorte, Maria é frequentemente identificada com deusas da fertilidade, da concepção, Maria da Conceição. A imagem é de uma estatueta esculpida em marfim, que pertence ao acervo da Pinacoteca de SP. A foto é minha, naturalmente.
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