Morte

0. Noite
0. Eterna Noite.
0. Dourada Eterna Noite.
1. A negrura do Corpo Dela emerge além das Bordas do Limite dos Sonhos.
2. O Templo refulge em Carmim, Ouro e Púrpura
3. O adocicado perfume penetra o Espaço-Corpo
4. Trêmulo, estendo os braços. Faíscas azuis pulam.
E a Aurora Boreal explode no Santuário.
5. Ergo a Baqueta Consagrada, cujo Diamante lateja em Escarlate
6. O Vermelho e o Branco ungem a Baqueta
7. Do vermelho, do Branco e do TERCEIRO, que ali surge, minha boca
provou.
8. O Céu toca a Terra, e a Terra abre-se em flores.
9. Na Abertura do Sem Fim vejo o Paraíso primitivo.
10. Coroa e Reino unem-se num Lampejo Infinito.
11. Morro!

Euclydes Lacerda de Almeida

Tarô Experimental: A MORTE


Queria fazê-la mais bonita, pois ela não me assusta. Terrível não é a morte que nos entrerra. Terrível é a que se sofre em vida, justamente quando mais queremos viver. Viver por covardia, contudo, é indigno. De todas as contingências às quais estamos expostos em nossa humanidade, acho que nenhuma é mais respeitável que A MORTE. Antônio Vieira desta já disse tudo o que só posso repetir, ao contar que, em certa fase da vida, viveu-a com privilégios de morto: ninguém a quem minha presença faça falta ou minha ausência, saudade.

Tarô Experimental: A Magia

Já falei do FEITIÇO, e agora chegou a vez de mostrar A MAGIA do meu Tarô Experimental. É muito difícil construir um conceito do que vem a ser a magia, uma vez que comumente se pensa que o mágico se opõe ao lógico, quando na verdade se tratam de gnoses complementares. Enquanto a ação de um feitiço pode ser bem identificada e conhecida, porque nos chega pelos sentidos, ou seja, nos vem de fora, o mágico acontece como que por dentro de nós e, em vez de atingir nossos sentidos, transforma-os, aguça-os, altera nossa percepção. O mágico acontece por dentro e é perene, ele integra nossa existência, independente de nossa concepção de mundo. O mágico prescinde das causas. É um efeito sem causa, ou que não se importa com elas. Com isso quero dizer que, enquanto um feitiço fica nos sentidos, simplesmente, e passa sem grandes alterações, muito embora possa fixar-se em nós pela memória, a instância mágica transforma não o mundo, mas nós mesmos, quando passamos, de certo modo, a superar a instância dos sentidos. O mágico é nosso, sempre foi. É uma identidade profunda que se reconhece. O mágico não é aprendido, porque ele sempre foi sabido. Sou eu que me reconheço em toda parte sem precisar estar ali ou aqui. Sou eu que me reconheço em ti. Sou eu sem mim, pois prescinde de ego, nome, designação, e, no entanto, se faz reconhecível em toda sua originalidade essencial, única, irrepetível. Uma gnose mágica do mundo é a grande inquietação de todos os homens que desejam ir mais longe, e não é de estranhar que, para tanto, hajam trilhado caminhos iniciáticos que neutralizem os sentidos. Daí as instâncias de solidão, de mortificação e de isolamento na caverna. Privar-se do mundo para fugir ao engano, dominar os sentidos, mortificar a carne, tantas coisas, tantas idéias, tantos caminhos para significar que não é apreensível. Seja como for, uma procura só é um procura depois de encontrado o seu objeto, e ninguém conhece o grande segredo do que vem a ser o objeto da magia, senão depois que o reencontra. Portanto, é algo que já temos, que sempre tivemos e que ninguém precisa buscar seja onde for nem quando for, uma vez que tempo e espaço, na instância mágica, não fazem o menor sentido.
Representei o mágico como um corpo feito, não de carne, mas de bronze e mergulhado em algo que teria por efeito amortecer a percepção. Usei uma escultura que fotografei na Pinacoteca de São Paulo e uma foto das águas do Arroio Dilúvio aqui de Porto Alegre, num dia em que o vento redesenhava-lhe as águas desse modo repetido, sistemático, sulcando-lhe a superfície até formar esse desenho monótono. Meu Tarô é simples, sem complexidade, e faço uso de imagens que acho que todos podem reconhecer. E depois, no fundo, é indiferente a maneira como se representa a magia, porque a MAGIA simplesmente é, ao mesmo tempo em que pode perfeitamente deixar de ser, pode transformar-se sempre, ainda nunca mude ou se altere em sua originalidade irredutível.

Tarô Experimental: O Amor

Para designar O AMOR no meu Tarô Experimental eu usei um clássico. Fotografei a foto de um quadro famoso que retrata Eros e Psiquê, de Bouguereau, distorci a imagem e a sobrepus a um fundo que é simplesmente água corrente saída de uma torneira no fundo de uma vasilha, com macro. Este controvertido par amoroso vive os efeitos do amor entre criaturas que pertencem a mundos diferentes. Ela é mortal, e ele, um deus, que precisa ocultar tanto seu amor quanto sua identidade, de sorte que ela nunca pode vê-lo como realmente é. A fase mais paradoxal da paixão que aproximou Eros e Psiquê é justamente o que existe aí de mágico, pois eles não se conhecem, encontram-se apenas no escuro e vivem em um palácio fora do mundo, até o instante em que ela, insuflada por suas irmãs invejosas, acende uma lâmpada e descobre que seu amado era ninguém menos que o próprio deus do amor. Nesse instante ele foge, pois a descoberta de sua identidade não poderia ter tido lugar. Sobrevém assim a ruptura que só será superada quando ambos, cada um à sua maneira, conseguirem ultrapassar a fase da dor e do desencanto, da decepção, da perda, tornando-se, não opostos, mas complementares, ambos divinizados pela magia do amor que esse mito de Apuleio, em particular, consagrou.

Tarô Experimental: O Feitiço

Esta carta do meu Tarô Experimental simboliza O FEITIÇO, e por feitiço não quero designar A Magia, que será simbolizada em outra carta. Não. De Feitiço chamo tudo o que nos chega pelos sentidos e que nos encanta ou nos desencanta. É algo concreto que vemos, ouvimos, tocamos, cheiramos e degustamos. É algo que nos desperta a atenção e também é algo que passa, como passa qualquer encanto passageiro. Quem faz uso de feitiços, precisa saber como mantê-los ativos, caso contrário, passam ou provocam efeito contrário. Quem nunca enjoou de algo de que gostava? Quem nunca soube o que é cansar de uma música? Os sentidos não são propriamente confiáveis. Já pensaram nisso?
Agora um pouco da história da imagem que usei para criar esta carta. Bem, foi mesmo um Feitiço testado, e testado por mim, quando vi pela primeira vez esse duende. Ele existe, sim. Está pintado na fachada de uma casa que fica na Avenida São João em São Paulo. Levei um susto quando o vi, e sempre que vou a São Paulo eu visito este lindo duende que marca geograficamente o ponto no qual aquela avenida começa a mudar, no sentido que leva ao chamado Minhocão, onde toma outro aspecto, dizem, mais perigoso e menos bonito.
Pois bem, eu fotografei o duente e o colei assim em outra fachada. Gostei tanto do Feitiço que o levei para dar uma voltinha lá na charmosa e rica Avenida Paulista.
O Feitiço designa o inesperado, o encanto que te prende ou te desencanta ao quebrar-se. É passageiro mas nem por isso menos intenso. Todos sabemos ser feiticeiros, seja cozinhando um prato saboroso, seja usando um perfume que expresse nossos sentimentos, seja mesmo quando usamos uma cor que realce o tom de nossa pele. Feitiço é música, é ambiente, é embriaguez e movimento. Sem feitiço, a vida seria um tédio, muito embora o tédio, em particular, me agrade.

Tarô Experimental: O Sonho

Esta carta do meu Tarô Experimental simboliza o O SONHO, a ilusão, a imaginação, o deixar-se levar pelas fantasias. Uma instância do pensar, sem dúvida, fecunda, que coloca o indivíduo em condições de poder criar. Simboliza também a intuição, algo tipicamente feminino.

Tarô Experimental: O Livro


Comentei com alguns leitores deste Blog que estou criando um jogo de lâminas que chamo de meu Tarô Experimental. São fotografias (adoro fotografar) que eu recombino com transparências e sobreposições. Queria mesmo desenhar e pintar cada uma das cartas individualmente, mas... cadê tempo pra isso? Acho que vai ficar alguma coisa assim, como esta carta à qual batizei de O LIVRO. O mais divertido é que o fundo é uma vista do Guaíba tomada por celular, e a forma, o recorte do vitral da porta de uma igreja do interior de São Paulo. Depois de recompor, ainda entra regular tamanho, margens e dar nome.

Criar os sentidos não será difícil também, afinal, olhando-se esta carta, O LIVRO, pensa-se logo no destino, no que está escrito, no que é aberto, claro e verificável.
Falta muito ainda, especialmente acertar detalhes e dar unidade ao conjunto, experimentar métodos de impressão (fica lindo tipo foto em papel opaco). Fiz questão também de criar algo sem compromisso com nenhum Tarô Tradicional, seja em matéria de imagens, seja mesmo em número de lâminas. O que sei é haverá O LIVRO, O HOMEM, A MULHER, A MORTE, O IMPONDERÁVEL, O SÁBIO, O TEMPLO, A ESPERANÇA, A FORÇA, O AMOR, A DESCOBERTA, A PASSAGEM... E o que mais me der vontade de fazer. Vou mostrar aos poucos aqui, afinal, sei que há leitores que gostaram da idéia, e isso faz muita diferença, porque estimula a gente a prosseguir, apesar das tais das ocupações "profanas".

ARCANO II




A divinação que inspira a SACERDOTISA aplica-se ao discernimento da realidade que se dissimula por detrás da cortina das aparências sensíveis. Para o intuitivo, favorito de Ísis, os fenômenos são uma fachada reveladora que, fixando a visão fisiológica, provoca a visão do espírito.


INTERPRETAÇÕES DIVINATÓRIAS


GEBURAH, rigor, severidade; PEC'HAD, punição, temor; DIN, julgamento, vontade de retém ou governa a Vida dada. Consciência, dever, Lei moral, inibição, restrição, porque é preciso abster-se de fazer o mal, antes de consagrar-se ativamente às obras do bem.
Sacerdócio, ciência religiosa, metafísica, Cabala, ensinamento, Saber (oposto a Poder), autoridade, certeza, segurança, ausência de dúvida, influência sugestiva exercida sobre o sentimento e o pensamento de outrem. Afabilidade, benevolência, bondade, generosidade judiciosa.
Um diretor de consciência, médico da alma, conselhos morais, personagem sentencioso. Pontífice absoluto em suas opiniões. Função que confere prestígio. Influência jupteriana em bem e em mal.
Tomado em mau aspecto: imoralidade, porque os defeitos se substituem às qualidades, quando um arcano se torna negativo.
Oswal Wirth
A imagem foi uma contribuição de Magus Incognitus.

Hermafrodita

O mercúrio dos filósofos tem um duplo sentido: feminino por ser branco e líquido, ao mesmo tempo que um metal seco, masculino. Simbolizando a união dos contrários, o mercúrio (aliás o HERMES) é hermafrodita.
AUGRAS, Monique. A dimensão simbólica, Fundação Getúlio Vargas, 1967, p.83.

Retrato de Mestre

Contribuição do Ir.'. Bruno Calmon C. Sampaio. O retrato que aparece aqui ele nos conta ser de avô, a quem fez presente desta tela que compartilha conosco.

Deus

"Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude. (...) Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. (...) Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que eu não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais."
CLARICE LISPECTOR. "Deus", em 10/02/1968 em A Descoberta do Mundo.

Teurgia


A teurgia é a base de toda via iniciática. É a arte de fazer apelo às essências ou forças que emanam do plano mental e divino, como os anjos, os santos, o Cristo ou outras egrégoras celestes de luz por meio de preces, ritos, rituais e de objetos simbólicos e consagrados. Ela sozinha pode esclarecer o Livro do Homem e torná-lo acessível à compreensão humana.MARCOTOUNE, Serge. « La voie initiatique », p. 68
Contribuição para este blog

Hino a Isis

Porque sou eu a primeira e a última
Eu sou a venerada e a desprezada
Eu sou a prostituta e a santa
Eu sou a esposa e a virgem
Eu sou a mãe e a filha
Eu sou os braços da minha mãe
Eu sou estéril, e os meus filhos são numerosos
Eu sou a bem casada e a solteira
Eu sou a que dá à luz e a que jamais procriou
Eu sou a consolação das dores de parto
Eu sou a esposa e o esposo
E foi o meu homem quem me criou
Eu sou a mãe do meu pai
Sou a irmã do meu marido
E ele é meu filho rejeitado
Respeitem-me sempre
Porque eu sou a escandalosa e a magnífica

Hino a Ísis, século III ou IV (?), descoberto em Nag Hammadi
Contribuição recebida hoje.

Imagens

Tenho recebido textos e imagens maravilhosas, quase todos os dias, enviadas por um seguidor deste blog que muito me honra com sua atenção. Algumas são de uma beleza inexcedível dentro do contexto simbólico. Esta, em especial, eu gostaria de destacar hoje.