Já falei do FEITIÇO, e agora chegou a vez de mostrar A MAGIA do meu Tarô Experimental. É muito difícil construir um conceito do que vem a ser a magia, uma vez que comumente se pensa que o mágico se opõe ao lógico, quando na verdade se tratam de gnoses complementares. Enquanto a ação de um feitiço pode ser bem identificada e conhecida, porque nos chega pelos sentidos, ou seja, nos vem de fora, o mágico acontece como que por dentro de nós e, em vez de atingir nossos sentidos, transforma-os, aguça-os, altera nossa percepção. O mágico acontece por dentro e é perene, ele integra nossa existência, independente de nossa concepção de mundo. O mágico prescinde das causas. É um efeito sem causa, ou que não se importa com elas. Com isso quero dizer que, enquanto um feitiço fica nos sentidos, simplesmente, e passa sem grandes alterações, muito embora possa fixar-se em nós pela memória, a instância mágica transforma não o mundo, mas nós mesmos, quando passamos, de certo modo, a superar a instância dos sentidos. O mágico é nosso, sempre foi. É uma identidade profunda que se reconhece. O mágico não é aprendido, porque ele sempre foi sabido. Sou eu que me reconheço em toda parte sem precisar estar ali ou aqui. Sou eu que me reconheço em ti. Sou eu sem mim, pois prescinde de ego, nome, designação, e, no entanto, se faz reconhecível em toda sua originalidade essencial, única, irrepetível. Uma gnose mágica do mundo é a grande inquietação de todos os homens que desejam ir mais longe, e não é de estranhar que, para tanto, hajam trilhado caminhos iniciáticos que neutralizem os sentidos. Daí as instâncias de solidão, de mortificação e de isolamento na caverna. Privar-se do mundo para fugir ao engano, dominar os sentidos, mortificar a carne, tantas coisas, tantas idéias, tantos caminhos para significar que não é apreensível. Seja como for, uma procura só é um procura depois de encontrado o seu objeto, e ninguém conhece o grande segredo do que vem a ser o objeto da magia, senão depois que o reencontra. Portanto, é algo que já temos, que sempre tivemos e que ninguém precisa buscar seja onde for nem quando for, uma vez que tempo e espaço, na instância mágica, não fazem o menor sentido.
Representei o mágico como um corpo feito, não de carne, mas de bronze e mergulhado em algo que teria por efeito amortecer a percepção. Usei uma escultura que fotografei na Pinacoteca de São Paulo e uma foto das águas do Arroio Dilúvio aqui de Porto Alegre, num dia em que o vento redesenhava-lhe as águas desse modo repetido, sistemático, sulcando-lhe a superfície até formar esse desenho monótono. Meu Tarô é simples, sem complexidade, e faço uso de imagens que acho que todos podem reconhecer. E depois, no fundo, é indiferente a maneira como se representa a magia, porque a MAGIA simplesmente é, ao mesmo tempo em que pode perfeitamente deixar de ser, pode transformar-se sempre, ainda nunca mude ou se altere em sua originalidade irredutível.