Leio de tudo. Dos clássicos e acadêmicos até almanaques populares e bulas de remédio. Excluindo revistas em quadrinhos, devoro qualquer tipo de literatura, mesmo aquela vista como dejeto cultural. Certamente já li e escrevi muita coisa, traduzi outras tantas, e meus arquivos estão cheios de traças que vieram das alturas do Himalaia. Este blog, então, vai ser o canal de saberes fragmentados, oficiais e oficiosos, que os Mestres do Imaginário oferecem a nossa indiscrição.
Tarô Experimental: O Amor
Para designar O AMOR no meu Tarô Experimental eu usei um clássico. Fotografei a foto de um quadro famoso que retrata Eros e Psiquê, de Bouguereau, distorci a imagem e a sobrepus a um fundo que é simplesmente água corrente saída de uma torneira no fundo de uma vasilha, com macro. Este controvertido par amoroso vive os efeitos do amor entre criaturas que pertencem a mundos diferentes. Ela é mortal, e ele, um deus, que precisa ocultar tanto seu amor quanto sua identidade, de sorte que ela nunca pode vê-lo como realmente é. A fase mais paradoxal da paixão que aproximou Eros e Psiquê é justamente o que existe aí de mágico, pois eles não se conhecem, encontram-se apenas no escuro e vivem em um palácio fora do mundo, até o instante em que ela, insuflada por suas irmãs invejosas, acende uma lâmpada e descobre que seu amado era ninguém menos que o próprio deus do amor. Nesse instante ele foge, pois a descoberta de sua identidade não poderia ter tido lugar. Sobrevém assim a ruptura que só será superada quando ambos, cada um à sua maneira, conseguirem ultrapassar a fase da dor e do desencanto, da decepção, da perda, tornando-se, não opostos, mas complementares, ambos divinizados pela magia do amor que esse mito de Apuleio, em particular, consagrou.