Quando imaginei esta carta, mergulhando uma escultura nas águas do Arroio Dilúvio, pensei nas pontes que precisamos cruzar, nem sempre firmes, nem sempre nos indicando com segurança a outra margem, e muitas vezes implicando no risco de ficarmos presos entre duas escolhas, sujeitos a nos tornarmos como estátuas, cristalizados em nossa recusa de correr os riscos implicados em cada travessia. Mudar, porém, é circunstancial, porque nossa identidade interior, esse eu intuitivo que nos faz reconhecer a nós mesmos, este sempre estará conosco, ainda que por vezes seja doloroso perceber que estamos sujeitos à instabilidade de uma natureza cambiante. Mudar é inevitável. O que importa é nos reconhecermos a cada passagem. Perder-se até dos outros, sim, mas não de si.
Esta carta serve para sugerir o estado de indecisão que nos paralisa diante de uma escolha, que identifico com a passagem de uma margem a outra, de um estado para outro, como a ponte ao fundo.