Joseph Paul Oswald Wirth

Joseph Paul Oswald Wirth nasceu a 5 de agosto de 1860, segundo algumas fontes, ou 1865 segundo outras, às 9 horas da manhã, em Brienz, um pequeno burgo suíço de apenas 2.500 habitantes situado às margens do lago de mesmo nome. Eram três irmãos. Dois morreram ainda jovens. Elisa, no entanto, nascida anos depois de Oswald, foi sua companheira mais constante da juventude à morte.
Wirth sempre foi modesto e frequentemente dizia tudo dever a Stanislas de Guaita, místico pertencente à nobreza, muito famoso, que ele conheceu em 1887 e de quem foi secretário. Sobre isso escreveu que: “Estabelecer relações com Stanislas de Guaita foi, para mim, um acontecimento capital. Ele fez de mim seu amigo, seu secretário e seu colaborador. Sua biblioteca ficou ao meu dispor e, beneficiando-me de sua conversação, tive nele um professor de Qabbala e de alta metafísica, tanto quanto de francês. Guaita deu-se ao trabalho de formar-me o estilo, de desbastar-me literariamente. Devo a ele o fato de escrever legivelmente”. Eis aí a dedicatória aposta por Wirth em Le tarot des imagiers du moyen âge, uma de suas obras mais conhecidas.
Mesmo que pudéssemos facilmente nos convencer do fato de Guaita haver ensinado a Oswald Wirth a arte de escrever bem, é inegável que o discípulo igualou, — se não ultrapassou mesmo, — o mestre, ao menos no domínio do simbolismo, sobretudo nessa obra Le tarot des imagiers du moyen-âge, onde retoma o estudo dos arcanos maiores que ele havia desenhado para Guaita. Contudo, de modo geral, Wirth sempre se mostrou bem mais interessado pela Franco-Maçonaria do que pela Rosa-Cruz, ao contrário de seu mestre.
Espírito poderoso, Wirth é considerado um dos mais completos teóricos do simbolismo que já existiram. Com Stanislas de Guaita, analisou o magnetismo em “L’Impositiom des Mains” (A imposição das mãos), o Tarô em “Le Tarot des Imagiers du Moyen Age” (O tarô no imaginário medieval), a astrologia, o hermetismo, o ocultismo sob as suas diversas formas em outras obras, assim como na longa série de seus estudos publicados na revista “Le Symbolisme” (O Simbolismo) e estudou, com o mesmo espírito, o esoterismo da “Serpente Verde” de Goethe e do mito babilônico de “Ishtar”.
É sua obra maçônica, no entanto, a que merece maior admiração e atenção. Iniciado em 1892, ele reagiu corajosamente, desde a sua juventude, contra o abandono lamentável do simbolismo. Sua oficina foi a Loja “Trabalho e Verdadeiros Amigos Fiéis” e, de acordo com suas próprias palavras, foi esta também a “sua Loja de eleição” no seio da Grande Loja de França.
Sua primeira obra, “Le Livre de L’Apprenti” é uma autentica obra prima na parte dedicada à história da maçonaria, bem como surpreendente na abordagem simbólica. Este livro, porém, provocou escândalo e atraiu-lhe a hostilidade rancorosa do Grande Colégio dos Ritos do Grande Oriente de França que alertou as Lojas contra ele por meio de circular confidencial. Mesmo assim, Wirth persistiu e não deixou de publicar o “Livre du Compagnon” e o “Livre du Maître”, depois o “L’Idéal Initiatic” e o admirável “Mystères de L’Art Royal”.
Ao lado de admiradores sem reservas, Wirth encontrou críticos que o condenaram porque ele teria “usado o caráter equívoco dos símbolos para dissimular um pensamento mais profundo sobre o qual não se explica”. Não é de admirar que talvez tenha sido essa a razão pela qual a obra de Wirth não penetrou nas maçonarias anglo-saxônicas, onde o seu nome é pouco conhecido.
Finalmente, não é contestável que ele interprete a mitologia da maneira mais subjetiva, sem levar em conta os dados da arqueologia científica. Mas, em matéria de simbolismo, não se pode exigir objetividade, pois os símbolos são mesmo máquinas de imaginar, atuando como inspiração e sugestão. Sejam quais forem as críticas, Oswald Wirth é não somente um grande iniciado, mas também um grande escritor, cuja linguagem clara e clássica lembra a de seu contemporâneo Anatole France.
Seu “Franc-Maçonnerie Rendue Intelligible à ses Adeptes” (A Franco-Maçonaria Tornada Inteligível a seus Adeptos) (I. Livro do Aprendiz. II. Livro do Companheiro. III. Livro do Mestre) foi reeditado em 1962-63 por “Le Symbolisme” com um excelente prefácio de Marius Lepage. Obtive estas três obras, com grande dificuldade, quase ao final do ano de 2004. Trata-se justamente da última edição francesa.
Oswald Wirth morreu a 9 de março de 1943, às 11 horas, e foi sepultado em Monterre-sur-Blourde, ao sul de Poitie. Deixou uma última carta que, tenho certeza, foi escrita com toda a honestidade e sinceridade da qual pode ser capaz um adepto da Arte Real.
Fonte: Alec Mellor. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco Maçons. SP, Martins Fontes, 1989, p. 350.