“Para mim, é suficiente,
senhores, deixar-vos entrever minha profunda convicção sobre o perigo do
iluminismo e do amor ao maravilhoso inerente à nossa natureza, e sobre as
consequências não menos perigosas dessa tendência, por assim dizer, instintiva,
do espírito humano, que chega a dar, aos fatos mais justificáveis pela explicação
científica das coisas da vida, um cunho sobrenatural.
Eu vos falei inicialmente da
América, que parece ser hoje o país preferido de todas as extravagâncias do
espírito humano. É lá que parece se concentrar, como núcleo de predileção, o
amor ao sobrenaturalismo. Disso
sabemos alguma coisa pela epidemia que, a partir desse país, se difundiu para o
mundo inteiro e que, entre muitos indivíduos, suscitou, na esfera do sistema
nervoso, manifestações próprias a aterrorizar nossos novos Prometeu. Ainda uma
vez, a razão humana nada tem a ganhar com esse modo de interpretar os fatos e
de buscar a origem deles. A verdade não nos entrega seus segredos nem pela
violência nem pela impostura. Se o mundo e as maravilhas que ele encerra são
entregues às nossas investigações, nós não chegaremos a compreender tantos
fenômenos, a interpretar as leis que o próprio Deus lhes impõe, senão que sob a
condição de proceder com calma, maturidade e reflexão. Os progressos do
espírito humano dependem da observação metódica dos fatos de ordem científica.
Qualquer outro proceder nos expõe corpo e alma à influências da impostura, e ,
em lugar da verdade que eleva o espírito, que o fecunda e vivifica, não nos
entrega senão fantasmas que fazem retroagir a razão e alucinam as
inteligências.”
MOREL, Bénédict Augustin. SWEDENBORG : SA VIE, SES ÉCRITS, LEUR INFLUENCE SUR SON SIÈCLE, ou COUP
D OEIL SUR LE DÉLIRE RELIGIEUX. Paris : Imprimerie de Alfred Péron,
1859.