Leio de tudo. Dos clássicos e acadêmicos até almanaques populares e bulas de remédio. Excluindo revistas em quadrinhos, devoro qualquer tipo de literatura, mesmo aquela vista como dejeto cultural. Certamente já li e escrevi muita coisa, traduzi outras tantas, e meus arquivos estão cheios de traças que vieram das alturas do Himalaia. Este blog, então, vai ser o canal de saberes fragmentados, oficiais e oficiosos, que os Mestres do Imaginário oferecem a nossa indiscrição.
Dia das Bruxas?
Não, definitivamente. Bruxa que é bruxa não se institucionaliza. Não tem calendário, e funciona do meio-dia à meia-noite, do Oriente ao Ocidente, ao N. S. L. e O, todo dia santo e todo santo dia. Todo dia é dia de bruxa e de bruxaria.
Oração
Eu sei, Senhor, que não mereço nada
mas ponho em tuas mãos humildemente
meu coração que sofre. E, resignada,
minh’alma guarda, confiante e crente.
Quando eu chegar ao termo da jornada
em que a Morte, emboscada, espera a gente,
tem pena de minh’alma amargurada,
vê que eu também sou filho – e sê clemente.
Perdoa-me, meu Deus, se eu sou culpado,
se tanto crime fiz, tanto pecado,
que hoje choro contrito, - e dá, Senhor,
que no coro glorioso, que te exalta,
no céu profundo, não se sinta a falta
de minha voz cantando o teu louvor.
Medeiros e Albuquerque ( 1867 - 1934)
mas ponho em tuas mãos humildemente
meu coração que sofre. E, resignada,
minh’alma guarda, confiante e crente.
Quando eu chegar ao termo da jornada
em que a Morte, emboscada, espera a gente,
tem pena de minh’alma amargurada,
vê que eu também sou filho – e sê clemente.
Perdoa-me, meu Deus, se eu sou culpado,
se tanto crime fiz, tanto pecado,
que hoje choro contrito, - e dá, Senhor,
que no coro glorioso, que te exalta,
no céu profundo, não se sinta a falta
de minha voz cantando o teu louvor.
Medeiros e Albuquerque ( 1867 - 1934)
O Elefante do Marajá
O discípulo partiu muito contente. Em seu caminho, encontrou o elefante do Marajá. Não se afastou do caminho, pensando: "Se sou o Atman e o elefante também é, ele me reconhecerá," Mesmo quando o condutor do elefante gritou para que ele se afastasse, não lhe deu ouvido, de sorte que o elefante golpeou-o com a tromba jogando-o a vários metros de distância. Todo machucado foi procurar no dia seguinte o Mestre e lhe disse : "— Você disse que o elefante e eu éramos Atman, e veja que ele me fez. O Mestre, sem perder a calma, indagou: "— E o que lhe disse o condutor do elefante? — Que me afastasse do caminho. — Você deveria ter seguido seu conselho, disse o Mestre, porque o guia do elefante também é o Atman. . ."— Ah, os hindus têm respostas para tudo. Sabem muito! E Jung riu-se com vontade, alegremente. — Vivem nos símbolos, disse eu; estão penetrados, compenetrados neles, mas não os interpretam nem apreciam quando alguém o faz, pois isso seria de certa forma destruí-los... O senhor interpreta os símbolos... Não me surpreendo pois que sua obra não seja mais amplamente conhecida e discutida na Índia, apesar de sua grande dedicação à cultura hindu e ao Oriente em geral. . .
SERRANO, Miguel. O Círculo Hermético Hermann Hesse a C. J. Jung. Fonte digital Scribd.
SERRANO, Miguel. O Círculo Hermético Hermann Hesse a C. J. Jung. Fonte digital Scribd.
O Significado do Sexo
É evidente que o significado que deve atribuir-se ao sexo depende não só do modo como, em geral, se concebe a natureza humana, mas também da antropologia particular que se adota. O caráter desta antropologia não poderia deixar de refletir-se sobre o próprio conceito do sexo. Assim, o significado que pode apresentar a sexualidade, do ponto de vista duma antropologia que reconhece ao homem a dignidade dum ser não exclusivamente natural, será, por exemplo, necessariamente oposta àquele atribuído por uma antropologia que o considera como uma das numerosas espécies animais, numa época em que — como disse H. L. Philp — pareceu conveniente escrever Seleção Natural com maiúsculas, tal como se fazia outrora com o nome de Deus. O enquadramento da sexologia ressente-se, num período mais recente e até nos atuais tratados com pretensões «científicas», da herança do materialismo do século XIX, que teve por premissas o darwinismo e o biologismo, ou seja, uma imagem completamente deformada e mutilada do homem. Do mesmo modo que, segundo estas teorias, o homem teria derivado do animal por «evolução natural», também a sua vida sexual e erótica era exposta em termos de um prolongamento dos instintos animais, e explicada, no seu fundo último e positivo, pelas finalidades puramente biológicas da espécie. Assim, afirmou-se também neste domínio a tendência moderna de reduzir o superior ao inferior, de explicar o superior pelo inferior — no caso presente, o humano pelo fisiológico e animal.
EVOLA, Julius. A Metafísica do sexo, Edições Afrodite.
EVOLA, Julius. A Metafísica do sexo, Edições Afrodite.
O Alcance do Mito
Como o de Osíris, o corpo de Hiram sofreu mutilações. Em seu falso racionalismo, os Companheiros amputaram-lhe os membros; outros, por sectarismo, enxertaram estranhos apêndices aos organismo normal do Mestre. Convém restituir aqueles que os primeiros arrancaram, desembaraçando das adjunções heteróclitas dos segundos o corpo do Mestre que vai ressuscitar. Distinguir o que é maçônico daquilo que não é – tal deve ser o cuidado dos expertos encarregados de encontrar o cadáver de Hiram. Eles se dirigem para o Ocidente, Oriente e Meio-Dia, concordando em se reunir ao Norte. Isso quer dizer que se informam por tudo o que é universalmente tradicional, fazendo abstração das fantasias locais e não retendo senão aquilo que é incontestavelmente iniciático. Uma ciência positiva não é seu guia; também eles erram muito tempo antes de encontrar indícios satisfatórios. Finalmente, um deles deita vistas sobre um ramo de Acácia.
Para se chegar a compreender o alcance do mito maçônico, é necessário lembrar que a planta de que se trata aqui aparece como a única em meio às areias desérticas. Trata-se de um arbusto espinhoso entre os Orientais que vêem nele um emblema da imortalidade. Em Maçonaria, os adeptos que se gabam de conhecer a Acácia, têm-se como iniciados nos mistérios do terceiro grau da Arte Real. Uma particular importância liga-se, então, ao ramo verde que sinala a terra sob a qual se descobrirá o corpo de Hiram.
O.W.
Para se chegar a compreender o alcance do mito maçônico, é necessário lembrar que a planta de que se trata aqui aparece como a única em meio às areias desérticas. Trata-se de um arbusto espinhoso entre os Orientais que vêem nele um emblema da imortalidade. Em Maçonaria, os adeptos que se gabam de conhecer a Acácia, têm-se como iniciados nos mistérios do terceiro grau da Arte Real. Uma particular importância liga-se, então, ao ramo verde que sinala a terra sob a qual se descobrirá o corpo de Hiram.
O.W.
Tarô Experimental: O Imponderável
O imponderável é a carta onde simbolizo o que não se espera. As surpresas, as coisas que nunca prevíramos pudessem ocorrer, sejam boas, sejam más. O Imponderável é a fração misteriosa da vida, que desafia sua mecânica, suas regras, tanto quanto nossos desejos e nossas previsões. O imponderável é o que sequer pode ser sentido, porque responde ao que não está ao nosso alcance determinar. Todavia, como já escrevi aqui mesmo há algum tempo, o imponderável muitas vezes nos reserva imensas alegrias. Não podemos prevê-lo, nem sequer provocá-lo, mas podemos reconhecê-lo quando nos vem. A própria vida é feita de imponderáveis.
O Prazer em Perspectiva. A Esperança
A esperança é filha do desejo, mas não é o desejo. Ela constitui uma aptidão mental que nos faz acreditar na realização de um desejo. Pode-se desejar uma coisa sem esperá-la. Todo mundo deseja a fortuna, poucos a esperam. Os sábios desejam descobrir a causa primeira dos fenômenos, mas eles não têm nenhuma esperança de chegar a tanto.
O desejo aproxima-se às vezes da esperança a ponto de confundir-se com ela. Na roleta, desejo e espero ganhar.
A esperança é uma forma de prazer em expectativa que, em sua fase atual de espera, se constitui em uma satisfação frequentemente maior que aquela produzida pela realização.
A razão disso é evidente. O prazer realizado é limitado em quantidade e em duração, enquanto nada limita a grandeza do sonho criado pela esperança. O poder e o encanto da esperança é conter todas as possibilidades de prazer.
Ela se constitui em uma espécie de varinha mágica que transforma todas as coisas. Os reformadores não fazem outra coisa que não seja substituir uma esperança por outra.
LE BON, Gustave. Les Opinions et les Croyances, Flammarion, Paris, 1911, p. 23.
O desejo aproxima-se às vezes da esperança a ponto de confundir-se com ela. Na roleta, desejo e espero ganhar.
A esperança é uma forma de prazer em expectativa que, em sua fase atual de espera, se constitui em uma satisfação frequentemente maior que aquela produzida pela realização.
A razão disso é evidente. O prazer realizado é limitado em quantidade e em duração, enquanto nada limita a grandeza do sonho criado pela esperança. O poder e o encanto da esperança é conter todas as possibilidades de prazer.
Ela se constitui em uma espécie de varinha mágica que transforma todas as coisas. Os reformadores não fazem outra coisa que não seja substituir uma esperança por outra.
LE BON, Gustave. Les Opinions et les Croyances, Flammarion, Paris, 1911, p. 23.
Tarô Experimental: A Passagem
Quando imaginei esta carta, mergulhando uma escultura nas águas do Arroio Dilúvio, pensei nas pontes que precisamos cruzar, nem sempre firmes, nem sempre nos indicando com segurança a outra margem, e muitas vezes implicando no risco de ficarmos presos entre duas escolhas, sujeitos a nos tornarmos como estátuas, cristalizados em nossa recusa de correr os riscos implicados em cada travessia. Mudar, porém, é circunstancial, porque nossa identidade interior, esse eu intuitivo que nos faz reconhecer a nós mesmos, este sempre estará conosco, ainda que por vezes seja doloroso perceber que estamos sujeitos à instabilidade de uma natureza cambiante. Mudar é inevitável. O que importa é nos reconhecermos a cada passagem. Perder-se até dos outros, sim, mas não de si.
Esta carta serve para sugerir o estado de indecisão que nos paralisa diante de uma escolha, que identifico com a passagem de uma margem a outra, de um estado para outro, como a ponte ao fundo.
Esta carta serve para sugerir o estado de indecisão que nos paralisa diante de uma escolha, que identifico com a passagem de uma margem a outra, de um estado para outro, como a ponte ao fundo.
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