O símbolo da sexualidade tem no Zohar um caráter particular e sua origem está, ao que parece, no Cântico dos Cânticos ou na gnose paga relativa aos êons masculino e feminino, potências divinas que “constituem o mundo do pleroma”, isto é, a plenitude de Deus. A união de Deus com a Shekinah (símbolo feminino) surge aos olhos dos cabalistas como a unidade verdadeira, perfeita, de Deus, o Iúd. Segundo o Zohar, a separação do “Rei” (Tiferet) e da “Rainha” (Shekinah) é suscetível de provocar o sofrimento e a discórdia, ao passo que sua união exprime a harmonia no mundo. Observemos que a mística não judaica, que glorificou o ascetismo, não hesitou às vezes em introduzir o erotismo nas relações do homem com a Divindade. Os cabalistas, que estenderam o símbolo sexual além de tudo que se possa imaginar, consideram-no como um mistério, ou melhor, como um objeto sagrado do qual decorre, já o dissemos em outra parte, a obra inteira do universo. Pregaram amiúde a castidade nas relações físicas, fazendo alusão a José. Aos seus olhos, o casamento não é uma concessão à “fragilidade da carne” mas ao sagrado mistério da harmonia. O Zohar admite que o homem depende das influências cósmicas — idéia que encontramos em Aristóteles. Atribui aos planetas uma relação misteriosa com os órgãos do corpo humano: Saturno com o baço, Júpiter com o fígado, Marte com a bílis. O excesso dessas influências gera três pecados (o adultério, a idolatria e o assassínio) e tem, segundo o Talmude, uma importância funesta.
Henri Sérouya, A Cabala. Coleção Que sais-je? ― no. 1105