Leio de tudo. Dos clássicos e acadêmicos até almanaques populares e bulas de remédio. Excluindo revistas em quadrinhos, devoro qualquer tipo de literatura, mesmo aquela vista como dejeto cultural. Certamente já li e escrevi muita coisa, traduzi outras tantas, e meus arquivos estão cheios de traças que vieram das alturas do Himalaia. Este blog, então, vai ser o canal de saberes fragmentados, oficiais e oficiosos, que os Mestres do Imaginário oferecem a nossa indiscrição.
Os Muitos Sentidos da Transgressão e do Pecado
Muito a seu modo, filósofos, artistas e poetas definiram e conceituaram aquilo que depois foi, pouco a pouco, reivindicado por legisladores, cientistas e demais corporações do saber preocupadas em tornar formalmente explícitas certas situações onde a transgressão social parecia merecer castigos e punições. Afora a contribuição formal e bastante específica dos legisladores, que começam mesmo como representantes da divindade, editando proibições e limites, ao mesmo tempo em que estabelecendo penas, houve a voz do artista, a voz do filósofo e a voz do poeta, plano de fundo que realçam as formas onde quase sempre acontecia especial destaque para o crime e para o criminoso, enfim, para o transgressor. Encontramos, e podemos mesmo identificar com certa facilidade ao longo da história, um nítido espírito de denúncia que nos aponta este transgressor, inserindo-o num cenário muitas vezes dramático. Não é incomum o destaque dado ao herói antigo, — que muitas vezes desafia a lei positiva dos homens, — mas que encarna, todavia, o espírito de justiça, apontando um desajuste ou descompasso entre os planos formal e ideal que é denunciado na obra.