"Tirante o pó doméstico, que se aproveita das ausências das famílias para docemente se pôr a embaciar a superfície dos móveis, diga-se a propósito que
são essas as únicas ocasiões que ele tem parar e descansar, sem agitações de
espanador ou de aspirador, sem correrias de crianças que desencadeiam
turbilhões atmosféricos à passagem, a casa estava limpa, e desarrumação era só a esperada quando se teve de sair precipitadamente."
Saramago, Ensaio sobre a cegueira.
Leio de tudo. Dos clássicos e acadêmicos até almanaques populares e bulas de remédio. Excluindo revistas em quadrinhos, devoro qualquer tipo de literatura, mesmo aquela vista como dejeto cultural. Certamente já li e escrevi muita coisa, traduzi outras tantas, e meus arquivos estão cheios de traças que vieram das alturas do Himalaia. Este blog, então, vai ser o canal de saberes fragmentados, oficiais e oficiosos, que os Mestres do Imaginário oferecem a nossa indiscrição.
O sentido da falta de sentido
"Eu
estava vendo o que só teria sentido mais tarde - quero dizer,
só mais tarde teria uma profunda falta de sentido. Só depois é
que eu ia entender: o que parece falta de sentido - é o sentido. Todo
momento de “falta de sentido” é exatamente a assustadora certeza
de que ali há o sentido, e que não somente eu não alcanço, como
não quero porque não tenho garantias. A falta de sentido só iria
me assaltar mais tarde. Tomar consciência da falta de um sentido
teria sido sempre o meu modo negativo de sentir o sentido? Fora
a minha participação."
Clarice Lispector, em A paixão segundo GH
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