Queridos Irmãos,
Uma vez cumprido vosso período de aprendizagem, vós fostes julgados capazes de colaborar utilmente para a Grande Obra da Construção universal.
Eis que fostes admitidos dentre o número de Obreiros que sabem trabalhar: uma obra pode doravante vos ser confiada; vós não faltareis em executá-la fielmente, segundo todas as regras de nossa Arte.
Mas, para que sejais dignos da confiança que vos foi testemunhada, é indispensável que vos torneis verdadeiros Companheiros.
Não é suficiente, com efeito, — para possuir efetivamente um grau maçônico, — havê-lo recebido ritualisticamente.
Nossas cerimônias não têm nenhuma virtude sacramental, e nenhuma consagração tem o poder de fazer um Maçom, porque, em toda iniciação efetiva, o iniciado se faz a si mesmo. Os ritos iniciáticos não têm outro papel a não ser aquele de traçar um programa.
É assim que as provas do grau de Aprendiz deveram incitar-vos a vos transformar interiormente, de maneira a realizar o ideal do Iniciado de primeiro grau.
Se vós houverdes compreendido todo o alcance das formalidades que sofrestes para receber a luz, vós a possuís, efetivamente, e, por este fato, fostes iniciados — implicitamente, é verdade — em todos os segredos da Franco-Maçonaria.
Procedendo sempre por síntese, nossa instituição, essencialmente filosófica, prefere, com efeito, encerrar o todo na parte.
O primeiro de seus graus é, desse ponto de vista, tão bem coordenado, que poderia permanecer único, se nosso espírito tivesse o poder descobrir tudo aquilo que ali se contém.
Mas nossa penetração espiritual está longe de ser sempre genial.
As exigências da vida moderna deixam poucas oportunidades para a meditação, de modo que contraímos o hábito de nos mantermos na superfície das coisas.
Ora, para descobrir as verdades iniciáticas é preciso aprofundar e obrigar-se a esforços perseverantes que se fazem graduais, a fim de virem em auxílio à fraqueza humana.
A Maçonaria confere, por conseguinte, a iniciação integral em três graus, que marcam o mesmo número de etapas destinadas a conduzir progressivamente ao conhecimento iniciático (Gnose).
Este conhecimento é uma conquista por demais árdua para que sua assimilação possa efetuar-se seja em uma, seja mesmo em três vezes.
Eis o que justifica a multiplicação dos graus maçônicos.
Todas as hierarquias têm nisso o mesmo objetivo.
Qualquer que seja o número dos escalões interpostos, a distância a vencer permanece a mesma.
Trata-se sempre de partir da Aprendizagem para chegar à verdadeira Maestria.
Mas entre esse começo (nascimento ou renascimento iniciático) e este fim (morte, transformação, renovação) estende-se toda a vida maçônica figurada pelo Companheirismo.
Vós fostes, pois, chamados a viver de maneira maçônica, ou seja, conformando todas as vossas ações ao ideal (Estrela Flamígera) que deveis trazer em vós mesmos.
Não vos esqueceis, sobretudo, de que o grau de Aprendiz é a base de toda a Maçonaria. É sobre o seu estudo aprofundado que se fundamentam todos os progressos ulteriores.
É preciso voltar sem cessar a esse ponto de partida, se quisermos avançar.
O primeiro grau é a chave de todos os outros.
Por altamente graduado que seja um Maçom, se ele ignora o esoterismo do Grau de Aprendiz, ele não possui, em Maçonaria, nenhum conhecimento efetivo, e todas as fitas com as quais ele se enfeita não são senão vãs futilidades!
O segundo grau é, aliás, a consagração do primeiro, no sentido de que o Aprendiz, — pelo único fato de que realizou progressos suficientes como tal, — é admitido na classe dos Obreiros ou Companheiros. É o acabamento de sua aprendizagem que lhe vale seu aumento de salário.
Por longe que possamos ir, saibamos, enfim, permanecer sempre Aprendizes, porque não devemos nunca haver terminado de aprender.
Convencido de que o verdadeiro sábio não saberia cessar de estudar, o ilustre Chevreul dizia-se estudante, mesmo quando era mais que centenário.
Lembremo-nos deste ensinamento e não deixemos jamais de trabalhar para nosso próprio aperfeiçoamento, tanto intelectual quanto moral.
Eis aí esta Aprendizagem incessante que deve ser perseguida com perseverança, porque, sozinha, confere o verdadeiro Companheirismo, isto é, o poder de ação fecunda e de realização verdadeiramente prática.
Assim, queridos Irmãos Companheiros, repassai com cuidado tudo aquilo que vos foi ensinado antes; atei-vos depois aos enigmas que vos são propostos por vosso grau atual.
Com o auxílio de vossa luz interior, chegareis a vencer todas as dificuldades, por formidáveis que elas sejam.
Se já o verdadeiro Aprendiz Maçom é um sábio como se encontram poucos dentre os homens, que será o Companheiro, esse pensador esclarecido, armado da poderosa soberania da ação?
Sobretudo, não desencorajeis!
Tenhais o heroísmo dos Companheiros de Jasão que ousaram embarcar com ele para ir conquistar o Tosão de Ouro.
Contai com vossa sagacidade, apelando às energias mais profundas de vossa vontade!
Nada obtereis, se medirdes vossos sofrimentos; mas podeis aspirar a tudo, com a condição de prosseguir em vossa obra sem desfalecer, aí colocando toda vossa alma!
Oswald Wirth, 1931.