Casanova e a pedra filosofal


On travaille à la pierre philosophale, et on ne s'en desabuse jamais.
J. Casanova de Seingalt

Examinando o manuscrito das memórias de Casavova que, finalmente, ―  foram necessários duzentos anos para que pudéssemos desfrutar desse tesouro ― estão disponíveis na Biblioteca Nacional de França, deparei-me agora mesmo com esta frase. Por razões que nos escapam,  dentre outras mudanças arbitrárias que o texto original sofreu , ela foi omitida da página 365 da edição francesa publicada sob o título Mémoires de J. Casavova de Seingalt écrits par lui-même suivis de fragments des mémoires du prince de ligne, Paris, editado pela Librairie Garnier Frères, provavelmente em 1933. 

A figura acima corresponde ao recorte tomado a uma das 3.700 páginas manuscritas. Dei-me ao trabalho de limpar a imagem com a ajuda de um editor. Preservei a frase apenas. Trabalha-se a pedra filosofal e dela não se nos desiludimos jamais, disse ele, numa tradução livre, uma vez que não existe, em português, construção gramatical equivalente. Não que fosse um místico. Apesar de ter feito história também entre os magos de seu tempo, Casanova, se alguma coisa encontrou na famosa pedra, não foi senão aquilo que consistiu, para ele, no centro de sua vida: a liberdade.

Sem qualquer outra pretensão ou ambição que não fosse entregar-se livremente ao ato de viver, sem renunciar a prazer algum que seus sentidos pudessem lhe entregar, ele fez história e entrou nela desabusadamente. Deixou sua marca não apenas porque foi um grande sedutor, mas ainda ― coisa inesperada ― na literatura universal, onde se fez o centro de uma das mais duradouras polêmicas acerca de suas controvertidas memórias.


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