Os saquinhos, feitos à mão por mim, eram bordados, muito enfeitados, variados na forma, na cor, nos enfeites. Cada um do seu jeito, porque sempre únicos, quanto mais que o material usado para fazê-los é o reciclo do reciclado. Pedacinhos de roupas, de lenços, retalhos, bijuterias desmontadas. Nascem do reaproveitamento dos mais variados objetos. Depois resolvi eu mesma fechar os saquinhos com algo dentro deles. Algo escolhido por mim: pedras achadas na rua, nos caminhos, onde for. A maioria tem três objetos. Podem ser as pedras, e também conchas achadas nas praias, assim como sementes de frutos, e também contas de vidro, dessas do tamanho de uma bala, lisas, brilhantes.
Uma brincadeira. Costuro essas pequenas inutilidades e as
coloco em um cestinho. Os amigos olham, gostam e levam de presente. Fotografei
alguns, para lembrar-me de como eram. Depois pensei que ali dentro talvez coubesse
um poema. Mas não um poema literário. Apenas versos, — versinhos — tipo
feitiço, benção, presságio, pragas do bem, do mal... Quem sabe? Sei que passa
longe da literatura. Olhava os saquinhos e criava versos.
Depois, conversando com uma amiga querida, falei dessas
rimas e mandei para ela um áudio que, por acaso, era justamente sobre um saquinho
— um amareto ou amoreto, como os batizei — que estava com ela. Surgiu depois a
ideia de conferir aos amoretos uma dimensão audiovisual e, assim, os Mestres do Imaginário
passaram a exibir esses vídeos. Alegres brincadeiras que vão assim andar pelo
mundo, rumando por aí.
Amoretos, Amaretos, singulares particularidades. Reciclagem
de inservíveis. Ditos e não ditos, para crentes e descrentes, para os almados e para os desalmados também.