No ano de 1581, na pequena aldeia de Dalhem, havia um homem chamado Pierron. Ele pastoreava rebanhos e tinha um espírito sombrio, porque abrigava, em seu coração, um desejo tão nefasto quanto sombrio. Casado e pai de um menino inocente, Pierron deixou que sua alma se envenenasse por uma paixão proibida: apaixonou-se por uma bela jovem que habitava nas cercanias.
Todavia, nem tudo era o que parecia ser. O desejo proibido trazia consigo um preço que Pierron desconhecia. Pois bem. Em uma certa tarde, quando o céu estava encoberto por espessas nuvens. Pierron vagava pelo campo pensando em sua paixão, quando, repentinamente, viu a bela jovem surgir do nada, como se houvesse brotado da própria terra. Seus longos cabelos dançavam como serpentes no vento, e seus olhos, negros como o abismo, fixaram-se nos olhos de Pierron que viu neles um desejo incompreensível. Surpreso, ele confessou a ela sua paixão. A jovem, que se denominou Abrahel, era, na verdade, um súcubo. Sorrindo com malícia, sussurrou: "Eu te amarei, Pierron, se você prometer servir-me e em tudo obedecer-me.
Tomado por sua luxúria, Pierron fez o juramento, tudo prometendo a Abrahel, com voz firme e decidida, sem avaliar o preço que o destino lhe cobraria por essa promessa impensada.
Não muito tempo depois, Abrahel voltou a encontrar Abrahel e, dessa vez, suas exigências foram feitas com cínica doçura: "Dê-me algo precioso. Prove sua devoção. Sacrifique-me o seu filho."
Pierron, transtornado, hesitou. Mas Abrahel entregou-lhe uma maçã, perfeita e vermelha, como a tentação no Éden. Cego pelo pacto demoníaco, Pierron ofereceu a fruta ao pequeno, que, ao dar a primeira mordida, caiu sem vida no chão, como um boneco de trapo.
A mãe gritou com toda força do desespero, suas lágrimas criando um rio de dor que parecia jamais secar. Mas Pierron, corroído pelo peso de seu crime, correu até Abrahel, suplicando por redenção. O súcubo sorriu novamente e disse-lhe: "Eu lhe devolverei o menino, se me adorar como se eu fosse o seu Deus."
Diante do impossível, Pierron caiu de joelhos. Sua boca murmurou palavras de adoração que deveriam ser dedicadas apenas ao Céu. Abrahel aceitou o culto e soprou sobre o cadáver do menino. Lentamente, a criança abriu os olhos — olhos vazios, olhos mortos.
Embora estivesse vivo, ele não era mais o mesmo. O menino andava, mas seus passos eram lentos como os de um cadáver. Falava, mas sua voz soava como um eco distante. Sua pele estava cinzenta, os olhos fundos, o corpo consumido por um mal invisível.
Durante um ano, aquela sombra de criança habitou a casa, até que, numa noite fatídica, um ruído ensurdecedor ressoou pela casa como o próprio grito do inferno. Abrahel abandonara o corpo do menino. O pequeno tombou para trás, inerte, o fedor da morte emanava de sua carne como um aviso terrível. A mãe não suportou olhar. Os vizinhos, temendo a ira divina, usaram um gancho para arrastar o cadáver para fora da casa, enterrando-o num campo distante, longe dos olhos humanos e da misericórdia de Deus.
E, assim, Pierron pagou o preço de sua luxúria com lágrimas eternas. A figura de Abrahel desapareceu, mas a história permaneceu, murmurada em meio às sombras.
Dizem os anciãos que Abrahel ainda vaga pelos campos, tomando a forma de desejos proibidos, sussurrando promessas àqueles que fraquejam. E àqueles que ousam ouvi-la, o preço é sempre o mesmo: a alma e tudo o que mais lhes é querido.
Ilustração: Imagem criada com IA.
Fonte: Dicionário Infernal