O ingresso no neófito na Câmara de Reflexões talvez seja o momento menos lembrado e ainda o menos aprofundado de todas as vivências maçônicas. No entanto, é justamente lá que se encontram os princípios mais sublimes da Ordem, coisa que Wirth faz ver com simplicidade e coerência, encontrando alusões a todo simbolismo alquímico e mesmo a figuras do Tarô.
Entremos em nós mesmos, aprofundemos, diz Wirth. Fazendo abstração das aparências exteriores, é possível penetrar até o esqueleto da realidade despojada de todo ornamento sedutor. Quando Saturno houver assim realizado sua obra, o Galo de Mercúrio despertará nossa inteligência, aberta, desde então, às verdades iniciáticas. Aí está uma Tradição de muitos anos! Os antigos compararam esta operação a uma descida aos infernos. Trata-se, para o pensador, de penetrar até o centro das coisas, a fim de chegar a conhecê-las em sua essência íntima. O espírito deve aprisionar-se nas entranhas da terra, onde não se infiltra nenhum raio de luz exterior (pelas noções que nos fornecem os sentidos). No seio dessas trevas absolutas, a lâmpada da razão esclarece apenas fragmentos do esqueleto que parecem evocar espectros, lembrando assim a lanterna do Eremita. Restos de ossos figuram a realidade, tal como ela aparece, quando despojada de seus ornamentos sensíveis. É a verdade brutal, privada do véu das ilusões, a verdade toda nua que se esconde no fundo de um poço. Esse poço, que chega ao centro do mundo, é o interior do homem. É-lhe feita alusão na palavra VITRIOL, cuja interpretação era um grande segredo entre os alquimistas. As letras das quais ela se compõe recordavam-lhes a fórmula: Visita Interiora Terrae, Retificando Invenies Occultum Lapidem (Visita o interior da terra e, em retificando [pelas purificações], tu encontrarás a Pedra oculta dos Sábios). Esta Pedra, ― a famosa Pedra Filosofal, ― não é outra coisa senão que a Pedra Cúbica dos Franco-Maçons. É a base de certeza que cada um deve procurar em si mesmo, a fim de possuir a pedra angular (o núcleo de cristalização) da construção intelectual e moral que constitui a Grande Obra.
Os emblemas fúnebres da câmara de reflexões devem recordar o fim necessário das coisas, a fragilidade da vida humana e a vaidade das ambições terrestres. O Profano, depois de haver-se suficientemente absorvido nessa ordem de idéias, é convidado a responder por escrito a três perguntas, versando sobre seus deveres de homem em relação a Deus, em relação a ele mesmo e em relação a seus semelhantes. Esta divisão ternária de todas as nossas obrigações morais está baseada em três princípios alquímicos. Deus é aqui o ideal que o homem traz em si mesmo. É a concepção que ele pode ter do Verdadeiro, do Justo e do Belo, é o guia supremo de suas ações, o Arquiteto que preside à construção de seu ser moral. — Não se trata aqui do deus ídolo monstruoso que a superstição forja sobre o modelo dos déspotas terrestres. — A divindade está representada no homem por aquilo que aí existe de mais nobre, de mais generoso e de mais puro. Trazemos em nós um Deus que é nosso princípio pensante. Dele emanam a razão e a inteligência, coisas interiores que os hermetistas relacionaram ao Enxofre. (O sol oculto que brilha na morada dos mortos — Osíris — Serápis — Plutão — a Coluna J.’., centro da iniciativa e da ação expansiva). Os deveres em relação a si mesmo são relativos ao Mercúrio, que figura a influência penetrante do meio ambiente. Ora, tudo está necessariamente compreendido na reunião do conteúdo (Enxofre), do continente (Sal) e do ambiente (Mercúrio). As três questões colocadas abrangem, pois, todo o domínio da moral universal. Resolvendo-as, o pensador não deve ater-se à teoria. Renunciando a todas as fraquezas do passado, incumbe-lhe morrer para a vida profana, e renascer para um modo superior de existência. O Recipiendário prepara-se para esta morte simbólica, redigindo seu testamento, ato no qual ele consigna as vontades que se tornarão executórias para o futuro Iniciado.
Nos mistérios de Ceres a Eleusis, o Recipiendário representava a semente enterrada no solo. Ela aí sofria a putrefação, a fim de dar nascimento à planta virtualmente encerrada no gérmen. O profano submetido à Prova da Terra é, de maneira semelhante, chamado a colocar em jogo as energias latentes que traz em si mesmo. A iniciação tem por objetivo favorecer a plena expansão de sua individualidade. Veja bem que o cárcere subterrâneo do futuro iniciado contém um pão e um cântaro com água. É a reserva alimentar que, no fruto e no ovo, serve para nutrir o gérmen em estado de desenvolvimento. O sábio deve aprender a contentar-se com o necessário, sem se tornar escravo do supérfluo.E existem ainda as inscrições. Os muros da cripta trazem inscrições, tais como as seguintes: — Se a curiosidade aqui te conduz, vai-te! — Se temes ser esclarecido sobre teus defeitos, estarás mal entre nós. — Se és capaz de dissimulação, treme, serás descoberto. — Se te aténs às distinções humanas, sai, não se as reconhece aqui! — Se tua alma sente o terror, não vá mais longe! — Se perseverares, serás purificado pelos elementos, sairás do abismo das trevas, tu verás a Luz! — Todas essas sentenças estão agrupadas em torno de um Galo e de uma ampulheta, emblemas pintados que acompanham as palavras: Vigilância (sobre tuas ações), Perseverança (no bem). A Ampulheta é um atributo de Saturno, o Tempo, que corre dissolvendo todas as formas transitórias (putrefação, — cor negra dos Alquimistas). O Galo faz alusão ao despertar das forças adormecidas. Ele anuncia o fim da noite e o triunfo próximo da luz sobre as trevas. Ah! Existe ainda o sal e o enxofre... Coisa que ninguém mais lembra! O Ritual prescreve colocar, diante do Recipiendário, dois vasos: um deles contendo Sal, outro, Enxofre. A que se deve esta prática? Esta prática não pode se justificar, a não ser pela teoria dos três princípios alquímicos: Enxofre, Mercúrio e Sal. Coisa de alquimistas... Sim. O Enxofre corresponde à energia expansiva que parte do centro de todo ser (Coluna J.’.). Sua ação opõe-se àquela do Mercúrio, que penetra todas as coisas por uma influência vinda do exterior (Coluna B.’.). Essas duas forças antagônicas se equilibram no Sal, princípio de cristalização que representa a parte estável do ser. Observe-se que lá dentro não há mercúrio! É que o pensador não pode se recolher, senão se isolando das influências mercuriais. Eis por que, na Câmara de Reflexões, o Enxofre, princípio de iniciativa e de ação pessoal, deve unicamente agir sobre o Sal, símbolo de tudo aquilo que, do ponto de vista intelectual, moral e físico, constitui a própria essência da personalidade.
Os emblemas fúnebres da câmara de reflexões devem recordar o fim necessário das coisas, a fragilidade da vida humana e a vaidade das ambições terrestres. O Profano, depois de haver-se suficientemente absorvido nessa ordem de idéias, é convidado a responder por escrito a três perguntas, versando sobre seus deveres de homem em relação a Deus, em relação a ele mesmo e em relação a seus semelhantes. Esta divisão ternária de todas as nossas obrigações morais está baseada em três princípios alquímicos. Deus é aqui o ideal que o homem traz em si mesmo. É a concepção que ele pode ter do Verdadeiro, do Justo e do Belo, é o guia supremo de suas ações, o Arquiteto que preside à construção de seu ser moral. — Não se trata aqui do deus ídolo monstruoso que a superstição forja sobre o modelo dos déspotas terrestres. — A divindade está representada no homem por aquilo que aí existe de mais nobre, de mais generoso e de mais puro. Trazemos em nós um Deus que é nosso princípio pensante. Dele emanam a razão e a inteligência, coisas interiores que os hermetistas relacionaram ao Enxofre. (O sol oculto que brilha na morada dos mortos — Osíris — Serápis — Plutão — a Coluna J.’., centro da iniciativa e da ação expansiva). Os deveres em relação a si mesmo são relativos ao Mercúrio, que figura a influência penetrante do meio ambiente. Ora, tudo está necessariamente compreendido na reunião do conteúdo (Enxofre), do continente (Sal) e do ambiente (Mercúrio). As três questões colocadas abrangem, pois, todo o domínio da moral universal. Resolvendo-as, o pensador não deve ater-se à teoria. Renunciando a todas as fraquezas do passado, incumbe-lhe morrer para a vida profana, e renascer para um modo superior de existência. O Recipiendário prepara-se para esta morte simbólica, redigindo seu testamento, ato no qual ele consigna as vontades que se tornarão executórias para o futuro Iniciado.
Nos mistérios de Ceres a Eleusis, o Recipiendário representava a semente enterrada no solo. Ela aí sofria a putrefação, a fim de dar nascimento à planta virtualmente encerrada no gérmen. O profano submetido à Prova da Terra é, de maneira semelhante, chamado a colocar em jogo as energias latentes que traz em si mesmo. A iniciação tem por objetivo favorecer a plena expansão de sua individualidade. Veja bem que o cárcere subterrâneo do futuro iniciado contém um pão e um cântaro com água. É a reserva alimentar que, no fruto e no ovo, serve para nutrir o gérmen em estado de desenvolvimento. O sábio deve aprender a contentar-se com o necessário, sem se tornar escravo do supérfluo.E existem ainda as inscrições. Os muros da cripta trazem inscrições, tais como as seguintes: — Se a curiosidade aqui te conduz, vai-te! — Se temes ser esclarecido sobre teus defeitos, estarás mal entre nós. — Se és capaz de dissimulação, treme, serás descoberto. — Se te aténs às distinções humanas, sai, não se as reconhece aqui! — Se tua alma sente o terror, não vá mais longe! — Se perseverares, serás purificado pelos elementos, sairás do abismo das trevas, tu verás a Luz! — Todas essas sentenças estão agrupadas em torno de um Galo e de uma ampulheta, emblemas pintados que acompanham as palavras: Vigilância (sobre tuas ações), Perseverança (no bem). A Ampulheta é um atributo de Saturno, o Tempo, que corre dissolvendo todas as formas transitórias (putrefação, — cor negra dos Alquimistas). O Galo faz alusão ao despertar das forças adormecidas. Ele anuncia o fim da noite e o triunfo próximo da luz sobre as trevas. Ah! Existe ainda o sal e o enxofre... Coisa que ninguém mais lembra! O Ritual prescreve colocar, diante do Recipiendário, dois vasos: um deles contendo Sal, outro, Enxofre. A que se deve esta prática? Esta prática não pode se justificar, a não ser pela teoria dos três princípios alquímicos: Enxofre, Mercúrio e Sal. Coisa de alquimistas... Sim. O Enxofre corresponde à energia expansiva que parte do centro de todo ser (Coluna J.’.). Sua ação opõe-se àquela do Mercúrio, que penetra todas as coisas por uma influência vinda do exterior (Coluna B.’.). Essas duas forças antagônicas se equilibram no Sal, princípio de cristalização que representa a parte estável do ser. Observe-se que lá dentro não há mercúrio! É que o pensador não pode se recolher, senão se isolando das influências mercuriais. Eis por que, na Câmara de Reflexões, o Enxofre, princípio de iniciativa e de ação pessoal, deve unicamente agir sobre o Sal, símbolo de tudo aquilo que, do ponto de vista intelectual, moral e físico, constitui a própria essência da personalidade.