Leio de tudo. Dos clássicos e acadêmicos até almanaques populares e bulas de remédio. Excluindo revistas em quadrinhos, devoro qualquer tipo de literatura, mesmo aquela vista como dejeto cultural. Certamente já li e escrevi muita coisa, traduzi outras tantas, e meus arquivos estão cheios de traças que vieram das alturas do Himalaia. Este blog, então, vai ser o canal de saberes fragmentados, oficiais e oficiosos, que os Mestres do Imaginário oferecem a nossa indiscrição.
Memória
Vencerei então esta força de minha natureza, subindo por degraus até meu Criador.
Chegarei assim diante dos campos, dos vastos palácios da memória, onde estão os
tesouros de inúmeras imagens trazidas por percepções de toda espécie. Lá também
estão armazenados todos os nossos pensamentos, quer aumentando, quer
diminuindo, ou até alterando de algum modo o que nossos sentidos apanharam, e
tudo o que aí depositamos, se ainda não foi sepultado ou absorvido no esquecimento.
Quando ali penetro, convoco todas as lembranças que quero. Algumas se apresentam
de imediato, outras só após uma busca mais demorada, como se devessem ser
extraídas de receptáculos mais recônditos. Outras irrompem em turbilhão e, quando se
procura outra coisa, se interpõem como a dizer: “Não seremos nós que procuras?” Eu
as afasto com a mão do espírito da frente da memória, até que se esclareça o que
quero, surgindo do esconderijo para a vista.
Confissões de Santo Agostinho, Capítulo VIII
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