Sonho Recorrente

Ele é menor que eu, gordo, cabelos crespos, usa barba. Faz parte de um sonho que se repete. Segura minha mão com muito carinho e caminha a meu lado. Ele usa um estranho casaco de corte oriental, que vai quase até os pés. Tem um pássaro sempre com ele, e ainda um gato, pequeno, que vive deitado sobre o seu ombro direito. Neste último sonho que tive com ele, me dei conta de que não é simplesmente um personagem que tenha a ver com este mundo. Parece um gênio. Será? Uma estranha recorrência da qual tomo nota, para não esquecer.

Fantasma

Fantasma, sim. Havia um, bem ali. Mas não quis aparecer. No entanto, olhando bem, naquele cantinho... Sim, sempre há fantasmas, assombrações, restos de passado que nos espreitam das rachaduras da taipa. O casarão abandonado tem dono. 

Mandala

Talvez seja a simetria o elemento que faz com que tanta gente aprecie as mandalas. Eu, particularmente, seja pela subjetividade, seja pelo meu vezo anarquista, ainda criarei algumas ricas em assimetrias, como me parecem ser as coisas mais interessantes.

Sentimento & Razão

Em todos os tempos diz-se que há verdades que despertam o sentimento tanto quanto a razão; e em todos os tempos também se diz que, ao lado das verdades que nós encontramos feitas, existem outras que nós ajudamos a formar, que dependem em parte de nossa vontade.
Bergson 

Bain Marie

Banho Maria é o nome dado a uma espécie de banho alquímico feito com água morna. Duas caldeiras são usadas:   um recipiente com água é mantido suspenso sobre um caldeirão fervente. A metáfora aí compreendida é aquela do calor da gentileza, do afeto que dilui, dissolve... Consta que o nome Bain Marie dado a esta técnica é alusivo a Maria Prophetissa.

A PAPISA


Das duas colunas, uma é VERMELHA e a outra, AZUL. A primeira corresponde ao FOGO (ardor vital devorador, atividade masculina, Enxofre dos Alquimistas); a segunda relaciona-se ao AR (sopro que alimenta a vida, sensibilidade feminina, Mercúrio dos Sábios). Toda a criação decorre desta dualidade fundamental: Pai, Mãe — Sujeito, Objeto — Criador, Criação — Deus, Natureza — Osíris, Ísis — etc.

OW

Curiosidade

Há uma curiosidade numerológica associadas ao Tarô. Trata-se de uma interpretação que encontra, na versão de 52 cartas, a representação das 52 semanas do ano. Os quatro naipes lembrariam as quatro estações. As 13 cartas de cada naipe, por sua vez, equivaleriam aos 12 meses, com a 13ª carta sugerindo as 13 semanas de cada um dos quatro trimestres. Finalmente, a soma dos números que vão de um até doze daria 91 que, multiplicado por quatro, número das estações, daria exatamente 364 mais um. Realmente, se verdadeiro não é, o esforço do ajuste na conta de chegar foi absolutamente meritório. 

O Louco e a Loucura

Ser louco é não contar. Carta fora da ordem do baralho, o Louco é representado de mil maneiras diferentes. Sorridente, com partes do corpo descobertas, ao mesmo tempo em que também é transparente no que sente, muito embora o que sinta por vezes não faça parte de si. O louco não é a própria loucura, mas talvez seja o efeito dela. Tantos são os conteúdos não tolerados em nosso próprio eu, tantos somos nós, em legião, que não é muito que a loucura suceda à razão e nos leve a descobrir essas partes do corpo, a insinuar sorrisos, a dar passos em falso, enfeitados com os ouropéis da ilusão que nos consola de perdas. Metade como rei, metade como mendigo, metade gente, metade bicho, o louco pertence a dois mundos, de sorte que a loucura pode ser o caminho, a ponte que nos leva ao outro lado, onde jazem os conteúdos simbólicos, arquetípicos, o grande manancial submerso bem além do inconsciente individual. Há loucuras lúcidas, como há racionalidades embrutecidas pelo sarcasmo. Não há fórmulas nem programas, mas processos a que a vida nos submete, por ser maior do que aquilo que vive. Nem sempre é possível descobrir razões e plausibilidades acerca do que nos encanta ou do que nos aflige, nos mata ou faz viver. É preciso, pois, representar esta impotência, exorcizar esse fracasso. Talvez por isso tenhamos essa tendência a ridicularizar o louco, fazendo dele um idiota. Contudo, não estou bem certa de que a razão seja melhor guia que a loucura. Talvez ambas possam ser complementares. Quem sabe?

Feitiço do Sapo


Sapo, sapinho, sapo, sapão
Derruba inimigo no meu alçapão
Começa, termina
Costura, Segura
Fecha, espeta,
Conserta, arremata
Sonho, estrela,
Coelho, machado,
Cisne, galo
Mercúrio na mão!

Simpatia do Gato

Gato, gato, gatinho, gatão
Não faça senão e me dê atração
Feitiço de ouriço
Preste atenção
Que a missa e a promessa 
Te traz pela mão
O pires, o dente, o rato o bigode
Que prende e arrepende
Que explode em paixão

SUSPEITOS



Quem são eles? Serão assassinos?
Serão facínoras? Serão os monstros
Que atacaram Hiram?
São suspeitos, murmuram as paredes,
Suspeitos de ódio,
Suspeitos de inveja,
Suspeitos de fraude.
Violência! Vingança!
Hiram é morto. Quem o matou?
Não sabemos, mas foram Companheiros,
E tudo fizemos, com muito engenho,
Para os  encontrar.
Sabemos?  Não. Suspeitamos.
Sois Companheiros? Sois suspeitos,
Sois vós os ingratos, desnorteados ambiciosos,
A corda vos traz cativos das próprias consciências,
Amordaçados ao remorso.
Suspeitos — murmuram as águas.
Suspeitos — sussurram as paredes
Suspeitos — murmuram todos
Onde a régua que calou o Mestre
Pela garganta atingido ao Sul?
Onde o esquadro que lhe feriu o peito
Visando ao coração?
Onde o malho certeiro em seu crânio
Que o prostrou ao Ocidente?
De tão aviltante vilania pervertestes seus sagrados Instrumentos.
Com régua, Esquadro, e Malho,
Fostes construtores de um Templo à infâmia.
Insanos sois vós.
Sois todos vós.
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Mas eis que surgem três.
E a sombra da suspeita, agora,
Se apõe sobre apenas três,
E nosso Soberano haverá de saber,
E não mais supeitar;
Haverá de os fazer atar, prender e castigar.
E serão nove,
E depois mais mais seis,
Serão três vezes três,
E mais duas vezes três,
Serão Nove,
E ao depois serão Quinze,
Eleitos dos Quinze
Que vão resgatar
Da suspeita
 Os Companheiros,
Nossos Irmãos
Nossos Obreiros
Que conosco
Se hão de vingar
Tirando de sobre si
O peso do Sangue
O peso da Morte
Do acaso
E do Destino.
Serão Eles,
Os Quinze,
Que hão de resgatar
Da Suspeita
Os Companheiros,
Do Templo,
O Altar.