Quem foi São Francisco?


Quem foi São Francisco afinal? Historicamente falando, talvez ele não devesse ser identificado à figura do jovem questionador, afinado com a modernidade, com a ecologia, com a globalização, integrando sistemas e redes. A saber se tais questionamentos podem ser formulados com segurança. Nesse diapasão, o livro de Guido Vignelli, publicado em Verona, 2009, pela Fede & Cultura e intitulado SAN FRANCISCO ANTIMODERNO, DIFESA DEL SERAFICO DELLE FALSICAZIONI PROGRESSISTE, com belíssima introdução de Fabio Bernabei: San Francesco: un esempio per gli Italiani di oggi.

Bernabei nos introduz a obra, apresentando-nos um Francisco que teria conseguido harmonizar três características próprias ao espírito italiano: a mística, o amor e a arte combinadas ao senso prático tipicamente romano. Nele encontraríamos equilíbrio espiritual, capacidade de harmonizar realidade com espírito de sacrifício, de doar e de doar-se, espírito artístico, intuição e fantasia. Estariam aí características tipicamente italianas, de sorte que haveria boas razões para que a Itália se tornasse justamente essa terra de santos, sábios, artistas, heróis, exploradores e, — por obra de Deus, afirma—, também a sede do Papado, cumprindo uma missão civilizadora dos povos, inspiradora do Império Cristão.

Após cuidadosa análise da vida desse personagem real, que influi até hoje na Igreja e no mundo, Vignelli, o autor, nos apresenta o movimento franciscano como capaz de mostrar que qualquer um de nós pode almejar à perfeição evangélica, tornar-se religioso, fazendo do coração uma cela, da casa uma ermida, do trabalho um exercício penitencial, do dever uma prática ascética, e tudo sob a máxima: “Pregar em silêncio, edificar servindo, converter obedecendo”. 

Ao homem moderno e em crise, São Francisco representaria um contraponto pelo exemplo de uma vida não independente, mas, ao contrário, completamente dependente de Deus, não livre, mas sob a filial e estrita obediência à Igreja, não arrogante, mas profundamente respeitosa à sociedade e inteiramente dedicada ao serviço do outro. 

De notar, — e reside justamente nisso o questionamento a que o livro se propõe —, que não haveria na vida de Francisco nenhum espaço para um pretenso laicismo comumente atribuído ao santo, nem tampouco espaço para uma santificação do cotidiano, esta última surgida como inovação típica do século XX. Ao contrário, Francisco é resgatado como exemplo de dependência (de Deus), de obediência (à Igreja) e de sacrifício (pelo outro), gestos que não deveriam refletir nem laicidade nem o mundanismo de uma sociedade de consumo, ecumênica e relativista.

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