Richelieu, interessado em consolidar seu controle sobre as fortificações de Loudun, ordenou uma investigação detalhada sobre o caso das freiras endemoninhadas. O Padre Laubardemont, leal ao cardeal, foi então encarregado de conduzir o inquérito. Em dezembro de 1633, Grandier foi preso, e as acusações contra ele foram reforçadas pelos testemunhos de Mignon e de seus aliados, que forneceram provas tendenciosas. Durante o processo, Grandier foi constantemente apontado como o responsável por ordenar que demônios possuíssem as Ursulinas. A investigação foi marcada por manipulação e parcialidade, com o Padre Laubardemont seguindo as ordens de Richelieu e manipulando os depoimentos para garantir a condenação de Grandier. Apesar das evidências forjadas e das terríveis torturas que sofreu, Grandier afirmou sua inocência até o fim, ao longo de todo o processo.
No dia 18 de agosto de 1634, a sentença contra Grandier foi confirmada com base no depoimento dos demônios, incluindo Astaroth, que, supostamente, haviam possuído as freiras. Após a sentença, Grandier foi cruelmente raspado e preparado para a execução. No tribunal, ele protestou sua inocência e rejeitou as alegações de feitiçaria. Durante a tortura, manteve impressionante domínio sobre si, recusando-se a nomear qualquer cúmplice e admitindo apenas um erro de sensibilidade amorosa. No dia da execução, foi colocado em um carroção e conduzido à praça Sainte-Croix para a execução. Uma cena peculiar chamou a atenção dos presentes: uma revoada de pombos começou a voar em torno da fogueira onde Grandier estava prestes a ser queimado. A presença dos pombos foi interpretada de diferentes maneiras pelos espectadores. Para alguns, eles eram demônios enviados por Grandier; para outros, eram um símbolo de sua inocência. Além disso, uma grande mosca apareceu ao redor da cabeça de Grandier, gerando mais especulações. Quando o carrasco se preparava para acender a fogueira, Grandier, em um gesto final de dignidade, ajustou ele mesmo a corda ao redor de seu pescoço, lembrando-se da promessa de uma morte rápida que, todavia, não se cumpriu. O padre Lactâncio, um dos mais fervorosos perseguidores de Grandier, acendeu um pedaço de palha e o levou ao rosto de Grandier, perguntando-lhe se não queria confessar. O condenado, com calma e firmeza, respondeu ser inocente e não ter nada a confessar. Foi queimado vivo.
A execução não pôs fim às tragédias. Um mês depois da morte de Grandier, o padre Lactâncio morreu exatamente como previsto pelo condenado pouco antes de seu suplicio. Outros inimigos de Grandier também encontraram fins miseráveis, o que alguns interpretaram como uma forma de retribuição divina. Jeanne des Anges, a freira que o acusara de bruxaria, atingida por uma hemiplegia, ficou paralisada, morrendo em 29 de janeiro de 1665. As ursulinas conservaram sua cabeça em um relicário, para veneração pelos féis, porém, em 1772, o convento foi suprimido.
“Sabe-se bem,” disse Voltaire acerca desse julgamento, “que o processo dos demônios de Loudun e do padre Grandier destina-se à execrável memória dos insensatos criminosos que o acusaram juridicamente de ter encantado as ursulinas, essas miseráveis jovens que se disseram possuídas; à do infame juiz que o condenou a ser queimado vivo como suposto feiticeiro; e à do cardeal Richelieu que, após ter feito tantos livros de teologia, tantos versos ruins e tantas ações cruéis, enviou seu Laubardemont para exorcizar freiras, expulsar demônios e queimar um padre.”
O caso de Urbain Grandier é lembrado como um exemplo de extrema injustiça e brutalidade. Voltaire observou que o julgamento dos "diabos de Loudun" e a condenação de Grandier permanecem como um símbolo eterno da maldade dos acusadores e da injustiça do sistema judicial da época.
Imagem: Gravure représentant le supplice des brodequins subit par Urbain Gandier. De Jean-Baptiste Reville (1767-1825) Wikipedia Commons
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