Esta Ordem terá duas classes, cada uma formando sua
própria sociedade, tendo inclusive seus próprios segredos distintos. A primeira
será composta por mulheres virtuosas; a segunda, por mulheres volúveis,
levianas, voluptuosas.
Ambas as classes devem ignorar que são dirigidas
por homens. Far-se-á crer às duas superiores que existe acima delas uma
Loja-Mãe do mesmo sexo, que lhes transmite ordens, quando na realidade essas
ordens serão dadas por homens.
Os Irmãos, encarregados de dirigir essas mulheres,
lhes farão chegar suas instruções sem jamais se revelar. Conduzirão as
primeiras por meio da leitura de bons livros, e as outras, ensinando-lhes a
arte de satisfazer secretamente suas paixões.
A este projeto está anexado um preâmbulo que
define, nestes termos, o objetivo e a utilidade das Irmãs Iluminadas:
“A vantagem que se pode esperar desta Ordem seria,
em primeiro lugar, fornecer à verdadeira Ordem todo o dinheiro que as Irmãs
começariam pagando, e depois todo aquele que prometeriam pagar pelos segredos
que lhes seriam ensinados. Esse estabelecimento serviria ainda para satisfazer
aqueles Irmãos que têm inclinação para os prazeres.”
A este projeto de Zwach – muito dignamente chamado
o Catão dos iluminados – estava anexado também o retrato de noventa e cinco
Senhoritas ou Damas de Manheim, dentre as quais deveriam ser escolhidas, sem
dúvida, as fundadoras da dupla classe.
Como as circunstâncias não favoreceram o desejo
desse novo Catão, vários Irmãos começaram a disputar o mesmo projeto. O senhor
Distfurt, conhecido por seu verdadeiro nome em Wetzlar como assessor da Câmara
Imperial, e também conhecido entre os Irmãos Iluminados sob o nome de Minos,
elevado ao grau de Regente e à dignidade de Provincial, parece disputar com o
Irmão Hércules, e até com o Irmão Catão, a honra da invenção. Ninguém, ao
menos, deseja mais do que ele a fundação das Irmãs Iluminadas.
Ele já expôs sua ideia a Knigge; insiste novamente
com Weishaupt; quase desespera de conseguir atingir o grande objetivo da Ordem
sem a influência das adeptas femininas. No ardor de seu zelo, oferece como
primeiras adeptas sua esposa e suas quatro belas filhas. A mais velha destas
possui exatamente todas as qualidades necessárias para as Irmãs Filósofas; tem
vinte e quatro anos; supera o seu sexo em questões religiosas; pensa exatamente
como o pai. Ele é Regente e Príncipe Iluminado; ela seria Regente, Princesa
Iluminada. Nos últimos mistérios, junto da esposa do adepto Ptolemeu, uma se
corresponderia com o pai, a outra com o marido.
As duas Princesas Iluminadas seriam as únicas a
saber que a Ordem das adeptas femininas é governada por adeptos masculinos;
elas presidiram as provas das Minervais, e por fim revelariam às mais dignas os
grandes projetos das Irmãs para a reforma dos governos e a felicidade do gênero
humano.
Apesar de todos os planos e do zelo dos Irmãos, não
parece que o seu Legislador tenha jamais consentido no estabelecimento das
Irmãs Iluminadas. No entanto, ele supriu isso com instruções dadas aos adeptos
mais recentes, advertindo-os de que, sem revelar às mulheres o segredo da
Ordem, havia uma maneira de utilizar em benefício do Iluminismo a influência
que elas tão frequentemente exercem sobre os homens. Advertiu-os ainda que,
sendo o belo sexo senhor de grande parte do mundo, a arte de lisonjeá-las para
conquistá-las era um dos estudos mais dignos de um adepto; que todas elas eram
mais ou menos conduzidas pela vaidade, curiosidade, prazeres ou pela novidade;
que era por aí que se devia conquistá-las e torná-las úteis à Ordem.
Mas, mesmo assim, ele continuou a excluir de todos
os graus os tagarelas e as mulheres. O artigo seis das instruções do Irmão
Recrutador não foi revogado.
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O texto acima foi extraído de uma obra de circulação
digital intitulada La franc-maçonnerie et l’illuminisme décryptées par
l’abbé Barruel, atribuída ao abade Augustin Barruel. Não encontramos,
porém, confirmação bibliográfica sólida sobre a autoria ou publicação original.
O conteúdo, no entanto, reflete temas que marcaram o pensamento
contrarrevolucionário europeu do fim do século XVIII: a denúncia da Maçonaria,
dos Iluminados da Baviera e da Revolução Francesa como parte de um complô
anticristão.
Barruel é mais conhecido por sua obra fundamental Mémoires
pour servir à l’histoire du jacobinisme (Memórias para servir à
história do Jacobinismo), publicada em 1798–1799, em quatro volumes. Nessa
obra, ele defende com veemência a tese de que a Revolução Francesa não foi um
movimento espontâneo, mas o resultado de uma conspiração urdida por
filósofos iluministas, maçons e jacobinos contra a Igreja e a monarquia. Antes
dele, já em 1792, o abade Lefranc havia publicado La Conjuration contre
la religion catholique et les souverains (Conjuração contra a
religião católica e os soberanos), obra considerada precursora do
pensamento de Barruel. Lefranc também denunciava a Maçonaria como promotora de
uma subversão global planejada a partir da França revolucionária. Quando se
trata da relação entre Maçonaria e Revolução Francesa, os historiadores
reconhecem duas grandes teses:
- Tese conspiracionista
(contra-revolucionária): sustenta que a Maçonaria organizou
deliberadamente um complô para destruir o Antigo Regime, sendo parte ativa
de uma conspiração revolucionária. Esta é a linha adotada por Barruel e
Lefranc.
- Tese liberal ou
culturalista:
defende que a Maçonaria não organizou uma revolução, mas contribuiu para a
difusão de ideias ilustradas — liberdade, igualdade, fraternidade — que
triunfaram em 1789. A influência seria, portanto, cultural e filosófica,
não conspirativa.
Barruel, em suas Memórias, é categórico ao
optar pela primeira visão: para ele, a destruição da ordem cristã e monárquica
era um projeto elaborado por redes maçônicas, iluministas e enciclopedistas.
Os Iluminados da Baviera e a perseguição
Antes mesmo da publicação das Memórias, o
tema dos Iluminados da Baviera (Illuminatenorden) já estava cercado de
controvérsias. A ordem, fundada por Adam Weishaupt em 1776, foi
dissolvida oficialmente em 1785, após perseguições promovidas pelo
eleitor da Baviera, Carlos Teodoro, com apoio do governo austríaco e da
Igreja. Documentos e correspondências dos Illuminati foram confiscados e
divulgados — em parte manipulados — em uma série de panfletos publicados em Viena
e Munique, com forte teor alarmista. Essas publicações alimentaram as teses
de Barruel e de outros autores contrarrevolucionários.
Do século XVIII ao XX: a persistência da ideia de
conspiração
A partir de Barruel, a ideia de que a Maçonaria, os
Iluminados ou os filósofos atuavam como conspiradores ocultos contra a
ordem tradicional tornou-se um motivo duradouro na literatura de teoria da
conspiração. Ainda no século XX, essa narrativa foi retomada em obras
antimaçônicas, textos de extrema-direita e teorias populares que conectam
Iluminismo, Nova Ordem Mundial e controle global. Mesmo sem base documental
consistente, essa visão conspiratória foi sendo reciclada — ora em tom
político, ora religioso, ora em teorias alternativas — influenciando desde
grupos tradicionalistas até a cultura pop contemporânea.
Em 2025, Augustin Barruel é uma figura marginal na
rede X, aparecendo em nichos conspiracionistas, tradicionalistas católicos e
debates históricos. Citado como pioneiro das teorias que ligam Maçonaria,
Illuminati e Revolução Francesa a um complô anticristão, ele é reverenciado por
alguns como "visionário" contra o Iluminismo e criticado por outros
como alarmista reacionário. Suas ideias, como as do texto sobre as "Irmãs
Iluminadas", ecoam em discussões modernas sobre elites globalistas e
manipulação social, mas termos como "Nova Ordem Mundial" ofuscam seu
nome. Com alcance limitado, Barruel permanece um ícone para iniciados, sua
paranoia reciclada em narrativas contemporâneas.