Pitágoras e as Irmandades.


Bem, adorar os números talvez fosse menos terreno que adorar pedras ou árvores. Algo quase divino! Pitágoras dava a eles, os números, um sentido tão profundo quanto obscuro, e seus adeptos consideravam um dever piedoso honrar seu velho mestre que, aliás, ainda tem seguidores. Pitágoras ensinava a transmigração das almas e a abstenção de várias práticas, inclusive a de comer carne, certamente por acreditar na possibilidade da reencarnação da alma humana em animais. Sorte dos homens, eu diria, aliás, se pudessem evoluir tanto! Os pitagóricos, curiosamente, valorizavam mais o limitado que o ilimitado, relacionando ao primeiro desses conceitos os números pares e ao segundo, os números ímpares. O caráter dual das coisas era superado pela tese da uma grande unidade harmônica do universo, coisa típica do pensamento místico. No século IV a. C., Hipasus, membro de uma dessas sociedades que adoravam números, foi, — ao que se diz, — afogado numa banheira, por ter transmitido a um leigo algumas verdades matemáticas. Paciência, poderia ter sido pior.
Bem, sabem o que descobri? Até Gabriel Tarde, na obra intitulada A oposição universal. Ensaio de uma teoria dos contrários, comentou a visão dos números e dos opostos apresentada pela escola pitagórica. Diz o renomado autor : « Eis, de acordo com os discípulos de Pitágoras, a lista das dez únicas oposições fundamentais do universo: limitado e ilimitado; par e ímpar; unidade e multiplicidade; direita e esquerda; masculino e feminino; repouso e movimento; reta e curva; luz e escuridão; bom e mau, quadrado e retângulo ».
Bem, tratou-se mesmo de um culto, onde nem mesmo cerimônias exóticas deixavam de ter lugar : “Abençoai-nos, número divino, que gerastes os deuses e os homens. Ó santo tetraktys, que encerrais a raiz e a fonte do eterno fluxo criador”.
Examinemos um pouco os ensinamentos dessas Irmandades. O um representava a razão, e era o mais forte de todos os números. O dois representava a opinião. O quatro, a justiça. O cinco, o matrimônio, pois que constituído pela fusão de três, primeiro número macho, e de dois, primeiro número fêmea. Nas propriedades do cinco residia o segredo da cor. Nas do seis, o segredo do frio. Nas do sete, o segredo da saúde. No número oito residia o segredo do amor, isto é, três (potência) somado a cinco (casamento). Ah! Uma coisa interessante! Supunha-se que as distâncias entre as estrelas formavam uma série de números harmônicos, análogos aos comprimentos dos fios dos primitivos instrumentos de corda. Daí a expressão tão conhecida entre nós de “harmonia das esferas”.
Os números também podiam ser amigos. Como alguém perguntasse a Pitágoras o que era um amigo, esse respondeu: “Alguém que é o 1 de outro, por exemplo, 220 e 284”. Com isso o matemático quis dizer que todos os divisores de 220 (1,2,4,5,10,11,20,22,44,55 e 110) perfazem juntos 284. Puxa, onde estará o meu um?
Bem, o culto dos números é coisa bem antiga. Hindus e hebreus já tinham, antes de Pitágoras, seus números perfeitos e seus números amicais. Os seis dias da criação e os vinte e oito do mês lunar ilustram à perfeição o plano da providência. Nem Santo Agostinho deixou de compreender esse anseio de perfeição, quando afirmou “ter Deus criado todas as coisas em seis dias, por ser o seis um número perfeito”.
Certamente, os números fascinam e, até hoje, há quem coloque muita fé na numerologia. Ah! Eu sou do número um. E vocês, já se calcularam?

Nota: Olhem bem para a imagem acima. Vocês poderão ver o Alex, meu cachorro, assistindo a uma das aulas do Mestre Pitágoras, naturalmente, em uma de suas vidas passadas.