Morte

A Morte é uma vivência constante. Cada desilusão nos mata um pouco e deixa no lugar uma escuridão a mais que luz alguma pode iluminar. Acho que é por isso mesmo que se vive tão urgentemente às vezes, antecipando as perdas, e fazendo qualquer coisa para manter a ilusão, ainda que seja às custas de um ostensivo, dispendioso e belo monumento de bronze, homenagem última a quem partiu, cedo ou tarde, deixando um nome, uma saudade, um querer. Morrer, porém, não é privilégio dos mortos, porque morremos em vida também, quando somos esquecidos ou mudados, quando somos desencontrados enfim. Morremos ainda quando nos deixamos lá atrás, no passado. Vieira falava disso em termos literários, ele que afirmou que vivia com privilégios de morto, não tendo ninguém a quem sua presença fizesse falta ou sua ausência, saudade.
Vida e Morte são irmãs, ambas inspiradoras do homem que, através de seu sentir, as simboliza e materializa em formas artísticas, como que encantando o espaço disputado ao tempo, tanto quanto cada segundo de vida que disputa à morte ao lhe conferir um sentido.
Vida só é vida se faz sentido.
Vida que não faz sentido, não é vida, mas morte.