Não nos esqueçamos de que é o DIABO que nos faz viver materialmente. Ele nos arma para as necessidades desta vida de luta perpétua, de onde os impulsos que não são maus em si mesmos, mas entre os quais a harmonia deve ser mantida, se não quisermos cair sob o jugo dos pecados capitais que se dividem entre aquilo que poderíamos chamar de os departamentos ministeriais do governo infernal. Moderemo-nos em todas as coisas, e nós nos oporemos às discordâncias que, sozinhas, tornam-se diabólicas. Contenhamos nosso ORGULHO, a fim de que ele se traduza em DIGNIDADE, essa nobre altivez que inspira o horror a toda degradação. Domemos nossa CÓLERA, a fim de que ela se traduza em CORAGEM e em energia ativa. Não nos abandonemos à PREGUIÇA, mas concedamo-nos o REPOUSO necessário à reparação das forças despendidas. Não temamos mesmo repousar preventivamente à vista de um esforço a produzir. Os artistas e os poetas podem ser preguiçosos de maneira frutífera. Evitemos a GULA: é degradante não viver senão que para comer; mas, para viver com boa saúde, escolhamos nossos alimentos e apreciemos suas qualidades gustativas. Repilamos o odioso demônio da INVEJA que nos faz sofrer com o bem de outrem, mas oponhamo-nos, no interesse geral, às monopolizações ilícitas e aos abusos do poder. Não caiamos na AVAREZA, mas sejamos PREVIDENTES e pratiquemos a economia sem desdenhar o honesto amor ao ganho, estimulante eficaz do trabalho. Quanto à LUXÚRIA, pela qual se exerce a mais poderosa dominação do DIABO, é preciso opor-lhe o RESPEITO religioso ao augusto mistério da aproximação dos sexos. Cessemos de profanar aquilo que é sagrado.
Oswald Wirth