Sobre o Tarô

O MAGO tem fé nele mesmo, em sua inteligência e em sua vontade; ele se sente soberano e aspira conquistar seu reino. O místico persuade-se, ao contrário, de que ele nada é senão que uma casca vazia, impotente por si mesmo. Sua renúncia passiva coloca-o à disposição daquilo que age sobre ele. Ele se entrega, pés e mãos amarrados, como o PENDURADO que, no Tarô, parece ser o mesmo personagem que o SALTIMBANCO. No ARCANO XII, retorna, com efeito, o jovem louro e esbelto do ARCANO I, mas que contraste entre o malabarista de dedos hábeis e o supliciado que não mantém livre senão que a perna direita que ele dobra por detrás da esquerda, para formar uma cruz acima do triângulo invertido desenhado pelos braços e pela cabeça.
O conjunto da figura lembra assim o símbolo alquímico da realização da Grande Obra, inversão do ideograma do Enxofre ao qual se relaciona a silhueta do IMPERADOR. A oposição assim trazida à luz é aquela do Fogo e da Água, do Fogo interior ou infernal no sentido literal da palavra e da Água sublimada ou celeste. O ardor sulforoso é o Archée do indivíduo, o princípio de sua exaltação e de sua soberania (dorismo). A Água exteriorizada representa a substância anímica purificada na qual se refletem as virtudes do alto. O PENDURADO é inativo e impotente quanto ao corpo, porque sua alma está livre para envolver o organismo físico com uma atmosfera sutil, onde se refletem as irradiações espirituais mais puras. O IMPERADOR, ao contrário, está concentrado sobre si mesmo; ele está absorvido pelo centro de sua individualidade, praticando a descida a si mesmo dos Iniciados. A entrada em si conduz à realização da Grande Obra pela via seca do dorismo, enquanto a saída de si para aí encaminha pela via úmida do ionismo.
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