Somente um vez...


Porque o estar aqui é muito, e.porque tudo
daqui nos necessita em aparência, o evanescente,
o que de uma maneira delicada nos comove.
A nós os mais evanescentes. Uma vez
cada coisa. Somente uma vez. Uma vez e não mais.
E nós também uma vez. Nunca de novo. Mas
haver sido uma vez, ainda somente uma vez;
haver sido terrestre, parece irrevocável.
E estas coisas cujo viver é des falecimento
compreendem que tu as elogiavas; perecíveis,
confiam em nós, os mais efêmeros, como capazes de
salvar.
Querem que nos obriguemos a transformá-las de todo,
em nosso coração invisível — oh infinitamente! — em
nós,
quem quer que sejamos ao fim.
Terra, não é isso o que tu queres: tornar a brotar
em nós invisível? — Não é teu sonho
ser invisível? Terra! Invisível!
Pois, que outra coisa senão transformação
é teu urgente mandamento?
Rilke, Elegias de Duino, citado por M. Serrano