Eternidade

Existe no Universo um ponto, um sítio privilegiado, de onde todo o Universo se desvenda. Nós observamos a criação com instrumentos, telescópios, microscópios, etc. Mas, ali, bastaria ao observador encontrar-se nesse sítio privilegiado: num ápice, o conjunto dos fatos aparecer-lhe-ia, o espaço e o tempo se revelariam na totalidade e a última significação dos seus aspectos. Para fazer compreender aos alunos do primeiro ano o que poderia ser o conceito de eternidade, o padre jesuíta de um célebre colégio servia-se da seguinte imagem: "Imaginai que a Terra seja de bronze e que uma andorinha, de mil em mil anos, a roce com a sua asa. Quando desta forma a Terra tiver desaparecido, só então começará a eternidade..." Mas a eternidade não é apenas a infinita lentidão do tempo. É outra coisa que a duração. É preciso desconfiarmos das imagens. Servem para transportar a um nível de consciência mais baixo a ideia que não poderia respirar senão noutra altitude e entregam um cadáver no rés-do-chão. As únicas imagens capazes de transportar uma ideia superior são aquelas que criam um estado de surpresa na consciência, de expatriação, próprias para elevar essa consciência até ao nível onde vive a ideia em questão, onde é possível captá-la na sua frescura na sua força. Os ritos mágicos e a verdadeira poesia não têm outra finalidade. Eis porque não procuraremos dar uma "imagem" desse conceito do ponto para além do infinito. Será mais eficaz que dirijamos o leitor para o texto mágico e poético de Borges. Borges, na sua novela, utilizou os trabalhos dos Cabalistas, dos Alquimistas e as lendas muçulmanas. Outras lendas, igualmente antigas como a humanidade, evocam esse Ponto Supremo, esse Sítio Privilegiado. Mas a época em que vivemos tem de particular isto: o esforço da inteligência pura, aplicada à investigação afastada de toda a mística e de toda a metafísica, foi dar a concepções matemáticas que nos permitem racionalizar e compreender a ideia de transfinito.
LOUIS PAUWELS E JACQUES BERGIER, O despertar dos mágicos.