Por falar em destino

Para os adeptos, crentes e praticantes, o Tarô, em suas grandes linhas representativas, refletiria o funcionamento de leis invisíveis, permitindo a sua utilização supostamente harmoniosa, bem como revelando a via de acesso a certo número de informações que o mundo concreto não poderia fornecer através das ciências visíveis. Evidentemente, utilizar as lâminas como ferramenta de pesquisa dessas leis ocultas da natureza constitui-se em uma grande polêmica que não nos cabe analisar aqui, muito embora a própria literatura dirigida aos praticantes apareça repleta de alertas sobre os perigos de entregar-se à sondagem do amanhã.
Quem se atreve a falar do Destino como algo que já estaria determinado de antemão, —o Maktub, o está escrito, — age como alguém que pretenda conhecer o desdobramento geral da vida e cuja palavra, ao dizer a sorte, ultrapassaria a parcela de liberdade e de poder do consulente, que frequentemente identifica o ocultista com o próprio sistema do qual ele se faz o porta-voz.  É quando o jogo se substitui a uma droga e induz à perda do próprio poder de decisão, da liberdade e da vontade de agir que é transferida para o resultado do jogo e, assim, lançada ao acaso. Pretender que o futuro deva estar escrito e ao mesmo tempo aceitar que dispomos de liberdade de ação são duas premissas que criam no indivíduo um paradoxo que coloca em risco sua racionalidade e frequentemente perturba seu estado emocional bem mais que o esclarece, seja sobre sua própria vida, seja sobre si mesmo, aliás, duas realidades que frequentemente sequer podem ser avaliadas separadamente uma da outra, na medida em que somos percebidos através de nossas ações concretas bem mais do que através de nossa realidade interior que, em tese, pertence à ordem do inverificável.