O Testamento


Os emblemas fúnebres da câmara de reflexões devem recordar o fim necessário das coisas, a fragilidade da vida humana e a vaidade das ambições terrestres. O Profano, depois de haver-se suficientemente absorvido nessa ordem de idéias, é convidado a responder por escrito a três perguntas, versando sobre seus deveres de homem em relação a Deus, em relação a ele mesmo e em relação a seus semelhantes.
Esta divisão ternária de todas as nossas obrigações morais está baseada nos três princípios alquímicos dos quais acabamos de falar.
Deus é aqui o ideal que o homem traz em si mesmo. É a concepção que ele pode ter do Verdadeiro, do Justo e do Belo, é o guia supremo de suas ações, o Arquiteto que preside à construção de seu ser moral. — Não se trata aqui do ídolo monstruoso que a superstição forja sobre o modelo dos déspotas terrestres. — A divindade está representada no homem por aquilo que aí existe de mais nobre, de mais generoso e de mais puro. Trazemos em nós um Deus que é nosso princípio pensante. Dele emanam a razão e a inteligência, coisas interiores que os hermetistas relacionaram ao Enxofre. (O sol oculto que brilha na morada dos mortos — Osíris — Serápis — Plutão — a Coluna J\, centro da iniciativa e da ação expansiva).
Os deveres em relação a si mesmo são relativos ao Mercúrio, que figura a influência penetrante do meio ambiente. Ora, tudo está necessariamente compreendido na reunião do conteúdo (Enxofre), do continente (Sal) e do ambiente (Mercúrio). As três questões colocadas abrangem, pois, todo o domínio da moral universal.
Resolvendo-as, o pensador não deve ater-se à teoria. Renunciando a todas as fraquezas do passado, incumbe-lhe morrer para a vida profana, e renascer para um modo superior de existência. O Recipiendário prepara-se para esta morte simbólica, redigindo seu testamento, ato no qual ele consigna as vontades que se tornarão executórias para o futuro Iniciado.
Oswald Wirth