O nada em marcha

"O ponto matemático sem
dimensão nada é, mas, posto em movimento, este nada engendra a
linha, geradora da superfície, mãe de todos os corpos de três
dimensões. Não somos nada enquanto permanecemos imóveis, mas
nosso movimento deixa um traçado luminoso, mesmo que não
sejamos mais que efêmeras estrelas cadentes. Se concebermos que
tudo não é mais que o nada em marcha, tornamos ativa nossa
inação, sem nos enganarmos sobre nosso próprio valor e nossa
capacidade. Agimos, sem nos debater em pura perda, porque
vamos construir, porque este é o objetivo da vida.
Todavia, após haver sondado a profundidade de nossa
ignorância, como podemos trabalhar em segurança, certos de que
não nos enganaremos em nossa empresa? Ora, a desilusão paralisa:
ela destrói a confiança adquirida pelo Companheiro e a certeza dos
princípios segundo os quais ele trabalha. Perdendo sua fé ativa, ele
abandona seus utensílios para permanecer desamparado entre
aqueles que sucumbem, como ele, na grande prova da decepção.
Em que o desiludido poria sua confiança? Está sem ilusões
mesmo quanto à Maçonaria, instituição que formula os bons
princípios, mas não os aplica mesmo em seu próprio seio. Os
maçons pretendem fazer reinar a harmonia no mundo: ora, eles se
agrupam em organizações que se opõem umas às outras e se
recusam a confraternizar entre elas. As Lojas recrutam mal e são
invadidas por ignorantes vaidosos, incapazes de se iniciar
realmente: também a iniciação é ela fictícia, e a Maçonaria vegeta
como um corpo sem alma do qual o espírito foi retirado.
Tal é, eis, a irreparável catástrofe prevista pelo Ritual: o
Espírito não mais governa. O Arquiteto do Templo está morto, e
ninguém é capaz de substituí-lo. Os Mestres que recebiam suas
instruções estão desamparados. Estão reunidos na Câmara do Meio,
mas avaliam a situação sem saída e se abandonam à dor de não ter à
sua cabeça o sábio Hiram, detentor dos supremos segredos da Arte
de construir."

OSWALD WIRTH

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