Nem tanto, francamente

Não, é impossível negá-lo. A Maçonaria é uma sociedade secreta. Ora, nenhum homem, seja qual for sua Religião, pode licitamente entrar em associações secretas. Por outra, ninguém pode entrar em uma sociedade secreta, como é a Maçonaria, sem violar as regras mais comezinhas da prudência, os ditames da boa razão, as justas exigências da dignidade humana, em uma palavra, sem comprometer a consciência em matéria que é de si gravíssima. A prudência manda que ninguém se empenhe em uma associação cujos fins reais ignora ; a boa razão dita que não se preste juramento de guardar segredos que não se sabe quais sejam ; a dignidade humana prescreve que não nos escravizemos a cumprir ordens, não sabemos quais, não sabemos de quem, à medida que nos forem intimadas, sob pena de passarmos por uns refratários, uns traidores, uns perjuros, e como tais sermos punidos de morte. Ou as tenções e doutrinas da Maçonaria são boas ou são más; se são boas, é crime, perante a consciência, que façamos um juramento, responsabilizando-nos, sob pena de morte, a guardá-las em segredo: pelo contrário, a caridade nos ordena que as divulguemos para bem do próximo. Como! Se não é uma abominação que tome um homem a Deus por testemunha de que jamais revelará a seus irmãos coisas úteis e boas? Não é isto obrigar-se por um juramento a faltar à caridade? E se, por acaso, são más as tenções da seita, se são falsas e perniciosas as suas doutrinas, então não é menos ilícito o juramento que se presta, pois pede a justiça e a caridade que denunciemos altamente a nossos irmãos, cujo bem devemos procurar, os erros e perigos de uma associação tenebrosa em que iludidos nos alistámos. Não, evidentemente, não podemos tomar a Deus por testemunha de calar-nos sobre o que sabemos ser perniciosa aos nossos irmãos. Pelo contrário, devemos gritar a todos: sentido, povos! sentido, governos! não vos deixeis iludir: os fins d'esta associação são maus, suas doutrinas perversas! Obrigar- nos por um juramento a fazer o contrário, é uma imoralidade, é abusar sacrilegamente do nome de Deus, é fazer um ato condenado por nossa consciência de homens honestos e cordatos. Assim, quer se suponha que os segredos maçônicos versam sobre cousas boas e úteis, quer sobre más e nocivas, em todo caso altamente ilícitos são os juramentos exigidos, e não podem ser prestados por nenhum homem de consciência. Logo a consciência e a reta razão vedam a entrada nas Lojas maçônicas.

COSTA, Antônio de Macedo (Bispo do Pará). A Maçonaria em Oposição à Moral, à Igreja e ao Estado. Recife: Typographia Universal, 1873, p. 42-43.

Atualizei o português nesta postagem. E, mais uma vez, "não somos aquilo que dizem que smos". Nem tanto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário