JEANNE DES ANGES E A POSSESSÃO DEMONÍACA EM LOUDUN: Psicologia Coletiva e o contágio emocional no século XVII

O livro trata do julgamento de Urbain Grandier e do episódio de possessão demoníaca que teve lugar no convento das Ursulinas de Loudun, na França do século XVII. Esses eventos são explorados como exemplos da forma como a justiça institucionalizada pode servir como instrumento de poder, legitimando práticas que se distanciam da verdade ou da justiça em seu sentido mais puro. A autora fundamenta sua análise em uma ampla gama de fontes primárias e secundárias. Além de uma investigação histórica, o livro dialoga com questões contemporâneas ligadas à história social e à psicologia social, examinando como as sociedades definem e tratam conceitos de desvio e normalidade. A metodologia empregada combina a análise histórica com a teoria crítica da psicologia social, buscando revelar as estruturas subjacentes de poder que moldam processos sociais e investigar como as pessoas podem resistir e transformar essas estruturas. A própria história é assim tratada como um campo de disputa onde diferentes narrativas competem por hegemonia, enquanto a psicologia social ajuda a compreender como essas narrativas moldam percepções e comportamentos. A figura de Jeanne des Anges é particularmente destacada, revelando as complexas dinâmicas de gênero e poder na sociedade do século XVII. A análise mostra que, mesmo confinadas, as mulheres desempenhavam papéis ativos e influentes, capazes de manipular e subverter as estruturas de poder da época. Este livro convida o público acadêmico a refletir sobre a natureza do poder e da justiça, desafiando as narrativas oficiais e promovendo uma compreensão mais profunda dos mecanismos sociais que moldam a vida coletiva.

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Os Elfos

Imagine-se às margens do Báltico. Pense então na lenda que nos fala de um rei dos Elfos. Ele governa as ilhas de Stern, Moe e Rugen. Este majestoso soberano viaja em uma carruagem puxada por quatro garanhões negros, movendo-se pelo ar de uma ilha para outra. Seu deslocamento é tão impressionante que o relinchar de seus cavalos é visível, mergulhando o mar em uma escuridão total. O rei comanda um exército formidável composto pelos grandiosos carvalhos que salpicam a paisagem das ilhas. Durante o dia, esses soldados permanecem disfarçados sob a casca das árvores, mas à noite, eles se transformam, empunhando capacetes e espadas e marchando orgulhosamente à luz da lua. Em tempos de conflito, o rei os convoca para se juntar a ele, e aqueles que tentam invadir seu domínio enfrentam uma sorte terrível. A tradição dos elfos, tanto benevolentes quanto malévolos, é uma constante nas ficções da Edda. Snorri Sturluson descreve os elfos da luz, que foram imortalizados como os espíritos etéreos nas máscaras de Ben Johnson, como habitantes de Alf-Heim, os opaláceos celestiais. Por outro lado, os elfos escuros, conhecidos como elfos noturnos, vivem nas profundezas da terra. Os elfos da luz são imortais e não serão destruídos pelas chamas de Surtur, com seu destino final sendo o Vid-Blain, o céu mais alto dos abençoados. Já os elfos escuros são mortais e vulneráveis a todas as doenças, apesar de suas características. Na Islândia moderna, acredita-se que o povo élfico vive sob uma monarquia, ou pelo menos sob um vice-rei absoluto. Anualmente, este vice-rei viaja para a Noruega com uma delegação de pucks (elfos), para renovar seu juramento de lealdade ao soberano que reside na pátria mãe. Essa crença reflete a ideia de que os elfos, assim como os islandeses, formam uma colônia transplantada para a ilha.

Fonte: Dicionário Infernal

Imegem: A Rainha dos Elfos

 

O Caso de Urbain Grandier: exemplo de injustiça e de brutalidade

Urbain Grandier, cônego de Loudun, foi vítima de uma das mais trágicas e cruéis injustiças do século XVII. Acusado de bruxaria e feitiçaria após supostas possessões demoníacas que tiveram lugar no Convento local, Grandier enfrentou um processo judicial marcado por manipulação, preconceito e brutalidade. O diretor da comunidade das freiras Ursulinas, Mignon, atribuiu a Grandier a culpa pelas possessões, acusando-o publicamente de feitiçaria. Os capuchinhos de Loudun, que consideravam Grandier um inimigo, apoiaram a acusação, enviando uma carta ao padre Joseph, confessor do cardeal Richelieu, na qual acusavam Grandier de haver escrito um libelo que insultava o poderoso cardeal.

Richelieu, interessado em consolidar seu controle sobre as fortificações de Loudun, ordenou uma investigação detalhada sobre o caso das freiras endemoninhadas. O Padre Laubardemont, leal ao cardeal, foi então encarregado de conduzir o inquérito. Em dezembro de 1633, Grandier foi preso, e as acusações contra ele foram reforçadas pelos testemunhos de Mignon e de seus aliados, que forneceram provas tendenciosas. Durante o processo, Grandier foi constantemente apontado como o responsável por ordenar que demônios possuíssem as Ursulinas. A investigação foi marcada por manipulação e parcialidade, com o Padre Laubardemont seguindo as ordens de Richelieu e manipulando os depoimentos para garantir a condenação de Grandier. Apesar das evidências forjadas e das terríveis torturas que sofreu, Grandier afirmou sua inocência até o fim, ao longo de todo o processo.

No dia 18 de agosto de 1634, a sentença contra Grandier foi confirmada com base no depoimento dos demônios, incluindo Astaroth, que, supostamente, haviam possuído as freiras. Após a sentença, Grandier foi cruelmente raspado e preparado para a execução. No tribunal, ele protestou sua inocência e rejeitou as alegações de feitiçaria. Durante a tortura, manteve impressionante domínio sobre si, recusando-se a nomear qualquer cúmplice e admitindo apenas um erro de sensibilidade amorosa. No dia da execução, foi colocado em um carroção e conduzido à praça Sainte-Croix para a execução. Uma cena peculiar chamou a atenção dos presentes: uma revoada de pombos começou a voar em torno da fogueira onde Grandier estava prestes a ser queimado. A presença dos pombos foi interpretada de diferentes maneiras pelos espectadores. Para alguns, eles eram demônios enviados por Grandier; para outros, eram um símbolo de sua inocência. Além disso, uma grande mosca apareceu ao redor da cabeça de Grandier, gerando mais especulações. Quando o carrasco se preparava para acender a fogueira, Grandier, em um gesto final de dignidade, ajustou ele mesmo a corda ao redor de seu pescoço, lembrando-se da promessa de uma morte rápida que, todavia, não se cumpriu. O padre Lactâncio, um dos mais fervorosos perseguidores de Grandier, acendeu um pedaço de palha e o levou ao rosto de Grandier, perguntando-lhe se não queria confessar. O condenado, com calma e firmeza, respondeu ser inocente e não ter nada a confessar. Foi queimado vivo.

A execução não pôs fim às tragédias. Um mês depois da morte de Grandier, o padre Lactâncio morreu exatamente como previsto pelo condenado pouco antes de seu suplicio. Outros inimigos de Grandier também encontraram fins miseráveis, o que alguns interpretaram como uma forma de retribuição divina. Jeanne des Anges, a freira que o acusara de bruxaria, atingida por uma hemiplegia, ficou paralisada, morrendo em 29 de janeiro de 1665. As ursulinas conservaram sua cabeça em um relicário, para veneração pelos féis, porém, em 1772, o convento foi suprimido.

“Sabe-se bem,” disse Voltaire acerca desse julgamento, “que o processo dos demônios de Loudun e do padre Grandier destina-se à execrável memória dos insensatos criminosos que o acusaram juridicamente de ter encantado as ursulinas, essas miseráveis jovens que se disseram possuídas; à do infame juiz que o condenou a ser queimado vivo como suposto feiticeiro; e à do cardeal Richelieu que, após ter feito tantos livros de teologia, tantos versos ruins e tantas ações cruéis, enviou seu Laubardemont para exorcizar freiras, expulsar demônios e queimar um padre.”

O caso de Urbain Grandier é lembrado como um exemplo de extrema injustiça e brutalidade. Voltaire observou que o julgamento dos "diabos de Loudun" e a condenação de Grandier permanecem como um símbolo eterno da maldade dos acusadores e da injustiça do sistema judicial da época.

Imagem: Gravure représentant le supplice des brodequins subit par Urbain Gandier. De Jean-Baptiste Reville (1767-1825) Wikipedia Commons