O Artefato

A tradição da magia sempre dedicou atenção especial aos materiais. A varinha, a baqueta, o bastão: todos são mais que simples objetos — tornam-se prolongamentos da vontade. Não por acaso, o Mago do Tarô ergue sua baqueta ao céu como quem conecta mundos, Moisés divide as águas com seu cajado, e antigos druidas escolhiam ramos de carvalho como condutores de energia. Mais que instrumentos, são pontes: madeira e mineral, orgânico e inorgânico, natureza e artifício. O mago não cria poder, mas canaliza aquilo que já existe. E para isso, qualquer coisa pode servir, desde que carregue história, intenção e mistério. Foi assim que esse objeto insólito chegou até mim. Um pedaço de madeira escura, com marcas do mar e do tempo, onde se incrustaram pedras raras, como se a própria natureza tivesse decidido engastá-las ali. Ao redor delas, uma liga dourada parece ter surgido — não se sabe se por obra humana ou alquímica. Os veios lembram raízes que abraçam ágatas e cristais, formando armações quase orgânicas. O resultado é um bastão estranho, belo e enigmático, impossível de replicar. Quem o teria possuído antes? Talvez um viajante que recolhia fragmentos do mundo para compor sua própria cartografia mágica. Talvez um eremita, que moldou nele sua oração secreta. Ou um simples caminhante da praia, que o perdeu no exato instante em que o vento lhe revelou que o objeto não lhe pertencia mais. É certo que não se trata apenas de madeira e pedra. Na mão, pesa diferente. Na visão, impõe mistério. No coração, desperta perguntas. Varinha mágica? Bastão ritual? Artefato de um mestre esquecido? Não importa o nome. O que importa é que ele existe. E agora repousa diante de nós, convocando os Mestres do Imaginário para que compartilhem sua história.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário