Alta Venda Carbonária


Os leitores deste blog já podem ler o que consta em um interessante Ritual que logo mais vai para o meu Scribd. É o Ritual do Aprendiz Carbonário, como atualmente tem sido distribuído aos seus filiados. Recebi o arquivo de um amigo muito dileto faz algum tempo, e hoje resolvi disponibilizá-lo aos frequentadores dos Mestres do Imaginário. Por conta do assunto envolvendo a Alta Venda, lembrei-me do Frei Boaventura e de sua luta para preservar os católicos da má influência representada pela Maçonaria.

"Os juramentos maçônicos, portanto, são gravemente ilícitos, pecaminosos, blasfemos e intrinsecamente maus e imorais e, por conseguinte, nulos e inválidos. O cidadão que teve a fraqueza ou a infelicidade de proferir semelhantes juramentos, não só não tem nenhuma obrigação, em consciência, de mantê-los ou observá-los, mas, pelo contrário, não pode, sob pena de gravíssima ofensa ao Criador, considerar-se ligado e comprometido perante Deus por promessas tão cruéis, injustas, más, ilícitas". (p. 259)

Menos, Frei Boaventura, menos, eu diria...

Histórias envolvendo o secretismo da Maçanoria e, em particular, da Alta Venda Carbonária não faltam. Há muito material na internet, mas creio que pouca gente leu esse livro do saudoso Dom Boaventura Kloppenburg, bispo da cidade de Novo Hamburgo, RS, falecido em maio deste ano, que, com sua prosa notável e vigorosa, não poupou críticas a essa terrível instituição, em sua interessante obra intitulada A Maçonaria no Brasil, Vozes, 1961. Nas páginas 304 e seguintes, ele publica o que se constituiria em uma série de documentos da Alta Venda, todos, segundo ele, procedentes da Suprema Alta Venda, um grupo formado por apenas 40 homens, que teria existido na Itália, no século XIX, cujo chefe, "um distinto senhor dos meios diplomáticos de Roma", deixava-se conhecer apenas por Núbios. Quem encontrar o livro, pode achar o material, no mínimo, curioso, e poderá ler, em português, coisas do tipo Instrução Secreta e Permanente da Alta Venda, ou seja, a transcrição de um documento de 1819 onde são traçados planos tenebrosos e verdadeiramente diabólicos contra a Igreja, os Cardeais, os padres, as famílias cristãs e a juventude.
É nessas horas que não consigo deixar de simpatizar com a Tolerância, aliás, tanto mais rara quanto mais necessária se torna.

Alta Venda

"Todo Carb.’. é uma Árvore em constante “poda” e aperfeiçoamento,
primando por ser madeira de melhor qualidade.
Esta Árvore, representa o pag.’., em seu estado mais impuro e
deprimente. Ao buscar o ingresso na Ord.’., o pagão aspira salvar o que ainda lhe resta de aproveitável nesta árvore que o representa".

INICIAÇÃO

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
Neófito, não há morte.

Fernando Pessoa

O Mundo da Imaginação


O imaginário é repleto de imagens. Não é tridimensional, como se poderia dizer dele para opô-lo ao mundo real. É esse estado onde a imaginação predomina. Há um cão e um lobo, água e lua sugerindo um mundo feito de reflexos, onde tudo se prenuncia sem acontecer realmente. O mundo da lua, da imaginação, dos sonhos não é profundo como o mundo real que dá sentido à vida. No entanto, o imaginário é a grande chave das explicações que a realidade, sempre mais inatingível que o pensamento, nos recusa. O imaginário se explica, porque foi imaginado por nós, daí a clareza com que causas e efeitos emergem desses reflexos, coisa que não acontece com o real, infinitamente mais complexo. Mas a imaginação, por perigosa que seja, nos reinventa a vida.

Pensamento

Somente a consciência individual do agente dá testemunho dos atos sem testemunha, e não há ato mais desprovido de testemunha externa do que o ato de conhecer.
Olavo de Carvalho

Simbolismo

Não tenhamos a alquimia como um fim, mas consideremo-la como um poderoso meio para chegar, através dela, ao discernimento do verdadeiro, e por aí à realização do bem. A iniciação é una, ainda que cada escola de iniciação use símbolos próprios. Aprendamos comparando, transpondo um simbolismo para outro, e a luz vai se fazer em nosso espírito.
O. W. Paris, agosto 1930.
El Simbolismo Hermético

Sobre o Tarô

O MAGO tem fé nele mesmo, em sua inteligência e em sua vontade; ele se sente soberano e aspira conquistar seu reino. O místico persuade-se, ao contrário, de que ele nada é senão que uma casca vazia, impotente por si mesmo. Sua renúncia passiva coloca-o à disposição daquilo que age sobre ele. Ele se entrega, pés e mãos amarrados, como o PENDURADO que, no Tarô, parece ser o mesmo personagem que o SALTIMBANCO. No ARCANO XII, retorna, com efeito, o jovem louro e esbelto do ARCANO I, mas que contraste entre o malabarista de dedos hábeis e o supliciado que não mantém livre senão que a perna direita que ele dobra por detrás da esquerda, para formar uma cruz acima do triângulo invertido desenhado pelos braços e pela cabeça.
O conjunto da figura lembra assim o símbolo alquímico da realização da Grande Obra, inversão do ideograma do Enxofre ao qual se relaciona a silhueta do IMPERADOR. A oposição assim trazida à luz é aquela do Fogo e da Água, do Fogo interior ou infernal no sentido literal da palavra e da Água sublimada ou celeste. O ardor sulforoso é o Archée do indivíduo, o princípio de sua exaltação e de sua soberania (dorismo). A Água exteriorizada representa a substância anímica purificada na qual se refletem as virtudes do alto. O PENDURADO é inativo e impotente quanto ao corpo, porque sua alma está livre para envolver o organismo físico com uma atmosfera sutil, onde se refletem as irradiações espirituais mais puras. O IMPERADOR, ao contrário, está concentrado sobre si mesmo; ele está absorvido pelo centro de sua individualidade, praticando a descida a si mesmo dos Iniciados. A entrada em si conduz à realização da Grande Obra pela via seca do dorismo, enquanto a saída de si para aí encaminha pela via úmida do ionismo.
OW