Símbolos, Arquétipos e Mitos

O símbolo sempre é ambíguo. Este é o segredo de sua finalidade. Já os arquétipos são um exemplo de padrões culturais. Eles mudam e também morrem. A cultura dá sentido ao mundo em que vivemos; mitos não se opõem à realidade, antes eles se constituem em formas de apreensão desta, uma espécie de estímulo ao pensamento.

Cemitérios

É na ritualização desses arquétipos naturais, diante dos quais nossa razão se mostra impotente para fornecer uma explicação, que a cultura cria seus símbolos. Identificar esses símbolos, palavras, comportamentos, hábitos, formas de construção, decifrar parte desse simbolismo, é algo que se coloca diante de nós como um desafio à sensibilidade, onde cada túmulo aparece como esfinge a interrogar e, ao mesmo tempo, a nos contar uma história toda construída com imagens, nomes, datas, frases, palavras, esculturas, enfim.

O Imaginário

O imaginário do qual falo aqui, e que serve de base até mesmo ao título que escolhi para este blog, pode ser definido como um imenso sistema que abrange idéias e representações que os homens criam para dar sentido ao mundo, a si mesmos e à própria realidade que experimentam. Os homens estão constantemente empenhados na construção de discursos de toda ordem, aí incluídas as ideologias vigentes e sua expressão literária, artística, política e mesmo histórica. Os imaginário muda constantemente, e para bem se conhecer uma época é preciso penetrar o imaginário então vigente, identificando os homens que ali viveram, como e onde viveram, em que acreditavam e, sobretudo, o que esperavam do futuro. As crenças são uma das mais importantes expressões do imaginário, e ao longo da história muitos mestres conduziram homens no difícil caminho da construção de algo que pudesse dar e sustentar um sentido transcendente à vida. Aos Mestres do Imaginário assina-se uma importância fundamental na formação da identidade de cada tempo e lugar.

Eternidade

Existe no Universo um ponto, um sítio privilegiado, de onde todo o Universo se desvenda. Nós observamos a criação com instrumentos, telescópios, microscópios, etc. Mas, ali, bastaria ao observador encontrar-se nesse sítio privilegiado: num ápice, o conjunto dos fatos aparecer-lhe-ia, o espaço e o tempo se revelariam na totalidade e a última significação dos seus aspectos. Para fazer compreender aos alunos do primeiro ano o que poderia ser o conceito de eternidade, o padre jesuíta de um célebre colégio servia-se da seguinte imagem: "Imaginai que a Terra seja de bronze e que uma andorinha, de mil em mil anos, a roce com a sua asa. Quando desta forma a Terra tiver desaparecido, só então começará a eternidade..." Mas a eternidade não é apenas a infinita lentidão do tempo. É outra coisa que a duração. É preciso desconfiarmos das imagens. Servem para transportar a um nível de consciência mais baixo a ideia que não poderia respirar senão noutra altitude e entregam um cadáver no rés-do-chão. As únicas imagens capazes de transportar uma ideia superior são aquelas que criam um estado de surpresa na consciência, de expatriação, próprias para elevar essa consciência até ao nível onde vive a ideia em questão, onde é possível captá-la na sua frescura na sua força. Os ritos mágicos e a verdadeira poesia não têm outra finalidade. Eis porque não procuraremos dar uma "imagem" desse conceito do ponto para além do infinito. Será mais eficaz que dirijamos o leitor para o texto mágico e poético de Borges. Borges, na sua novela, utilizou os trabalhos dos Cabalistas, dos Alquimistas e as lendas muçulmanas. Outras lendas, igualmente antigas como a humanidade, evocam esse Ponto Supremo, esse Sítio Privilegiado. Mas a época em que vivemos tem de particular isto: o esforço da inteligência pura, aplicada à investigação afastada de toda a mística e de toda a metafísica, foi dar a concepções matemáticas que nos permitem racionalizar e compreender a ideia de transfinito.
LOUIS PAUWELS E JACQUES BERGIER, O despertar dos mágicos.

Obrigação de Silêncio

Com efeito, os pequenos mistérios convencionais são simplesmente símbolos de segredos muito mais profundos, e o Iniciado deve descobri-los conforme o programa da Iniciação. Estamos agora muito distantes das palavras, atitudes, gestos ou ritos mais ou menos complicados. Tudo o quanto afeta nossos sentidos não pode, de maneira alguma, traduzir o verdadeiro segredo, e ninguém jamais o divulgou, por ser de ordem puramente espiritual. A força de aprofundar, o pensador concebe aquilo que ninguém conseguirá penetrar sem observar certa disciplina mental. Esta disciplina é a dos Iniciados. Através das alusões simbólicas podem comunicar entre si seus segredos, mas nada, absolutamente, poderá entender quem não esteja preparado para compreendê-los. De outra parte, nada é mais perigoso que a verdade mal compreendida, daí a obrigação de calar imposta aos que sabem.
OW