Euclydes Lacerda de Almeida, ou Frater Thor foi um homem de ação. Nascido no Rio, ele cursou a Escola Militar e, muito cedo, começou a se interessar por ocultismo. Em 1962, ele conheceu Marcelo Ramos Motta, encontro que mudou sua trajetória, levando-o ao universo thelêmico. Trabalhando com figuras como Paulo Coelho e Raul Seixas na década de 1970, Euclydes, ao lado de Motta, foi um dos fundadores da Sociedade Novo Aeon, em 1975. Ele também se envolveu com a Ordo Templi Orientis (O.T.O.), mas sua relação com a ordem foi conturbada, levando-o a fundar a Ordem dos Cavaleiros de Thelema (O.C.T.) em 1995.
No livro intitulado Considerações sobre Thelema e a Ordo Templi Orientis como Fator Desagregador (Editora Bhavani, 2003), ele nos convida a olhar o passado a partir de uma nova perspectiva. Uma epígrafe de Otto Rahn, chama atenção e dá o tom: “Por isso percorro as nações, para nelas procurar o conhecimento, aquele que se relaciona com a Esmeralda caída da Coroa de Lúcifer.” Um saber proibido, é claro. O livro nos fala de povos ainda “não contaminados” pelo chamado processo civilizatório. Povos que confiam na magia como nós confiamos na ciência. Povos que confim nos sonhos, como nós, no divã psicanalítico. Povos para os quais a doença teria origem em um conflito entre alma e razão.
Euclydes exalta os místicos e magistas não são super-homens. Eles seriam humanos que, todavia, mapearam mundos e previram nosso presente caótico. O apagamento desses saberes, contudo, teria uma causa, e Euclydes nos fala dela ao identificar uma “Ordem Negra”, liderada pelos “Homens sem Face” que atuam há muito, muito tempo. A eles se deveria a destruição da Biblioteca de Alexandria e, até hoje, essa Ordem operaria através da mídia e das relações de poder. Resulta disso que a história, longe de se constituir em eventos em grande parte aleatórios, seria como um grande jogo que teria lugar no tabuleiro onde esses “Homens sem Face” movimentariam as peças. Lembrando Lovecraft e Crowley, ele nos assevera que essa ideia não é nova. Jacques Bergier, em Os Livros Malditos, também nos fala dos saberes apagados por elites que temeriam o poder daí decorrente. Os “Homens sem Face” nos fazem lembrar os “superiores desconhecidos” da Golden Dawn, com a diferença de uns nos guiam e outros nos sabotam. Mas quem seriam eles, afinal? Uma sociedade secreta? O sistema em si? Ou, como Euclydes parece sugerir, uma parte de nós mesmos, que prefere o conforto da ignorância ao risco do despertar. Talvez os sonhos saibam e isso explicaria o alerta que aparece nas primeiras páginas de seu livro: “Fé no desconhecido é patrimônio da ignorância”
Euclydes Lacerda de Almeida não nos oferece respostas fáceis. Pelo contrário, ele nos provoca com perguntas que preferiríamos não fazer. Seu legado é o do iniciador que aponta a trilha e se cala. O que fazemos com o que ele revelou — ou tentou revelar — é decisão que cabe a cada um. Talvez, como ele mesmo propôs, o verdadeiro inimigo esteja do lado de dentro, e a única revolução possível pode começar no espelho. Porque, afinal, nem todo véu encobre: alguns revelam.
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