O Imaginário e os Mestres

Há temas cuja natureza não facilita em nada sua exploração. Como falar, por exemplo, de bruxas, de magia, dos mistérios que se escondem tanto na história quanto no cotidiano? São assuntos impregnados daquilo que se convencionou chamar de "irracional", o que, por si só, já torna questionável sua relevância.

Quando iniciei este blog, chamando-o de Mestres do Imaginário, não tinha ainda essa clareza. Todavia, já intuía a importância de certos saberes frequentemente negligenciados — e isso, em boa medida, porque ainda não existem instrumentos adequados à sua observação.

Por outro lado, se o foco estivesse nos mestres, seria mais fácil evidenciar sua relevância, ao menos pela repercussão de suas falas: magister dixit. Mas não se trata, aqui, de quaisquer mestres. Este espaço é dedicado àqueles cuja intenção primordial foi — e é — conduzir o nosso imaginário. Conceito, aliás, amplamente reconhecido, mas raramente compreendido em sua profundidade.

Esse "reino do imaginário" já foi objeto de muitas definições. Talvez a mais conhecida seja a de Lacan, que o articula às instâncias do simbólico e do real. Segundo essa perspectiva, o imaginário viria antes do simbólico, e este, antes do real. A instância do imaginário seria aquela que nos constitui pela via da identificação — é o nosso “eu” no espelho. Instância de alienação, sim, mas também domínio intuitivo, poético e criativo. É a base de toda experiência, inclusive coletiva.

A moldagem do imaginário pode ser rastreada desde os mitos e lendas — tradições que pavimentaram o terreno do simbólico e prepararam, quem sabe, o campo sobre o qual se ergueram a razão e a ciência: estas que só reconhecem o que podem controlar e prever. Ele. O imaginário. é o campo onde se molda nossa percepção do mundo, nossas fantasias, nossas crenças mais profundas, nossos medos arcaicos e nossos desejos ancestrais. Não é algo restrito apenas àquilo que nós imaginamos: diz também com o que nos imagina.

Portanto, neste espaço cuja abertura remonta a 2009, onde se acumulam mais de 1.700 postagens, sigo acolhendo esses mestres de um saber antigo e sutil, que não se explica por completo, é verdade, mas que, sem dúvida, tem muito a ver com o que somos. Porque o imaginário, afinal, não é apenas um tema: é o próprio espaço em que pensamos, sentimos e existimos.

 

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