Menos, Mestre, menos... Pode ser?

Em Maçonaria, a liberdade de pensamento é uma realidade. Todos podem opinar. Todos podem pensar. Todos podem falar, escrever e publicar livros. Encontramos, assim, toda sorte de manifestações que se desenvolvem à sombra da tolerância, e sob os auspícios da vaidade. Valha-nos o bom senso, e uma boa educação que nos permita ouvir, muitas vezes, o absurdo. Respeitar todas as crenças é um dever de todo o Maçom, e neles efetivamente esse perfil comumente se manifesta. Encontro-os até muito pacientes. Tal grau de tolerância, porém, não inclui a aceitação passiva, de certos ensinamentos, ainda que eles provenham de insignes Mestres. Ser Maçom é, acima de tudo, ser um homem que interroga, pergunta e duvida. É pensar. É conquistar o conhecimento através da árdua tarefa de aprender. Quem deseja a luz, o faz por sentir-se no escuro. Por mais que queiramos, sem trabalho, nada obteremos, seja na vida, seja em instituições que se propõe o objetivo de conduzir os homens ao domínio de si mesmos. Não se adquire conhecimentos por osmose cósmica ou por pura iluminação. Esta última, se existir de fato, existirá para estimular ao trabalho, e não para conduzir o iluminado a magicamente penetrar nos chamados grandes mistérios. A par disso, porém, há sábios Mestres por aí. E, como soe ocorrer, tais Mestres têm até fiéis seguidores que, embriagados com o suposto poder de seus ídolos, não fogem a um intenso proselitismo em torno de suas obras. Vejam isso:
“O grão da vida não é o espermatozóide, mas um pequeno verme que se encontra aninhado na cabeça deste. Tal verme, que é o ninho contenedor do grão vital, cresce no ventre materno, continua crescendo na cabeça da criança e alcança sua plenitude na idade madura do homem, fazendo com que, na medida em que se desenvolve, desenvolvam-se também as partes constitutivas do homem, do nascimento à morte.
“Todas as faculdades e tudo quanto forma o homem como indivíduo não são mais do que a extensão do minúsculo ser que se aninha em nossa massa encefálica.”
Isso não é uma piada. O livro existe, e seu autor é um médico. Seu nome? Dr. JORGE ADOUM, maçom, 33, também conhecido como MAGO JEFA. O texto acima consta do Livro A Magia do Verbo ou o Poder das Letras, publicado pela FEEU, a cargo da Comissão Divulgadora de Jorge Adoum. Levei algum tempo tentando descobrir aí um significado simbólico, por prosaico que ele fosse, que me levasse a descobrir um sentido qualquer nessas sábias colocações. Poderia ser o sentido do iod, mas creio que isso mais confundo do que explica. Definitivamente, acho que estou bem longe da iluminação, porque não consigo reconhecer em muitos dos ditos grandes mestres aquela marca pessoal que me inspira respeito e admiração. Tem horas que só consigo mesmo é sorrir e pedir: menos, mestre, menos... Pode ser?