Ali onde predomina o amor não há vontade de poder, e onde há predominância do poder, não há amor. Um é a sombra do outro. Aquele que se coloca do ponto de vista do eros tem o oposto compensador na vontade de poder. Mas aquele que enfatiza o poder tem como compensação o eros. Vista do ângulo unilateral do posicionamento da consciência, a sombra é uma parte de menor importância da personalidade, e por isso é reprimida por uma intensa resistência. Mas aquilo que é reprimido precisa tornar-se consciente para que se crie uma tensão dos opostos, sem a qual não há possibilidade da continuidade do movimento. De certa forma, a consciência é em cima e a sombra é embaixo, e como o que está no alto sempre tende a descer às profundezas, o quente ao frio, assim toda consciência, talvez até sem perceber, busca por seu oposto inconsciente, sem o qual ela é condenada à estagnação, ao assoreamento ou à fossilização. Só nos opostos é que a vida se acende.
JUNG, C. G. Sobre o Amor. Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2005, p. 37.