Leio de tudo. Dos clássicos e acadêmicos até almanaques populares e bulas de remédio. Excluindo revistas em quadrinhos, devoro qualquer tipo de literatura, mesmo aquela vista como dejeto cultural. Certamente já li e escrevi muita coisa, traduzi outras tantas, e meus arquivos estão cheios de traças que vieram das alturas do Himalaia. Este blog, então, vai ser o canal de saberes fragmentados, oficiais e oficiosos, que os Mestres do Imaginário oferecem a nossa indiscrição.
Souberas...
Oh! Souberas quantas coisas dizem sobre o século vindouro, tiradas da Astrologia e dos nossos profetas! Afirmam que em cem anos a nossa época contém mais feitos memoráveis que o mundo inteiro em quatro mil; e que neste último século se editaram mais livros que nos cinqüenta anteriores. Falam também da maravilhosa invenção da imprensa, da pólvora e da bússola, coisas estas que constituem outros tantos indícios e instrumentos da reunião de todos os habitantes do mundo em um só redil. Expõem igualmente como tudo isso aconteceu enquanto tinham lugar grandes conjunções no triângulo de Câncer e no momento em que a ápiside de Mercúrio se adiantava a Escorpião, sob a influência da Lua e de Marte, com o seu poder para uma nova navegação, novos reinos e novas armas. Mas, quando a ápiside de Saturno entrar em Capricórnio, a de Mercúrio em Sagitário, e a de Marte em Virgo, depois das primeiras grandes conjunções e após o aparecimento de uma nova estrela em Cassiopéia, surgirá uma nova monarquia e reformar-se-ão as leis e as artes, ouvir-se-ão novos profetas. Texto de 1602, de CAMPANELLA, da obra UTOPIAS DO RENASCIMENTO, México: Ed. Fondo de Cultura Economica, 1941. P. 202, in SARAIVA, Antônio José. História da Cultura em Portugal, Lisboa: Jornal do Foro, 1955, Vol. II, p. 15/16.