A Proscrição dos Antigos Cultos

"Quando o cristianismo proscreveu o exercício público dos antigos cultos, obrigou os partidários das religiões a se reunirem em segredo para a celebração dos seus mistérios. A estas reuniões presidiam iniciados que estabeleceram logo, entre os diversos matizes destes cultos perseguidos, uma ortodoxia que a verdade mágica lhes ajudava a estabelecer com tanto mais facilidade, quanto a proscrição reúne as vontades e estreita os laços da fraternidade entre os homens. Assim, os mistérios de Isis, de Ceres Eleusina, de Baco, se reuniram aos da boa deusa e do druidismo primitivo. As assembléias se realizavam ordinariamente entre os dias de Mercúrio ou Júpiter, ou entre os de Vênus ou Saturno; aí se ocupavam dos ritos da iniciação, trocavam sinais misteriosos, cantavam os hinos simbólicos, uniam-se por meio de banquetes e formavam sucessivamente a cadeia mágica pela mesa e a dança; depois separavam-se, após terem renovado os juramentos entre as mãos dos chefes e recebido as suas instruções. O recipiendário do Sabbat devia ser levado à assembléia com os olhos cobertos pelo manto mágico, com o qual o envolviam inteiramente; faziam-no passar sobre grandes fogueiras e faziam, ao redor dele, ruídos espantosos. Quando descobriam o seu rosto, ele via-se rodeado de monstros infernais e em presença de um bode colossal e monstruoso, que lhe ordenavam de adorar. Todas estas cerimônias eram provas da sua força de caráter e da sua confiança nos seus iniciadores. Principalmente a última prova era decisiva, porque apresentava, a princípio, ao espírito do recipiendário, alguma coisa humilhante e ridícula: tratava-se de beijar respeitosamente o traseiro do bode e a ordem era dada sem cerimônia ao neófito. Se recusava cobriam-lhe a cabeça e o transportavam longe da assembléia com tal rapidez, que ele acreditava ter sido carregado pelas nuvens; se aceitava, faziam-no girar ao redor do ídolo, e aí ele achava, não uma coisa repelente ou obscena, mas o fresco e gracioso rosto de uma sacerdotisa de Isis ou Maia, que lhe dava um beijo maternal; depois era admitido ao banquete".
LEVI. Elifas. Dogma e Ritual da Alta Magia. São Paulo: Pensamento, Ed. Digital por Alvares Montelli.