Despacho

Neste domingo, eu estava fotografando no Parque da Redenção, para renovar imagens do meu outro blog, quando dei com este lindo despacho. Com a câmera pronta, não me custou documentar.

Simbolismo do Peixe

“Enquanto a caça cria um elo com a morte, a pesca, ao contrário, parece curiosamente ligada à vida. Não que as pessoas não queiram comer peixe, mas a pesca simplesmente não mobiliza as energias. A Lei Sálica considera o roubo de peixes tão grave quanto o de animais caçados ou caçadores, mas evita qualquer especificação. Os guardas-florestais imperiais devem ter o mesmo cuidado tanto com os rios e viveiros como com os mercados e as coelheiras, porém desconhecemos os conflitos que podem resultar de um roubo ou de um desvio de curso de água. Quem fala em peixe acaba falando em monges. A regra de são Bento determina: "Quanto às carnes de quadrúpedes, todos devem abster-se de ingeri-la, exceto os enfermos muito debilitados". O jejum litúrgico da Quaresma e da sexta-feira provocou entre os leigos a imitação do comportamento habitual dos monges, ou seja, comer peixe nesses dias. Lentamente o consumo de peixe de mar desenvolveu-se no século X a ponto de se tornar mais importante que o peixe de água doce; entretanto, no simbolismo alimentar e social o peixe permaneceu marcado pelos que o haviam lançado como alimento de paz de homens sem armas — os monges — e sobretudo por suas origens aquáticas, fonte da vida ligada ao mundo feminino. No limite, a pesca é vista como uma anticaça, uma atividade afinal aviltante e pejorativa, da qual a nobreza não poderia se ocupar.”
História da vida privada, 1: do Império Romano ao ano mil. Org. Paul Verny, trad. Hildegard Feist, vários autores. São Paulo: Cia das Letras, 2009, p. 480/481.

Entendendo o passado

... o mecanismo das instituições de uma época; as ideias dessa época ou de uma outra: eis o que o historiador não pode compreender ou fazer compreender sem esse cuidado primordial que eu chamo, eu, psicológico: o cuidado de unir, de incorporar a todo o conjunto de condições de existência de uma época o sentido dado às suas ideias pelos homens desta época. FEBVRE, Loucien, Comment reconstituer l avie affective d’autrefois? La sensibilité et l’histoire, in LOTTERIE, Florence, Littérature et sensibilité. Paris: Ed. Markenting S.A., 1998, p. 3.

Quatro Reis

Quatro reis e quatro formas de se relacionar com o mundo: o amor, o sonho, a ambição e a aventura, a estratégia intelectual.

Obra

Os Mestres são Mestres, não porque atingem determinados postos ou porque detêm, provisoriamente, divisas que os fazem reconhecer como tais pelos outros, mas porque sua OBRA nos sinaliza sobre quem eles são e permanecem sendo.

A Estrela Flamígera

As estrelas são os olhos de um Argos que tudo vêem. Se elas pudessem falar, o que não teriam a dizer? Mudas, elas fixam em nós um olhar sugestivo que nos incita a adivinhar os conhecimentos preciosos que puderam possuir as épocas desaparecidas. Certas verdades sutis extinguem-se diante do Sol de uma razão desdenhosa; outras, fantasticamente esclarecidas pela Lua, não se tornam elas irreconhecíveis?
OW

Escola do Silêncio

Quando então as palavras faltaram, o pensamento inspirou-se em objetos, formas e signos: assim nasceu o mais antigo modo de expressão dos pensadores que se dirige aos olhos de preferência que aos ouvidos. Nós fomos dele desviados, em nos deixando absorver pelas palavras. A Franco-Maçonaria abre-nos uma escola do silêncio; ela ensina a calar para escutar aquilo que fala misteriosamente no interior silencioso do pensador.
OW

Segurando a estrela

O Outro Mundo

Nessa época, o Ocidente morria de asfixia: foi o que se denominou “doçura de viver”. À falta de inimigos visíveis, a burguesia comprazia-se em atemorizar-se com a própria sombra: ela trocava o seu inimigo por uma inquietação dirigida. Falava-se de espiritismo, de ectoplasmas; rua Le Goff, no número dois, defronte ao nosso prédio, as mesas giravam. Isso se passava no quarto andar: “na casa do mago”, dizia minha avó. Às vezes, ela nos chamava e chegávamos a tempo de ver pares de mãos sobre uma jardineira, mas alguém se aproximava da janela e puxava as cortinas. Louise pretendia que o tal mago recebia diariamente crianças da minha idade, conduzidas por suas mães. “E acrescentava, vejo muito bem: ele lhes faz a imposição das mãos”. Meu avô meneava a cabeça, mas, embora condenasse tais práticas, não ousava ridicularizá-las; minha mãe sentia medo e minha avó, por uma vez, parecia mais intrigada que cética. Finalmente, entraram em acordo: “É preciso, sobretudo, não se preocupar com isso, isso deixa a gente louco!” A moda era das histórias fantásticas; os jornais bem-pensantes forneciam duas ou três por semana a esse público descristianizado que sentia saudades das elegâncias da fé. O narrador relatava com toda objetividade um fato perturbador; dava uma oportunidade ao positivismo: por estranho que fosse, o evento havia de comportar uma explicação racional. Tal explicação o autor procurava, achava e no-la apresentava lealmente. Mas, logo em seguida, punha toda sua arte em nos levar a medir a insuficiência e a leviandade daquela. Nada mais: o conto terminava por uma interrogação. Mas era suficiente: o Outro Mundo estava ali, tanto mais temível quanto não era de modo algum nomeado.SARTRE, Jean-Paul. As Palavras. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964, p. 95.