Sobre bruxaria




"Do que já foi dito podemos retirar a seguinte conclusão: é opinião muito verdadeira e muito católica que existam encantadores e bruxos que, com a ajuda do diabo e em virtude de um pacto com ele estabelecido, são capazes já que Deus permite, produzirem males e danos reais e verdadeiros, o qual não exclui que também possam causar ilusões fantásticas e visões por meio de alguma arte extraordinária e peculiar. Não obstante, o alcance desta investigação acerca da bruxaria, na qual difere muito de outras artes e, portanto considerá-las nada agrega ao nosso propósito, já que aqueles que a praticam podem, com grande certeza, serem denominados adivinhos e charlatães, ao invés de Feiticeiros."
Heinrich Kramer e Jacobus Sprenger. Malleus Maleficarum [O Martelo das Bruxas],1486.

Inquisição

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Historicamente falando

"Historicamente falando, o cristianismo é uma religião de reino, o islã, uma religião de conquista, o judaísmo uma religião de sobrevivência. O cristianismo apresenta, além disso, a particularidade de fundar-se sobre o postulado da existência de um homem (Jesus) do qual nada sabemos. (O valor histórico dos evangelhos canônicos é nulo, seu valor literário ainda mais nulo, enquanto seu valor espiritual é medíocre)."

BENOIST, Alain. 

Passado

O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.
Fernando Pessoa

Memória

Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória.
José Saramago

A ideologia do complô

A ideologia do complô é o ópio dos vencidos. Os vencidos da História explicam porque eles perderam, como a "Ordem Natural" foi substituída pelo domínio do mal. É uma ideologia do ressentimento. É igualmente por onde os perdedores compensam sua amargura: eles são, apesar de tudo, "iniciados"; eles sabem. A formação de uma contra-conspiração de iniciados valoriza-os. Valorização ilusória, que em nada altera a situação, mas que lhes põe um bálsamo nos corações. Que as nostalgias do stalinismo denunciem complôs da Nova Direita, isso não reerguerá o Muro de Berlim nem apagará as catástrofes e os massacres engendrados pelo "socialismo real”.

A ideologia do complô é a recusa do trágico, o sonho de um mundo definitivamente pacificado, de uma "solução final" para o problema da História. À figura transcendente do Mal, essência atemporal da qual os maçons, os judeus e os feiticeiros são apenas os reflexos contingentes, deve se opor aquela não menos transcendente do Bem. O Bem será o retorno à Ordem, à Moral, à Igualdade. Esta escatologia que não tem nenhum nome deve se impor (não é uma questão de livre escolha), sem ser muito mesquinha quanto aos meios, quer se tratem de fogueiras ou de campos de concentração. O Mal age na sombra, de modo desleal; o Bem têm, pois, todos os direitos: "Não há liberdade para os inimigos da Liberdade". Não se combate o inimigo, se o extermina. Se todo conflito é moral, então é preciso atacar definitivamente os escudeiros de Satã, aqueles que se opõem ao desdobramento da ordem natural como um fim da História e triunfo do Bem. O Mal deve ser eliminado para dar lugar ao Bem (o Reich de Mil Anos, a sociedade comunista, a Nova Ordem Mundial). Trata-se simplesmente de legitimar um contra-complô autoritário.

A ideologia do complô repousa, no Ocidente, sobre uma visão de mundo bastante precisa, aquela veiculada por um cristianismo esquecido de sua herança europeia, pagã e plurivocal, e fascinada pela tentação de uma transcendência absoluta, encarnada por um deus único, todo poderoso e colocado fora do mundo. Nesta visão, como na caverna de Platão, o mundo não tem consistência. Ele é apenas o teatro do enfrentamento do Bem e do Mal. A partir daí não se trata de abrir-se para o mundo, de compreendê-lo. É preciso, ao contrário, descobrir o segredo escondido que é dado à priori. Não se procura nunca aquilo que já se sabe. É preciso encontrar as pistas, os vestígios do complô. Trata-se bem de uma visão policialesca e moral do mundo, onde o pensamento é de fato abolido, onde os culpados são apontados de antemão. Trata-se apenas de desmascará-los. Atrás do mundo, é preciso desenterrar o além-mundo, onde está a verdade. A vida é apenas uma busca, uma escuta, uma surpresa. O esquecimento do Ser dá lugar aos alucinados dos além-mundo. A ideologia do complô é o degrau zero da inteligência.


CARLIER, Michel. " La théorie du complot", Points de vue, n° 11, 1994.

Nota: O além-mundo, de Nietzsche: "Um dia Zaratustra arremessou sua ilusão para adiante dos homens, semelhante a todos os alucinados do além-mundo", ou seja, os filósofos idealistas que ele desejava criticar para reafirmar o mundo sensível.

Indulgência Plenária


Natal

O Natal, assim como o concebemos, decorre de uma adaptação da nova religião que surgia, — o Cristianismo —, aos antigos festejos celebrados pelos povos bárbaros à vista do solstício do inverno. Outras comemorações cristãs têm origem semelhante.
Nove meses antes do Natal, a Anunciação de Maria coincide com comemorações feitas em honra à deusa frígia Cibele, identificada com a Natureza. O nascimento de Cristo foi fixado em 25 de dezembro não por acaso de forma a se sobrepor daí por diante (ano I) ao rito que festejava então os 754 anos da fundação de Roma. 
É a História a serviço da Revelação.

Vozes de Joana

Aqueles de minha parte sabem bem que a "Voz" me foi enviado por Deus, eles viram e conhecem esta voz. Até o meu rei e muitos outros têm ouvido e visto as vozes que vêm a mim ... eu vi São Miguel com olhos do meu corpo, como eu vejo a vós. 

Joana D'Arc

Existencial

"No que se refere ao sexo, a redescoberta do seu sentido primário e mais profundo e a utilização das suas possibilidades superiores dependem da reintegração eventual do homem moderno, da sua recuperação e superação das baixezas psíquicas e espirituais a que o conduziram às miragens da sua civilização material. Com efeito, neste estado de degradação, o próprio sentimento de ser-se verdadeiramente homem ou mulher está destinado a apagar-se; o sexo servirá somente para o levar a descer ainda mais; mesmo sem considerar o que diz respeito às massas, o sexo, reduzido ao seu conteúdo de simples sensação constituirá unicamente o lenitivo ilusório, sombrio, desesperado, para a repugnância e a angústia existenciais daquele que enveredou por um caminho sem saída" (Julius Evola, A metafísica do sexo, 1958).

O Estrangeiro

"Ainda na opinião dele, um homem que matava moralmente a mãe devia ser afastado da sociedade dos homens, exatamente como aquele que levantava uma mão criminosa contra o autor dos seus dias". Albert Camus ( O Estrangeiro).

Assim mesmo

Coisas que se escodem nos cantos. Que se deixam ver, apesar dos esconderijos Assim como algumas de nossas emoções, cuja polpa de fruta se prende a espinhos. É o que dói sentir; é o que se sente doer.

Algum anjo por aí?


Procura-se um anjo disposto a prestar um servicinho pouco convencional. Procura-se um, que um só deve bastar. Que seja bem mandado e que saiba assombrar, apavorar, gelar o coração de medo. Um desses anjos cuja bondade é assim digamos meio duvidosa. Não precisa ser do mal, todavia. Basta que seja meio neutro e, sobretudo, bem humorado.
Fundamental, de verdade, é que compre esta briga por mim, que fique do meu lado, que seja tendencioso e claramente partidário da minha causa.
É que eu cansei dos justos.
E ando morrendo de medo de tanta gente que, de uma hora para outra, decidiu fazer o bem... 
Anjo... Hei?!
Tem algum por aí?

Senti falta


Cada vez que alimentava os meus outros bloggers, ficava lançando um olhar comprido de saudade para estes Mestres do Imaginário. A quem escreveu perguntado, contei da estrepolia que fiz ao tentar mudar o modelo. Depois a preguiça de arrumar tudo. Hoje dei um certo jeito, arrumei um pouco a casa e liberei tudo outra vez.  


Foucault pendulum animated

By DemonDeLuxe (Dominique Toussaint) (Own work) [GFDL (http://www.gnu.org/copyleft/fdl.html) or CC-BY-SA-3.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/)], via Wikimedia Commons

Guardar

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. [...]

CÍCERO, A. 2008. Guardar: poemas escolhi- dos. In: A. CÍCERO, Guardar. 4a ed., Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 11

Então, o Freud

"[...] do sentimento religioso do que naquilo que o homem
comum entende como sua religião – o sistema de doutrinas e promessas que, por um
lado, lhe explicam os enigmas deste mundo com perfeição invejável, e que, por outro,
lhe garantem que uma Providência cuidadosa velará por sua vida e o compensará,
numa existência futura, de quaisquer frustrações que tenha experimentado aqui. O
homem comum só pode imaginar essa Providência sob a figura de um pai
ilimitadamente engrandecido. Apenas um ser desse tipo pode compreender as
necessidades dos filhos dos homens, enternecer-se com suas preces e aplacar-se
com os sinais de seu remorso. Tudo é tão patentemente infantil, tão estranho à
realidade, que, para qualquer pessoa que manifeste uma atitude amistosa em relação
à humanidade, é penoso pensar que a grande maioria dos mortais nunca será capaz
de superar essa visão da vida. Mais humilhante ainda é descobrir como é vasto o
número de pessoas de hoje que não podem deixar de perceber que essa religião é
insustentável e, não obstante isso, tentam defendê-la, item por item, numa série de
lamentáveis atos retrógrados. Gostaríamos de nos mesclar às fileiras dos crentes, a
fim de encontrarmos aqueles filósofos que consideram poder salvar o Deus da religião,
substituindo-o por um princípio impessoal, obscuro e abstrato, e dirigirmos-lhes as
seguintes palavras de advertência: ‘Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão!’
E, se alguns dos grandes homens do passado agiram da mesma maneira, de modo
nenhum se pode invocar seu exemplo: sabemos por que foram obrigados a isso"  
FREUD.

Belinha

Ela tem o dom da meiguice. Olha o mundo com ternura, pouco sabe do que não faz parte do seu mundo, e o seu mundo não vai muito além da rua, do passeio, dos amigos que faz ao encontrar, abanar, acarinhar, sorrir.
Belinha é uma fada.
Aprendo tanto com ela. Simplesmente assim, com esse olhar que interroga, porque sabe que nunca se sabe tanto, que nunca se sabe tudo, que muito se sabe apenas de nada. 
Belinha. Doçura e tranquilidade.

Alquimia

Espero que água destilada de um vazamento que passa por outros dois andares tenha propriedades alquímicas. Seja como for, (dis)solve e coagula alguma coisa, embora não ajude em nada na decoração da sala...