A 407

Há lugares mágicos. Eles não são criados por ninguém. Criam-se sozinhos. Neles, as coisas vão se agregando sozinhas e estabelecem entre si uma relação tão harmônica, tão equilibrada, que tudo sugere uma intenção, um motivo, um plano. Mas nada disso acontece. Não que se saiba. 

A 407 era assim, enquanto funcionou. Era um lugar mágico. Tão pequeno, e tão imenso. Tão simples, e tão cheio de complexidade. Eu amava a 407. Cada cantinho, cada livro, cada quadro, cada objeto. Tudo ali tinha uma história única. Tudo ali combinava com tudo. 

A 407 existia sozinha, por ela mesma. E digo mais: a 407 foi o nascedouro dos Mestres do Imaginário. Não tenho a menor dúvida de que eles habitavam aquele lugar. Quem conheceu, não se esquece. Gosto de imaginar que lugares mágicos continuam a existir. 

Bem, seria fácil dizer que existem em nossa memória. Mas não é disso que falo. Imagino uma existência que supera o memorável, e que se inscreva em algum lugar para onde se viaja em sonhos e delírios. A 407. Bem ou mal, olhando para esta imagem, estou lá. 
 

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