O objetivo real da iniciação não é somente a restauração do “estado edênico”, que é apenas uma etapa do caminho que deve levar bem mais longe, pois é além desta etapa que começa verdadeiramente a “via celeste”; esse objetivo é a conquista ativa dos estados verdadeiramente supra-humanos. Para exprimir as coisas de outro modo, diremos que o estado humano deve primeiro ser conduzido à plenitude de sua expansão, para realização das próprias possibilidades (e esta plenitude é que é preciso entender aqui como “estado edênico”). Mas, longe de ser o término, esta será apenas a base sobre a qual o ser se apoiará para “alcançar a estrela”, ou seja, elevar-se a estados superiores. Há, pois, dois períodos a distinguir na ascensão, sendo o primeiro apenas uma ascensão em relação à humanidade comum: a altura de uma montanha, qualquer que ela seja, é sempre nula em relação à distância que separa a Terra dos Céus; na realidade é antes uma extensão, pois é o completo desabrochar do estado humano. O desdobramento das possibilidades do ser total efetua-se, assim, primeiro no sentido de ampliar e, a seguir, naquele de exaltar, para nos servirmos aqui de termos tomados de empréstimo ao esoterismo islâmico. Acrescentemos ainda que a distinção dos dois períodos corresponde à divisão antiga entre “pequenos mistérios” e “grandes mistérios”.
René Guénon, L’ésotérisme de Dante, Gallimard, 1957, pp. 48-49