Julius Evola

O mundo moderno, se ele denunciou a “injustiça do regime de castas”, estigmatizou mais ainda as civilizações antigas que conheceram a escravidão, e tem considerado um mérito dos novos tempos o haver firmado o princípio da “dignidade humana”. Mas trata-se isso ainda de pura retórica. Esquece-se de que os europeus, eles mesmos, reintroduziram e mantiveram, até o século XIX nos territórios de ultramar, uma forma de escravidão freqüentemente odiosa que o mundo antigo jamais conheceu. O que é preciso ressaltar antes de tudo é que, se uma civilização praticou a escravidão em grande escala, esta foi a civilização moderna. Nenhuma civilização tradicional alguma vez viu massas tão numerosas condenadas a um trabalho obscuro, sem alma, automático, a uma escravidão que não teve por contrapartida a alta estatura e a realidade tangível de figuras de senhores e de dominadores, mas que se encontra dominada de um modo aparentemente anódino pela tirania do fator econômico e pelas estruturas absurdas de uma sociedade mais ou menos coletivizada. Fato é que a visão moderna da vida, em seu materialismo, retirou ao indivíduo toda possibilidade de introduzir em seu destino em elemento de transfiguração, de ver aí um signo e um símbolo, a escravidão de hoje sendo mais lúgubre e a mais desesperadora dentre todas aquelas que até agora foram conhecidas. Não é pois surpreendente que as forças obscuras da subversão mundial tenham encontrado as massas forças dóceis e obtusas adequadas à perseguição de seus objetivos. Lá onde elas já triunfaram, em imensos campos de trabalho, vê-se praticar metodicamente, satanicamente, a escravidão física e moral do homem em vista da coletivização e do desenraizamento de todos os valores da personalidade.

Julius Evola
Révolte contre le monde moderne
LES ÉDITIONS DE L'HOMME, Bruxelles, Belgique, p. 146-147.

Observação: Curioso ler o que Evola escreve. É outro autor que atualmente tem chamado minha atenção. É comparável a Guénon no que concerne à defesa daquilo que entende como Tradição. Sem dúvida alguma, além do público esotérico, sua obra possui conteúdo eminentemente político, daí suas reedições constantes no exterior. No Brasil seu trabalho é pouco conhecido, o que não é de lamentar, no entanto, à vista do radicalismo de algumas de suas posições, verdadeiramente deploráveis.