Dia de Santo Antônio

Vede, peixes, quão grande bem é estar longe dos homens. Perguntando um grande filósofo qual era a melhor terra do Mundo, respondeu que a mais deserta, porque tinha os homens mais longe. Se isto vos pregou também Santo António – e foi este um dos benefícios de que vos exortou a dar graças ao Criador – bem vos pudera alegar consigo, que quanto mais buscava a Deus, tanto mais fugia dos homens. Para fugir dos homens deixou a casa de seus pais e se recolheu a uma religião, onde professasse perpétua clausura. E porque nem aqui o deixavam os que ele tinha deixado, primeiro deixou Lisboa, depois Coimbra, e finalmente Portugal. Para fugir e se esconder dos homens mudou o hábito, mudou o nome, e até a si mesmo se mudou, ocultando sua grande sabedoria debaixo da opinião de idiota, com que não fosse conhecido nem buscado, antes deixado de todos, como lhe sucedeu com seus próprios irmãos no capítulo geral de Assis. De ali se retirou a fazer vida solitária em um ermo, do qual nunca saíra, se Deus como por força o não manifestara e por fim acabou a vida em outro deserto, tanto mais unido com Deus, quanto mais apartado dos homens.
VIEIRA, do Sermão de Santo Antônio aos Peixes.

Realidade em si

Nunca se poderá saber o que é a realidade em si, já que,
embora mediante os complicadíssimos instrumentos mecânicos e
técnicos, quem em suma olha, vê e calcula é o homem que os
construiu à imagem e semelhança de seu instrumento último: sua
mente terrena. Poderia mesmo afirmar que com teses opostas,
completamente contrárias à teoria da relatividade, também se teria
chegado à desintegração do átomo, como prova o fato de que os
alemães horbigerianos também produziram a bomba atômica. Na
realidade, toda teoria, todo conceito não é mais do que uma hipótese
de trabalho e a realidade última será sempre inacessível. O que conta
em todo caso, tanto nas ciências quanto nos outros "fenômenos
diferenciados", seria uma realidade arquétipa, pertencente à alma e
que, num momento histórico, ou numa constelação determinada,
impõe-se à realidade inacessível ou a cria, freqüentemente por meios
opostos, com diferentes "hipóteses de trabalho" e até mesmo sem
importar-se com essas, acentuando suas urgências misteriosas.
Arquétipas seriam então a bomba atômica, a desintegração do átomo
e a Tríade (o número "Três") que hoje reaparece no ateísmo comunista
com Marx, Engels e Lenine, tal como sucede com o Pai, o Filho e o
Espírito Santo; e com Brama, Vishnu e Siva.
É por isso que a Magia nunca perdeu sua força essencial, uma
vez que é possível atuar sobre a "realidade" graças à correspondência
existente com a alma, pela lei decorrente do sincronismo e porque,
quando a alma se encontra numa tensão extrema, "apaixonada", cria
as condições "milagrosas" para a transformação, ou transfiguração.
M. Serrano

Livros

Como acontece com os homens, assim sucede também com os
livros: possuem um destino próprio, são como que dirigidos às
pessoas que os esperam, encontrando-as na hora exata. Os livros
vivem, morrem e reencarnam; são construídos de matéria palpitante,
que procura e abre caminho através das trevas, freqüentemente após
a morte de seus autores.
M. Serrano

Elementais

A ação do magista sobre os elementais deve ter como ponto de partida a soberania inteira da vontade sobre o mundo físico. Eliphas Levi resume: quem tem vertigem não ordenará nunca aos Gnomos; aquele que tem medo da tempestade, dos mares e corredeiras será vencido pelas Ondinas; as Salamandras zombam de quem teme o fogo e os Silfos, desprezam quem teme os raios e as ventanias.
Papus

Condessa Keller

A Marquesa de Saint-Yves d'Alveydre. Viúva do Conde Keller, era bonita, integente e muito rica. Sua mãe, também condessa, era irma daquela que se tornou esposa de Honoré de Balzac.

Saint-Yves d'Alveydre

Morreu aos 66 anos, em 1909, este dedicado estudioso da Tradição. Pesquisador independente, suas obras apresentam uma análise absolutamente original da História vista a partir de causas e efeitos refletidos no cenário social e político. Nascido em 1842 em uma família bretã e católica, muito cedo mostrou-se hostil à disciplina, não obstante seu bacharelado em letras bem como um diploma em ciências, o que lhe oportuniza o ingresso na Escola Naval de Brest, onde permaneceu por três anos, saindo por motivos de saúde. Convalescente, vai a Jersey e depois a Londres. Em 1870, a guerra o reconduz à França de onde, desmobilizado mais tarde, ingressa no Ministério do Interior, aperfeiçoando-se em Economia Social. Era curioso, e estudou música, arquitetura e línguas, inclusive o sânscrito. Em 1877, aos 35 anos, conhece aquela que viria a ser sua esposa, a Condessa Keller, episódio que dá à sua vida um rumo decisivo, eis que daí por diante, adquirindo um título nobiliárquico, pode dedicar-se integralmente a escrever e pesquisar a Tradição, produzindo uma vintena de obras que abordam os mais diferentes assuntos. Com a morte da mulher, em 1895, retira-se para Versailles e consagra-se à solidão na qual elabora a obra O Arqueômetro que só veio a ser publicada após sua morte, graças aos esforços da Associação dos Amigos de Saint-Yves e à iniciativa de ninguém menos que Papus, Gérard Encausse.
Elaborei este pequeno resumo com base no prefácio de Ives-Fred Boisset que integra a obra em dois volumes intitulada Mission des Juifs, Ed. Traditionalles, Paris, 1891, também de Saint-Ives.

Raridade


Sexta-feira última ganhei de meu amigo Marciano esta obra que se constitui em autêntica raridade. E me chegou às mãos agora, quando nos últimos dias tenho me ocupado justamente da Mission des Juifs, de Saint-Ives d'Alveydre. Coincidência! São as sincronicidades, como sempre. Quem ama livros sabe que eles nos encontram quando desejam ser lidos ou, no caso deste, decifrado, eu diria, porque creio que ninguém ainda conseguiu definir o Arqueômetro, algo que resumiria princípios de aplicação universal. Pelo que até agora li, percorrendo suas páginas com curiosidade e encanto, o autor nos desafia, a cada linha, a pensar com ele. Quem sabe, repensar o que entendemos por ordem, harmonia e beleza.
É claro que, como toda e qualquer obra nascida do âmago da mais profunda convicção de seu autor, esta também não se abre senão àqueles que a souberem ler com o espírito e com o coração, ou nada ali de inteligível vai ser descoberto. Certamente, existe, sim, algo de sabedoria na aparente insipiência dos homens.

Na insipiência do mundo


Mas como na insipência do mundo fulgura a sapiência do Altíssimo, o sábio observa o insipiente com humildade.
ECO,Umberto. O Pêndulo de Foucault, Record, 1989, RJ, p. 145.

Palavra Perdida

Judá Leon deu-se a permutações
De letras e a complexas variações
E o nome pronunciou enfim que é a Chave,
A Porta, o Eco, o Hóspede e o Palácio
J.L.Borges, El Golem

A Balança Celeste


“O mundo só é estável porque seu motor nos escapa...” ― diz-nos o autor anônimo do Sepher-hah-Zohar.
Se os destinos de nossa civilização são pesados na balança celeste, da qual um dos pratos traz o selo da Providência e outro aquele da Fatalidade, talvez seja assim porque existem, em algum lugar, à sombra de uma cripta sagrada, ou atrás dos muros de um castelo lendário, ou aparentemente confundidos na multidão, Mestres Desconhecidos que, pressentido o jogo cruel desta balança, atiram às vezes em seus pratos, às disputas cruciais de um titânico combate, o peso decisivo de sua misteriosa ação e de sua sabedoria, nos diz E. E. Michelet em seu “Secret de La Chevalerie”.
AMBELEIN, Robert. Le Martinisme, histoire ET doctrine, Ed. Niclaus, Paris, 1946, p. 221.

Livro da Lei

मोंटे Hermom,
1
OH! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.
א שיר המעלות לדוד הנה מה-טוב ומה-נעים– שבת אחים גם-יחד
2
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.
ב כשמן הטוב על-הראש– ירד על-הזקן זקן-אהרן שירד על-פי מדותיו
3
Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre.
ג כטל-חרמון– שירד על-הררי ציון כי שם צוה יהוה את-הברכה– חיים עד-העולם
Jesus