Indra

O aquário desempenha o papel de Indra, o deus das chuvas fertilizadoras, que, no panteão caldeu, corresponde a Ea, o senhor do oceano supraceleste onde se difunde a Sabedoria suprema. Ela se reparte entre os seres humanos pela água que cai das alturas. Daí o caráter sagrado da água lustral e seu papel nas purificações iniciáticas. Os cristãos inspiraram-se nos antigos mistérios, quando obrigavam o catecúmeno a mergulhar na onda batismal, a fim de sair dela lavado de toda sujeira moral e regenerado, ou seja, nascido para a vida cristã, depois de ser morto pela submersão à vida pagã.
Em alquimia, o indivíduo enegrecido à vontade, logo, morto e putrefato, é submetido à ablução. Esta operação utiliza as chuvas sucessivas provenientes da condensação dos vapores que se desprendem do cadáver sob a ação de um fogo exterior moderado, alternativamente ativo e, depois, mais lento. Dessas chuvas reiteradas resulta uma lavagem progressiva da matéria que, do negro, passa ao cinza e, finalmente, ao branco. Ora, a brancura marca o êxito da primeira parte da Grande Obra. O adepto não chega aí senão que em purificando sua alma de tudo aquilo que a perturba comumente. Se, após a renúncia efetiva a si mesmo, ele se liberta de todo desejo equívoco, pode aproximar-se de um ideal de candura de intenções que torna possível a ação miraculosa.
A arte de curar com a ajuda de forças misteriosas fundamenta-se essencialmente sobre a pureza de alma daquele que cura. Desde que se santifique por sua abnegação e por seu devotamento a outrem, operará muito naturalmente verdadeiros milagres; mas ele deve, para esse efeito, desligar-se de si mesmo até a indiferença e sofrer a prova do frio que extingue, no coração do homem, toda paixão mesquinha.
Oswald Wirth