A Kabbala


“Uma doutrina que apresenta mais de um ponto de semelhança com a de Platão e a de Espinosa; que, por sua forma, se eleva às vezes até o tom majestoso da poesia religiosa; que nasceu na mesma terra e quase ao mesmo tempo em que o cristianismo; que, ao longo de mais de doze séculos, sem outra prova além da hipótese de uma antiga tradição, sem outro motivo aparente que não o desejo de penetrar mais intimamente no sentido dos livros santos, desenvolveu-se e propagou-se à sombra do mais profundo mistério: eis o que se encontra, depois de purificada de todos os amálgamas, nos monumentos originais e nos mais antigos fragmentos da Kabbala.” (Frank, 1843, p. 1)

 “Ainda que se encontre na Kabbala um sistema bem completo sobre as coisas e a ordem moral e espiritual, não se pode, todavia, considerá-la nem como uma filosofia, nem como uma religião: quero dizer que ela não se apoia, ao menos em aparência, nem na razão, nem na inspiração ou na autoridade. Ela não é também, como a maior parte dos sistemas da Idade Média, o fruto de uma aliança entre esses dois poderes intelectuais. Essencialmente diferente da crença religiosa, sob o império e, pode-se dizer, sob a proteção da qual nasceu, introduziu-se nos espíritos como que por surpresa, graças a uma forma e a processos que poderiam enfraquecer o interesse da qual é digna, que nem sempre permitiriam convencer da importância que acreditamos ter o direito de lhe atribuir, se, antes de fazê-la conhecer em seus diversos elementos, e, antes de abordar qualquer das questões que a ela se relacionam, indique-se aí precisamente o lugar que ela ocupa entre as obras do pensamento, o lugar que ela deve ter entre as crenças religiosas e os sistemas filosóficos, e, enfim, as necessidades ou as leis que podem explicar a singularidade de seus meios de desenvolvimento.” (Frank, 1843, pp. 38-39)

Frank, A. (1843). La Kabbala ou la philosophia religieuse des Hébreux. Paris: Hachette.

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