Do Objetivo da Iniciação

O objetivo real da iniciação não é somente a restauração do “estado edênico”, que é apenas uma etapa do caminho que deve levar bem mais longe, pois é além desta etapa que começa verdadeiramente a “via celeste”; esse objetivo é a conquista ativa dos estados verdadeiramente supra-humanos. Para exprimir as coisas de outro modo, diremos que o estado humano deve primeiro ser conduzido à plenitude de sua expansão, para realização das próprias possibilidades (e esta plenitude é que é preciso entender aqui como “estado edênico”). Mas, longe de ser o término, esta será apenas a base sobre a qual o ser se apoiará para “alcançar a estrela”, ou seja, elevar-se a estados superiores. Há, pois, dois períodos a distinguir na ascensão, sendo o primeiro apenas uma ascensão em relação à humanidade comum: a altura de uma montanha, qualquer que ela seja, é sempre nula em relação à distância que separa a Terra dos Céus; na realidade é antes uma extensão, pois é o completo desabrochar do estado humano. O desdobramento das possibilidades do ser total efetua-se, assim, primeiro no sentido de ampliar e, a seguir, naquele de exaltar, para nos servirmos aqui de termos tomados de empréstimo ao esoterismo islâmico. Acrescentemos ainda que a distinção dos dois períodos corresponde à divisão antiga entre “pequenos mistérios” e “grandes mistérios”.
René Guénon, L’ésotérisme de Dante, Gallimard, 1957, pp. 48-49

Julius Evola

O mundo moderno, se ele denunciou a “injustiça do regime de castas”, estigmatizou mais ainda as civilizações antigas que conheceram a escravidão, e tem considerado um mérito dos novos tempos o haver firmado o princípio da “dignidade humana”. Mas trata-se isso ainda de pura retórica. Esquece-se de que os europeus, eles mesmos, reintroduziram e mantiveram, até o século XIX nos territórios de ultramar, uma forma de escravidão freqüentemente odiosa que o mundo antigo jamais conheceu. O que é preciso ressaltar antes de tudo é que, se uma civilização praticou a escravidão em grande escala, esta foi a civilização moderna. Nenhuma civilização tradicional alguma vez viu massas tão numerosas condenadas a um trabalho obscuro, sem alma, automático, a uma escravidão que não teve por contrapartida a alta estatura e a realidade tangível de figuras de senhores e de dominadores, mas que se encontra dominada de um modo aparentemente anódino pela tirania do fator econômico e pelas estruturas absurdas de uma sociedade mais ou menos coletivizada. Fato é que a visão moderna da vida, em seu materialismo, retirou ao indivíduo toda possibilidade de introduzir em seu destino em elemento de transfiguração, de ver aí um signo e um símbolo, a escravidão de hoje sendo mais lúgubre e a mais desesperadora dentre todas aquelas que até agora foram conhecidas. Não é pois surpreendente que as forças obscuras da subversão mundial tenham encontrado as massas forças dóceis e obtusas adequadas à perseguição de seus objetivos. Lá onde elas já triunfaram, em imensos campos de trabalho, vê-se praticar metodicamente, satanicamente, a escravidão física e moral do homem em vista da coletivização e do desenraizamento de todos os valores da personalidade.

Julius Evola
Révolte contre le monde moderne
LES ÉDITIONS DE L'HOMME, Bruxelles, Belgique, p. 146-147.

Observação: Curioso ler o que Evola escreve. É outro autor que atualmente tem chamado minha atenção. É comparável a Guénon no que concerne à defesa daquilo que entende como Tradição. Sem dúvida alguma, além do público esotérico, sua obra possui conteúdo eminentemente político, daí suas reedições constantes no exterior. No Brasil seu trabalho é pouco conhecido, o que não é de lamentar, no entanto, à vista do radicalismo de algumas de suas posições, verdadeiramente deploráveis.

René Guénon

Ando lendo Guénon, talvez com outros olhos, porque só agora consegui descobrir em seus textos alguma coisa que sempre me escapou em leituras anteriores. Ele tem me surpreendido e encantado. Concordando ou não com as concepções que expõe, fato é que tenho dedicado bom tempo à leitura de seus livros. Quanto mais leio, mais me interesso pelo que diz e, especialmente, pela forma como diz o que diz.
Ele é exigente. Quero dizer com isso que não admite leitores distraídos, pois seus textos são complexos e bastante explicados, exigindo do leitor que se coloque ao menos em sintonia com o sentido exato das palavras que emprega num contexto explícito. Guénon fala para o que atuamente pode ser definido como um "público" todo seu. O mais interessante em sua obra é que não está atrás de prosélitos. É como se falasse para quem já compartilha de seu pensar, pensar este que reflete a profunda decepção do adepto frente à modernidade, ao individualismo, às mudanças sociais que emergem do que qualifica como uma idade das sombras. Guénon tem um vezo político, e não é de surpreender que sua obra tenha extrapolado o contexto de ordem iniciática.

Palavra Perdida

É sabido que, em quase todas as tradições, alude-se a alguma coisa perdida ou desaparecida que, sejam quais forem as formas com as quais se as simboliza, tem, no fundo, sempre o mesmo significado. Poder-se-ia mesmo dizer que os mesmos significados, já que, como em todo simbolismo, existem vários, ainda que de outra parte estritamente aparentados entre si. Na realidade, trata-se em todos os casos, de uma alusão ao obscurecimento espiritual que, em virtude das leis cíclicas, sobreveio no transcurso da história da humanidade. É, antes de tudo, a perda do estado primordial e também, por uma conseqüência imediata, a perda da tradição correspondente, pois dita tradição não era senão que o próprio conhecimento essencialmente implícito na posse desse estado.
René Guénon. PALAVRA PERDIDA E NOMES SUBSTITUTIVOS
Artigo publicado originalmente na revista Études Traditionnelles, julho a dezembro de 1948. Posteriormente em Études sur la Franc-Maçonnerie et le Compagnonnage, tomo II, París, Ed. Traditionnelles, 1956.

Arcano IV



O IMPERADOR é, com efeito, o PRÍNCIPE DESSE MUNDO; ele reina sobre o concreto, sobre aquilo que está corporificado, de onde o contraste entre seu império inferior, logo, INFERNAL, no sentido etimológico da palavra, e o domínio celeste da IMPERATRIZ, exercendo-se diretamente sobre as almas e os puros espíritos. Em oposição, os corpos permanecem submissos ao IMPERADOR que os anima e os governa após havê-los construído. Ele corresponde ao Demiurgo dos platônicos e ao Grande Arquiteto dos Franco-Maçons. Os seres se organizam e se desenvolvem sob seu impulso: ele é seu deus interior, princípio de fixidez, de crescimento e de ação. É o espírito individual, manifestação objetiva do Espírito Universal, UM em sua essência criadora, mas repartido entre a multiplicidade das criaturas.

O. W.

Contituição de Anderson

Não há maçom que não tenha ouvido falar na Constituição de Anderson, e não acredito que exista alguém que não reconheça o encanto de sua linguagem, como expressão de um ideal. Documento verdadeiramente digno de nota, vale uma leitura. Está no meu Scribd a partir de hoje.
James Anderson nasceu em Aberdeen, (Escócia), por volta de 1680. Estudou teologia em sua cidade natal, no "Marischal College", onde se tornou "Doutor em Teologia". Era presbiteriano, a religião então dominante na Escócia. Antes de 1710 vai residir em Londres, onde mais tarde adquire direitos de vicariato de uma Capela Presbiteriana onde pregou até 1735, tornando-se muito conhecido entre os londrinos pelas pregações, muitas delas publicadas em folhetos. Anderson sofreu perdas econômicas e estava pobre em 1720, tendo de recorrer aos seus Irmãos Maçons para quitar suas dívidas. Sua obra mais importante de ficou conhecida como "Constituição Maçônica de Anderson", que publicou às suas expensas no ano de 1723, época em que era Venerável da Loja nº 17. Consta que nunca se soube em qual Loja Anderson foi iniciado. É provável que ainda tenha sido na Escócia, pois já era maçom quando se filiou a uma Loja londrina. Na reunião da Grande Loja de 29 de setembro de 1721, onde 16 Lojas estiveram representadas, Anderson foi encarregado de estudar as cópias das antigas constituições góticas, consideradas falhas, e fundi-las em Carta Magna mais concisa e clara. Em 17 de janeiro de 1723 a Grande Loja aprovou a Constituição já impressa, nomeando Anderson Grande Vigilante. Em 1723 o nome Anderson também consta dos registros da Loja: "Horne Tavern", de Westiminster e em 1725 no da "Lodge of Salomon's Temple" de Hemmings Row. Morre em 1º de junho de 1739. Dele se diz que “desapareceu assim o Maçom que mais serviços prestou à Ordem, que em vida nunca mereceu o menor apoio, prestígio e agradecimento, e que pelo contrário foi atrozmente combatido, mas que acabou sendo o único, cujo nome nunca foi e nem será esquecido”.

Graus de Perfeição

GRAU 4 – MESTRE SECRETO
GRAU 5 – MESTRE PERFEITO
GRAU 6 – SECRETÁRIO ÍNTIMO
GRAU 7 – PREBOSTE OU JUIZ
GRAU 8 – INTENDENTE DOS EDIFÍCIOS
GRAU 9 – CAVALEIRO ELEITO DOS NOVE
GRAU 10 – CAVALEIRO ELEITO DOS 15
GRAU 11 – SUBLIME CAVALEIRO ELEITO ou CAVALEIRO ELEITO DOS 12
GRAU 12 – GRÃO-MESTRE ARQUITETO
GRAU 13 – CAVALEIRO DO REAL ARCO
GRAU 14 – GRANDE ELEITO ou PERFEITO E SUBLIME MAÇOM

Os Três Vezes Poderosos Mestres que conheço me entendem, e até levam na brincadeira quando digo que o Presidente de uma Loja de Perfeição sempre é gaúcho, porque é tri. Bem, seja como for, não há muito material disponível. Ao contrário do que ocorre com a Maçonaria simbólica, quando se trata da continuidade do aprendizado no REAA, o material se torna escasso e a pesquisa mais difícil. Quem acompanha o blog viu que neste último final de semana disponibilizei quatro arquivos que vão do 1º ao 14° grau do REAA. Três módulos para Lojas Simbólicas e um para Perfeição. É parte de um material que foi compilado por mim ao longo de alguns anos e que serviu para alguma coisa, sim. Agora parte dele está aqui nos Mestres do Imaginário, nessa série que chamei "SOIS?", disponível logo abaixo.
Ah! Um detalhe. É claro que é bonito pensar em termos de alcançar o grau 33. Mas, sabidamente, toda Maçonaria poderia estar completa se fosse possível aos iniciados alcançar o conteúdo dos Graus Simbólicos e, dentre estes, meramente a riqueza simbólica do Grau de Aprendiz.

Uma Passagem de Ribot


Para retraçar essa marcha do espírito em direção à unidade absoluta da consciência, da qual a própria atenção mais concentrada é apenas um pálido esboço, nós não temos necessidade de recorrer a hipóteses prováveis, nem de proceder teoricamente e a priori. Eu encontro, no Castillo interior de Santa Teresa, a descrição etapa por etapa desta concentração progressiva da consciência que, partindo do estado ordinário de difusão, reveste a forma da atenção, ultrapassa-se e, pouco a pouco, em alguns casos raros, alcança a perfeita unidade da intuição. Na verdade, este documento é único, mas uma boa observação vale mais que cem medíocres. Ela pode, aliás, inspirar-nos plena confiança. É uma confissão feita por ordem do poder espiritual, é obra de um espírito muito delicado, muito hábil em observar, sabendo manejar sua língua para exprimir as mais finas nuanças.
Eu peço ao leitor que não se deixe derrotar pela fraseologia mística desta observação, de não esquecer que é uma espanhola do século XVI que se analisa em sua língua e com idéias de seu tempo; mas pode-se traduzi-la na linguagem da psicologia contemporânea. Eu vou tentar esta tradução, aplicando-me em mostrar esta concentração sempre crescente, esse estreitamento incessante do campo da consciência, descrito de acordo com uma experiência pessoal.
Há, diz ela, um castelo construído de um só diamante de uma beleza e de uma pureza incomparáveis; entrar aí, habitá-lo, é o objetivo do místico. Este castelo é interior, é em nossa alma; não temos de sair de nós para nele penetrar; mas o caminho é longo e difícil. Para atingi-lo há sete moradas a percorrer; ultrapassa-se os sete degraus da oração. No estado preparatório, está-se mergulhado na multiplicidade das impressões e das imagens, na vida do mundo. Traduzimos: a consciência segue seu curso ordinário, normal.
A primeira morada se atinge pela oração vocal. Eu interpreto: a prece em voz alta, a palavra articulada produz um primeiro grau de concentração, conduz a uma via única a consciência dispersa.
A segunda morada é aquela da oração mental, ou seja, a interioridade do pensamento aumenta; a linguagem interior substitui-se à linguagem exterior. O trabalho de concentração torna-se mais fácil; a consciência não tem mais necessidade do apoio material das palavras articuladas ou ouvidas para não se desviar; são-lhe suficientes imagens vagas de sinais se desenrolando em série.
A oração de recolhimento marca o terceiro degrau. Aqui, eu confesso, a interpretação me embaraça. Posso ver aí apenas uma forma superior do segundo momento, separada dele por uma nuança sutil e apreciável apenas pela consciência do místico.
Até aqui, houve atividade, movimento, esforço; todas as nossas faculdades estão ainda em jogo: agora é preciso não pensar mais, mas amar muito. Em outros termos, a consciência vai passar da forma discursiva à forma intuitiva, da pluralidade à unidade; ela tende a ser, não mais uma irradiação em torno de um ponto fixo, mas um único estado de uma intensidade enorme. E esta passagem não é o efeito de uma vontade caprichosa, arbitrária, nem do único movimento do pensamento entregue a si mesmo; é preciso entregar-se a um poderoso amor, o golpe de graça, ou seja, a conspiração inconsciente do ser por inteiro.
A oração da quietude introduz a quinta morada, e então a alma não produz mais, ela recebe; é um estado de alta contemplação que os míticos religiosos não são os únicos a conhecer. É a verdade aparecendo bruscamente em bloco, impondo-se como tal, sem os processos lentos e longos de uma demonstração lógica.
A quinta morada, ou oração da união é o começo do êxtase; mas ela é instável. É a entrevista com o divino noivo, mas sem possessão durável. As flores apenas entreabrem seus cálices, difundem apenas os primeiros perfumes. A fixação da consciência não está completa, ela tem oscilações e fugas; ela não pode ainda manter-se neste estado extraordinário e contra a natureza.
Enfim, ala atinge o êxtase na sexta morada pela oração de arrebatamento. O corpo de torna frio, a palavra e a respiração são suspensas, os olhos se fecham, o mais leve movimento causaria os maiores esforços. Os sentidos e as faculdades permanecem fora... Ainda que de ordinário não se perca o sentimento [a consciência] aconteceu-me de ficar inteiramente privada disso. Isso tem sido raro e dura muito pouco tempo. Muito freqüentemente o sentimento se conserva, mas experimenta-se eu não sei que perturbação e, ainda que não se possa atuar no exterior, não se deixa de escutá-lo. É como um som confuso que viria de longe.
Entretanto, mesmo essa maneira de ouvir cessa quando o arrebatamento está em seu mais alto grau.
Que é, pois, a sétima e última morada que se atinge pelo vôo do espírito? Que há além do êxtase? A unificação com Deus. Ela se faz de uma maneira súbita e violenta... com uma tal força que se tentaria em vão resistir a esse impulso impetuoso. Quando Deus desce à substância da alma que se torna uma com ele. Não é, na minha opinião, uma distinção inútil esta dos dois graus do êxtase. Em seu mais alto grau a própria abolição da consciência é atingida por seu excesso de unidade. Esta interpretação parece legítima, se a relacionarmos às duas passagens mais acima: aconteceu-me de ser inteiramente privada do sentimento. E essa maneira de ouvir cessa quando o arrebatamento está em seu mais alto grau. Poder-se ia tomar outros empréstimos à mesma autora. É notável que, num desses grandes arrebatamentos, a Divindade lhe apareça sem formas, como uma abstração perfeitamente vazia. Eis ao menos como ela se exprime: Eu direi, pois, que a Divindade é como um diamante de transparência soberanamente límpida e muito maior que o mundo. É-me impossível não ver aí senão que uma comparação literária e uma metáfora. É a expressão da perfeita unidade na intuição.

Ribot, Th. Psychologie de l'Attention. Alcan, Paris, 1913. pg. 142-148. Tradução: Maristela Bleggi Tomasini

Observação: Esta passagem de Ribot é muito interessante, na medida em que aborda a experiência mística do ponto de vista da ciência. Ribot, vale dizer, é considerado o fundador da psicologia científica francesa. Ribot também era formado em Filosofia e foi o responsável pela introdução da psicologia experimental na França. Trabalhou em psicologia clínica em conjunto com psiquiatras, com o intuito de relacionar as doenças mentais a bases orgânicas. É dele um conhecido enunciado sobre a memória: as recordações mais recentes, mais complexas e sem significado afetivo desaparecem mais depressa do que as recordações antigas, simples e carregadas de emoções.
Difícil a gente encontrar livros dele por aí. Mas eu encontrei sua Psychologie de L'Attention, Alcan, Paris, 1913. Pois bem, dando uma olhada na obra de menos de 200 páginas, me deparei com um trecho interessantíssimo, porque Ribot − indiscutivelmente um homem de ciência, − debruça-se sobre uma passagem de ninguém menos que Teresa de Ávila, a santa espanhola mística, uma mulher culta que deixou uma obra notável onde narra sua experiência mística.
Fiquei tão encantada com o que li que não resisti ao impulso de traduzir e compartilhar essa impressionante e delicada análise.


Basile Valentim

Coisa dos Bons Primos

P. - De onde vindes, meu bom Primo Carbonário?
R. - Da Floresta.
P. - O que tendes feito?
R. - A todo custo tenho providenciado materiais
para acender o Forno.
P. - Que trazeis?
R. - Saúde e amizade a todos os bons Primos Carbonários.
P. - Onde fostes recebido?
R. - Sobre a toalha de linho numa Câmara de Honra de uma Venda Perfeita.
P. - Onde vos fizeram passar?
R. - No meio de uma Floresta, sob as escadas de um forno de carvão
aceso por três Primos Carbonários em uma Câmara de Honra.
P. - E como estivestes preparado?
R. - Decentemente vestido, mas vendado.
P. - Fizestes alguma viagem?
R. - Fiz duas: Uma pela Floresta e a segunda pelo meio do Fogo.
P. - Que significa a primeira viagem pela Floresta?
R. - Que a vida humana está cercada de perigos, e para evitá-los, todo
bom Carbonário deve ser vigilante e atento.
P. - Que significa a segunda viagem?
R. - Essa viagem feita no meio do Fogo indica que o coração dos bons
Carbonários deve ser purificado de toda impureza, que deturpe e corrompa os bons costumes.
P. - O que observastes depois destas viagens?
R. - Fui conduzido vendado à Venda, para revelar o meu nome, sobrenome,
nacionalidade, idade, religião, condição e local de minha residência atual.
P. - O que levavam os que vos receberam?
R. - Água, Terra e Folhas.
P. - Que significam essas coisas?
R. - Que sem preparar os materiais não se pode construir os Fornos e acender os
Carvões.
P. - Introduzido na Venda, além de vosso nome e sobrenome, qual o outro que
pronunciastes?
R. - De joelho dobrado diante do Trono proferi o meu Juramento, fui desvendado e
instruído nos Sinais, Toques e Palavras.
P. - Quais são os Sinais?
R. (responde com os sinais)
P. - Quais são as Palavras?
R. - Não sei todas, dizei-me a primeira, que vos digo a segunda. (pronunciam
mutuamente)
P. - Qual é o Toque?
R. (responde com o toque)
P. - O que significa o Tronco?
R. - O céu e a redondeza da Terra.
P. - Como compreendeis essas imagens?
R. - Na superfície da Terra estão espalhados todos os bons Primos
Carbonários e o Céu, com a sua abóbada, nos cobre e nos protege.
P. - Que tendes observado sobre isso?
R. - Sete Fundamentos bem colocados e em boa ordem.
P. - E quais são esses fundamentos?
R. - A toalha de linho, a água, o fogo, o sal, a cruz, a lenha e as folhas.
P. - O que significa a toalha de linho branco?
R. - A candura de nossos costumes, essencial a todos os bons Carbonários.
P. - O que significa a água?
R. - É aquela que se torna sagrada pelo Grão Mestre do Universo, que
os torna seus amigos.
P. - O que significa o sal?
R. - É aquele que nos ensina dele utilizar para impedir a corrupção
causadora do vício em nossos corações, não somente nos bons Primos Carbonários, mas
também em todo o restante da humanidade.
P. - O que significa o fogo?
R. - Que o coração dos bons Carbonários deve estar sempre aceso com as chamas da
caridade e da máxima da sublime moral de fazer aos outros o que
queremos que façam a nós mesmos.
P. - Que significa a cabeça cortada do lobo?
R. - É o destino reservado aos que tentarem perturbar nossos pacíficos
trabalhos.
P. - Que significa a cruz?
R. - Que não se alcança a virtude senão por meio da grande labuta, a
exemplo do nosso Grão Mestre, que com a cruz nos uniu a Deus.
P. - Que significam as lenhas e para que servem?
R. - São os primeiros materiais para acender o Forno.
P. - Que mais haveis observado?
R. - Um lenço branco e uma porção de terra: também vi o fio, uma coroa
de espinhos e algumas fitas.
P. - Que significa o lenço branco?
R. - A pureza e a candura de coração dos bons Primos Carbonários.
P. - Para que serve a terra?
R. - Para tapar o Forno.
P. - Que significa o fio?
R. - A cadeia mística, que amarra e une os bons Carbonários por meio da virtude.
P. - Que significa a coroa de espinhos?
R. - Que os bons Primos Carbonários devem misticamente com ela ornamentar a fronte
para lembrarem-se que a eles é proibido pensar contrariamente à virtude, à religião e ao Estado.
P. - Que significam as fitas?
R. - Os atributos principais da Sociedade Carbonária e as vestimentas
dos bons Primos.
P. - De que cores são as fitas?
R. - Azul, vermelho e preto.
P. - Que significa o azul?
R. - O fogo do Forno.
P. - Que significa o vermelho?
R. - A chama do Forno.
P. - Que significa o preto?
R. - O carvão do Forno.
P. - Qual é o significado místico destas várias cores?
R. - Azul significa esperança, vermelho caridade e o preto a fé.
P. - De que material foi feito o primeiro Carvão?
R. - Do feto e da urtiga.
P. - Sois Aprendiz Carbonário?
R. - Como tal me reconhecem meus Mestres.
P. - Quanto tempo é necessário para fazer um Aprendiz?
R. - Nove sessões.
P. - Com quem trabalham os Aprendizes?
R. - Sob a direção dos Mestres.
P. - Que significa o sinal do Aprendiz?
R. - A fé dos bons Carbonários.
P. - Que significa o modelo pendurado na vestimenta?
R. - A vara do Forno.
P. - Como se corta lenha?
R. - Ao modo do modelo com a vara.
P. - Que significa o Chapéu em Venda?
R. - O forno coberto.